Nem sempre a coisa corre como
queremos, e aí, resta-nos pensar no que correu mal, no que poderia ter corrido
melhor, levantar a cabeça e seguir em frente.
A Vadia Mini Skyrace, foi o
regresso aos trilhos após uma longa paragem, também um pouco feita de forma a
ver como estava, e digamos que um treino para a Freita Skyrunning, essa sim,
seria a prova que queria deixar, dar, e entregar tudo de mim, não para
resultado pessoal, mas sim pela equipa Vale Correr. Queria assegurar que era um
dos que contribuía, ou tentaria contribuir para chegar ao pódio de equipas, se
possível ao 1º lugar.
Foto da organização |
A partida, feita num local
diferente das 2 primeiras edições, deu-nos a possibilidade de percorrer um
pouco por entre a aldeia, mas que rapidamente nos levaria para o habitual
percurso desta prova. Os primeiros quilómetros eram um excelente aquecimento,
bastante espaço para correr, e caminhos completamente limpos, por um longo
estradão deixando a serra para trás. Somente aquando o inicio da descida, é que
somos despertados para um maior controle da nossa corrida, de onde poderíamos
ou não colocar o pé, nada de muito agreste, mas o suficiente para ter mais
atenção.
Foram cerca de 2 quilómetros a
descer sem grandes problemas, pelo menos até chegar a Cabrum, onde nos fariam
voltar à Felgueira.
O retorno, realizado por caminhos
diferentes ao inicialmente feito, eram mais diversificados e mais bonitos, mas
como era lógico tinha que ser a subir, transpondo pontes, escadas, um pequeno
rio, e alguns muros em pedra já tombados.
Adorava poder dizer que me
diverti ali, mas infelizmente foi uma pequena tortura. O joelho manifestou-se
durante uns metros, e impedia que conseguisse correr normalmente sem dores. Ia
com cerca de 5 quilómetros, e a ideia de ter que abandonar a prova já pairava
na cabeça.
- “Estaria a piorar a situação?”
– “Iria parar logo agora que estava a começar a diversão?”
Abrandei o passo, e ao mesmo
tempo a dor atenuou, sentia melhor, pelo menos do joelho, mas surgia um outro
problema, estava ofegante e sentia cansaço físico e as pernas estavam pesadas.
Comento isso com o João Paulo que
estava a ver-nos passar mesmo na aldeia da Felgueira, indicando que vou bem, ia
em 11º, para abrandar e descansar um pouco naquele que era o segmento mais
corrivel de todo o percurso.
Foto da organização |
Calma, pensei. Caminha um pouco,
respira fundo e deixa o corpo refrescar. Aos poucos ia tentando um trote, até
sentir a respiração mais controlada, e as pernas a responder, vamos lá, agora
sim.
Um longo estradão, deu-me ousio
para puxar um pouco mais, talvez em busca de recuperar algum tempo perdido
atrás. Voltava a ter o andamento enquanto ia ultrapassando alguns atletas, até
recuperar a posição perdida.
Regressava a Cabrum, onde tive
uma curta paragem no abastecimento. Comi e enchi as flasks, e voltava à
corrida.
Finalmente estava a sentir-me
bem, conseguia puxar sem grandes problemas, não estava com quebras, nem com
faltas de energia, comecei a deduzir que o fraco aquecimento que fiz tivesse
tido algum impacto, mas teria que continuar a gerir para a grande subida da
prova.
A gestão foi feita logo que chego
à levada, onde tinha que ter cautela, caso contrário, seria um tombo
monumental, mesmo assim estava a seguir minimamente rápido.
Chegada a Cabrum. Foto da organização |
Chegava à longínqua aldeia de
Paraduça, que indicava a 3 coisas – a primeira, era que todo o esforço até ali
feito, se não fosse bem gerido iria sofrer – a segunda, era a proximidade de
uma subida curta, mas inclinadíssima que era um pré-aquecimento para a subida,
que nos leva ao terceiro ponto, a grande subida. 4 quilómetros que nos
acrescentava cerca de 800 metros de desnível, sem dó nem piedade.
Mas uma coisa de cada vez,
primeiro abrandava um pouco a passada enquanto atravessava a aldeia, até entrar
no longo caminho que nos levava até ao fundo da Freita, às entranhas daquela
serra.
Sem antes ter de enfrentar aquele
pinhal, curto, mas inclinado ganhando 100 metros de desnível em pouco mais que
400 metros de distância.
Não saí dali com pernas nas
perfeitas condições, mas ainda com capacidade, capazes de continuar. Não
desatei a correr, faltava uma louca descida. Aquela que sempre me fez confusão,
e sempre irá fazer, visto ter uma inclinação entre os 30 e 40%, uma autêntica
parede.
Estava no fundo, nas Berlengas,
cheia de caminhos e pequenas casas em pedra abandonadas, onde já passei por
diversas vezes, sabia o que ia enfrentar, e o que poderia e como deveria fazer
para subir, tinha tudo estudado na cabeça, mas nada nem ninguém antevia aquilo…
Créditos na foto. - Desde lá do fundo... |
Até lá cima. Créditos na foto |
- “Vamos por partes, com calma e sem grandes lamúrias ou excentricidades” – pensei.
Juntava-me a mais dois atletas,
seguíamos em comboio na típica escadaria em pedra irregular que compõe aquele
local. O silencio apenas é interrompido
com a respiração, e com cada passada que damos, enquanto atravessamos as
inóspitas casas. Há um pequeno brinde, uma pequena descida que nos leva até à
travessia do rio, a partir dali não há brindes, não há surpresas agradáveis,
nada. Apenas escalar e subir, trepar até ao ponto mais alto.
São cerca de 200 metros, mais
coisa menos coisa, onde a única função que é possível de fazer é trepar. Não
ter alguma base de apoio sólida onde colocar a mão para ajudar a progressão é
um sacrifício para as coxas, toda e qualquer rocha, ou árvore, que possa
colocar a mão é sem dúvida a única coisa agradável que aquele local tem. Esteve
sempre uma manhã fresca, com o sol por vezes a espreitar, mas sem ser forte o
suficiente para incomodar. Não que ele conseguisse atingir ali naquela
“fundega”, mas o ar, esse elemento era insuportável.
Antes uns dias ia vendo o tempo
para sábado, sempre a pedir que não chovesse, mas naquele momento rezava por
uma pequena brisa fresca. Parecia que tinha entrado numa sauna, ar pesado e um
calor imenso, dificultava a respiração e aos poucos a progressão, sentia-me
acabado e sem energias.
Perguntava a quem vinha atrás se
queria passar, quando me respondem que não, que vão bem naquele ritmo. Mas eu
não, não ali, não naquele dia, era um dia não.
Logo que termina toda aquela
tortura, entramos na crista daquele vale, seguindo por um caminho não tanto
inclinado como o anterior, mas inclinado, não tão técnico como o anterior, mas
técnico dadas as circunstâncias.
Aquele inicio de subida, não só
me derreteu as pernas, como a cabeça, fiquei sem reacção, sem pensamentos,
vazio. Estava derrotado.
Até que se deu o clique, alguma
coisa estava mal e tinha que perceber o que era rapidamente, reparava que tinha
transpirado em abundância, tinha a roupa colada ao corpo, e a reserva de água
estava mesmo a terminar, e o abastecimento que havia na divisão da subida,
ainda faltava.
Vou mandar um gel abaixo, esse
pensamento bastou para perceber que nem o meu estomago estava para aí virado,
substituo então por uma barra, que assim que a dou uma trinca deu para perceber
o estado em que me encontrava, a desidratar. O grupo que ia a liderar naquela
subida acabaria por seguir, enquanto eu ficava para trás, sem força sem nada.
Teria então o pensamento mais correcto para o meu bem-estar, no abastecimento
terminava, ali ficaria, e desistia.
Continuar naquele estado iria ser
um sofrimento total, e não estava disposto a isso.
Assim o fiz, logo que chego ao
abastecimento, falo com quem ali está, e digo que ali fico, enquanto me tenta
convencer do contrário.
Mantenho a palavra, até ele
perceber que estou mesmo decidido. Restava beber água, comer, e continuar a
beber água, enquanto vejo imensas pessoas a prosseguir caminho. Acho que em
circunstâncias normais, teria chegado ao final em boa posição, mas isso fica
apenas na minha ideia e nunca saberei se o conseguiria. A prova tinha terminado
para mim, parei o relógio, e cumprimentava a malta que me vinha perguntar o
porquê de ali estar.
A malta da equipa ia chegando, e
vinham ter comigo, viam que estava bem, e continuavam para lutar pelos
objectivos, tanto de escalão, como de posição feminina.
Até aparecer o Paulo e Roni,
chegaram e vieram ter comigo, naquela altura já me sentia melhor, já tinha
hidratado e comido, estava claramente renovado. Insistiram comigo para
continuar com eles, que iam devagar, também não havia outro método dado a
continuação da subida, e acabei por ceder.
A derrota espalhada na minha cara. Foto da organização |
A prova já tinha terminado para mim, por companheirismo e por desportivismo acabei por continuar e desfrutar dos trilhos de forma diferente, da forma que desfrutava quando me iniciei nisto.
Inicialmente ainda me fez
confusão aquela subida, e deu-me a sensação que não estava preparado, o facto
de ter estado sentado, travou-me as pernas, e só após alguns metros, consegui
com que estivesse mais solto. Em caminhada lá fui progredindo rumo ao topo,
mesmo no alto de uma crista bem saliente.
A passagem nas escarpas,
significava o fim da fase mais complicada, dali para a frente, tudo melhorava,
a começar pelo abastecimento numa zona mais plana, e só depois subir um pouco
mais até à torre meteorológica.
Foi ali, no abastecimento que o
Paulo seguiu e fiquei com o Roni, ele que agora acusava caibras, e que não
estava a conseguir correr minimamente sem sentir um pouco de dor, fiquei para
trás, agora eu a puxar por ele, até ao final.
Radar meteorológico. Foto da organização |
Logo após a torre, e por distracção,
seguimos o trilho errado, e 200 metros depois, tivemos que voltar para trás.
Descemos então até à aldeia da Castanheira, que nos levava à descida para a
meta. Num pequeno carreiro, sob várias pedras prosseguimos até à aldeia da
Felgueira.
Foi de facto um dia não, apesar
de ter terminado, não foi da forma que queria, ou da forma que pretendia fazer,
não consegui contribuir para o troféu da equipa, mas que os restantes atletas
se esforçaram para o ganhar, numa prova que continua fiel a si mesma, bestial.
Vale Correr em grande |
Depois de tanta pancada e tanto desânimo, enganar no caminho é o derradeiro murro no estômago que te estava a faltar! Quando é a próxima corrida de montanha? :)
ResponderEliminarPedro Viana
https://andaviana.wordpress.com/
Foi sofrida sim, mas lá a fiz.
EliminarEntretanto já fiz mais uma de montanha.
A próxima só para Janeiro, (Vouga Trail).
Abraço