terça-feira, 31 de dezembro de 2019

São Silvestre do Porto - Uma imensidão


Gosto sempre daquele sabor das corridas de fim de ano. As São Silvestre, aquela designação que é usada em imensas provas por todo o país, e que pretendo todos os anos fazer uma diferente, apesar de não ter sido o caso, acabando por voltar à primeira em que participei já em 2016.
Tinha todas as condições para fazer em tudo, melhor prestação que há 3 anos atrás, não fosse a inexperiência da altura, e o recente empenho mais sério nos treinos.
Estava sem objectivo, sem foco, apenas divertir-me e tentar deixar algo de mim ali, pelo menos era esse o pensamento antes do tiro de partida, que acabou por desvanecer ainda uns 45 minutos antes da hora de arranque.
É uma imensidão, um aglomerado enorme de pessoas que se juntam aos já imensos turistas que percorrem as ruas do Porto, e o facto de estar mais atrás, ou mais à frente nesta prova é o suficiente para perder ou ganhares tempo ao quando estás na estrada.


Avenida dos Aliados. Foto da organização

Faltavam pouco menos de 1 hora quando abriram os pórticos de partida, e tentando colocar-me o mais na frente possível, obrigou-me a não ter aquecimento, e uma longa espera no meio de uma confusão de atletas que ali aguardavam como eu.
Uma vez ali dentro, com tempo de sobra, foi o primeiro indicio de que aquele palavreado de passear iria ser para esquecer, e a prova iria para ser feita com a faca nos dentes.
Faltava 2 a 3 minutos para a partida, e sentia um arrepio, estava um ambiente incrível, com tanta gente a correr, como a ver, fazendo um corredor enorme pelas ruas do Porto.
O que já não achei incrível, foi a forma como se sucedeu os primeiros quilómetros, o que já estava à espera dado a grande enchente, e o arranque em frio.

Tentei ali dispersar-me com mais rapidez que o normal, mas era impossível, parecia que estava numa prova de trail, com saltos e desvios repentinos, como se houvessem raízes ou pedras que atrapalhassem, apenas para tentar ultrapassar só mais alguém no meio de tantos.
Foram 3 quilómetros disto, onde tentava sair de uma zona carregada de pessoas, tentando aquecer, entre subidas e descidas.
Só ao 4º quilómetro é que consegui estabilizar num ritmo já próximo do normal, mas mesmo assim não dentro do que pretendia, as grandes e complicadas subidas já haviam ficado para trás, agora era tudo acerca de longas rectas, onde já sabia que teria hipóteses de recuperar algum tempo.
As ruas continuavam incríveis, havia sempre alguém, nunca nos sentíamos sozinhos, ou abandonados, e davam animo para não abrandar.


Foto da organização

A passagem pelo abastecimento, ditava o meio da partida, e para mim o tentar meter um ritmo mais forte, e fazer uma segunda parte mais rápida.
Pouco apreciava ou via em que ruas andava, apenas estava focado em manter um ritmo certo, e tentar com que a faca não saísse da boca. Se na primeira metade, foram essencialmente subidas, aqui eram essencialmente descidas e planos, e era nas descidas que tentava abusar, ainda que contido, e nos planos que tentava manter a velocidade. Assim que vejo o placar do 8º quilómetro, sabia que estava feito, agora seria uma questão de qual o tempo final, mas teria que ser abaixo dos 40 minutos, desse por onde desse.

Chegava ao túnel dos Almadas e restava pouco menos de 1 KM para o final, a descida fila mais abruptamente, e lá em baixo tentava manter um ritmo constante de forma a recuperar um pouco a caixa, para a subida que nos fazia sair dali.
Doeu, mas saí do túnel, faltava descer até aos Aliados, contornar e subir até à meta.
Este era o momento mais alto da prova, onde se preenchia um autentico corredor humano com uma presença incrível de apoiantes até à meta.
Essa, só vi assim que contornei os Aliados, e comecei a subir, mesmo no cimo da Avenida, com o relógio a contar 39 minutos e alguns segundos. Não percebi os segundos à primeira, e foi então que decidi dar tudo o que restava naquela subida e chegar antes dos 40 minutos oficiais, que o liquido já sabia que ia ser abaixo.


Saída do túnel. Foto da organização

É sem dúvida das provas mais incríveis que fiz, tanto pela moldura humana que tem, como por toda a envolvência de atletas e apoiantes, fazendo provavelmente a prova mais ou das mais repletas a nível nacional. O único senão, é o facto de ter imensa gente, que congestiona mesmo em vias com várias faixas.
Foram os últimos cartuchos de 2019, aguardemos por 2020.


Foto da organização

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Mamoa River Trail - Sabor agridoce


Quase de faca nos dentes, não literalmente, nem tão de perto o que se entende quando se cita uma expressão como esta. Basicamente queria deixar tudo de mim ali, dar o que conseguia, mesmo sabendo que apesar de ter capacidades para terminar, não tinha a velocidade que realmente queria. É a estreia de uma prova que percorre caminhos semelhantes ao Trail Medieval, mas que continha 1200 D+ em 25 KM. Tendo em conta que não é uma zona com serras de grande elevação, só conseguia imaginar um trajecto em forma de carrossel, com subidas e descidas repentinas, curtas e inclinadas.

A manhã era fresca, aliado ao facto de estarmos junto ao rio, o calor era completamente inexistente, e apenas uma breve corrida me fez ganhar algum calor para não arrancar frio, e abafar em pouco tempo.
Aproximava-se a hora, e uns 80 a 90 atletas colocavam-se atrás do pórtico aguardando o tiro de partida, para de seguida dar uma pequena volta pela praia fluvial de Mâmoa.
Não percebi bem o que queriam com aquela volta ali, provavelmente um pequeno aquecimento para o pessoal todo, uma forma de dispersar a malta, não sei…
Mas acredito que tenha sido esta última, por entrarmos logo num trilho um pouco mais apertado.
Trilho maiormente em terra e pedra cravada à superfície, fácil de correr e de rápida progressão, atravessa rio aqui e ali sob pedras e vou progredindo sem problemas.


Méééé - Créditos na foto

Os trilhos iam-se moldando, mas na sua grande maioria feitos por single tracks, o que adoro, diga-se de passagem, mas que dificultam por vezes a progressão por serem irregulares, ou alguém ir mais lento e não haver chance para passagens sem por em perigo alguém.
No entanto não era o meu caso, ia bem disperso, e chegado à primeira subida ia na frente de um pequeno grupo de 3 atletas, sendo perseguidos uns metros atrás por um outro de 4 ou 5 elementos.
Foram aproximadamente 200 D+ em pouco mais que 2 KM, existindo por vezes 30% de inclinação, que obrigava a uma maior amplitude de movimentos.
Uma vez no cimo, a descida não tardava, e estava a comprovar-se a minha teoria, subidas e descidas rápidas e curtas.

Descida até ao primeiro abastecimento, com pouco mais de 5 KM, achei demasiado cedo, e apenas agarrei num pedaço ou outro de comida e arranquei.
Voltei a tentar recuperar o lugar onde até ali vim, e voltava à subida, desta vez não tanto agressiva, ligeiramente mais rolante pelo largo estradão.
Até ali estava tudo a correr na perfeição, apertava bem na subida, e quando não conseguia colocava uma caminhada mais forte, e descidas eram feitas mais rápidas que o normal.
Felizmente e apesar do temporal dos últimos dias, o terreno não esteve escorregadio como pensava, mas ia com alguma cautela. A única coisa que me estava a falhar, eram as marcações, não que estivesse mal fitado, mas por não haver reforço de fitas em cruzamentos, ou desvios do caminho, tendo enganado por diversas vezes, ainda que em poucos metros, mas que obrigava a parar e procurar.


Vale Correr

Nesta altura já havíamos deixado para trás um dos elementos do grupo, ficando eu também pouco depois. Numa das decidas acabei por perder o contacto e já seguia sozinho, mas ainda que perseguido por mais 4 ou 5 elementos. Não parava, e mantive sempre corrida forte o quanto possível sem implicar um desgaste completo.
Obviamente acabaria por ser ultrapassado, a gasolina estava a entrar na reserva, e não estava a alimentar como deveria, e com aproximadamente 12 KM, fico à minha mercê vendo os restantes a distanciar-se.
Pareceu-me ter afectado aquele momento, parece que tinha quebrado, e só estava à espera de rebentar, não estava com grande motivação, mas ao mesmo tempo ainda continuava a lutar. Ainda faltava muito para terminar, e a prova disso era ainda ir apanhando alguns pelo caminho, mas sem sinal de vista do grupo em que seguia.
O segundo abastecimento era junto à capela de São Marcos, o que significava subir uma colina em terra, com rochedo cravado para dificultar a progressão.
Foi o abastecimento que demorei mais tempo de toda a prova, ainda que por uns breves 1 a 2 minutos.
Metia-se de imediato mais uma descida onde me enganei uma vez mais por não conseguir ver as fitas, e tive que avançar uma pequena vegetação para chegar ao caminho certo.
Estou mais moralizado, e volto a acelerar a passada, as subidas que vão surgindo já se fazem com mais facilidade novamente, as descidas também igualmente mais solto.


É para subir sim. Créditos na foto

Pensava que o pior já estava feito, mas ainda restava algumas subidas, e esta primeira que nos levava ao ponto mais alto da prova, começava com um suave zigue-zague. A coisa é minimizada, com um sobe e desce ligeiro ali pelo meio, como a falsa fé, até nos presentearem com mais uma subida, só que agora a direito, por entre árvores pedras, sem caminho. Não que fosse demasiado inclinada e/ou longa, mas dado massacre que levava de trás já sentia um inchaço junto aos joelhos.
Foram uns míseros 150 metros ganhos, em quase 1 quilómetro, e quando pretendia e queria descansar o quer que fosse, não dava, a descida estava logo ali, inclinada, mas pelo menos rolante, e de forma a que conseguia recuperar algum tempo perdido. Passava algum pessoal da prova de 15 KM, e isso acabaria inevitavelmente por tornar-se um objectivo. Não menosprezando ninguém, mas aquilo estava a tornar-se claramente uma motivação para mim, não ganhando nada com aquilo, mas era uma forma de me animar.


Créditos na foto

Era de facto nas descidas onde estava a conseguir encaixar-me, eram perfeitas para rolar, e conquistavam-me, um trilho bem aberto e com desvios constantes, às vezes somente em carreiros, outras já com o apoio das mãos em árvores, divertia-me, e aliviava a pressão que tinha nos músculos.
Restavam mais 3 típicas subidas e respectivas descidas, não tão longas como as outras era certo, mas inclinadas q.b. para rebentar os músculos por completo. Senti cada pontada dos músculos, e o efeito “bola” que estava a criar uns milímetros acima do joelho, sendo apenas aliviado quando deixava as pernas mais soltas quando descia ou conseguia correr normalmente.
Faltava pouco mais que 2 quilómetros para o final, e já não queria saber da constante pressão dos quadríceps, só queria correr, e o trilho das minas foram uma sobremesa tipo gourmet, deliciosa, mas pequena demais. Um trilho escondido no grande arvoredo, composto de folhas castanhas, e encostas verdes, uma delicia que deveria ser mais duradoura.
Restava apenas mais um single track paralelo ao rio para chegar à praia fluvial, e ali estava ela.

Tive que gerir a prova mais cedo do que previa, e isso levou-me à 22ª posição de uma prova com um inicio agridoce.
Foi uma primeira edição, mas penso que existe malta na organização com conhecimento necessário para perceber que é preciso mais para agarrar os atletas.
Foi provavelmente das provas em que usufrui menos do abastecimento, mas o suficiente para perceber que eram básicos demais, mesmo para uma distância de 25KM. As marcações, foram o que relatei acima, sendo boas, mas com falta de reforço em alguns pontos mais importantes. O percurso em si, está bem desenhado, mas acredito que consigam acrescentar ou alterar alguma coisa para o melhorar. Isto é apenas a minha opinião, baseada naquilo que experienciei.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Europarque Bio Run - Mete lama nisso


É o culminar de 3 provas, Trilhos Termais, Corrida Urbana, e agora o Bio Run.
Já a havia feito anteriormente, mas era prova que não me tinha conquistado, nem me chamava atenção necessária. Sendo a última das 3, com uma classificação final do conjunto, e estava minimamente bem classificado era a motivação necessária que precisava.
Estava em 9ª lugar, a uns míseros 3 pontos da 8ª posição, e também a uns poucos dos restantes, mas tinha que ambicionar apenas uma coisa, e colocar-me a um único objectivo, encontrar o 8º classificado e terminar à frente dele, só assim o ultrapassaria.


Foto da organização

O tempo era o expectável para aquela manhã, chuva e frio, e mal cheguei ao Europarque já a chuva se sentia algum tempo, o que prometia um piso escorregadio quando cruzássemos os trilhos. O percurso é de piso misto, estrada e trilhos, sendo estes últimos com menor percentagem, contudo o suficiente para abrandar quem quisesse andar, ainda para mais com as sapatilhas que levei, que nada apropriadas eram para aquilo que ia fazer.
Já o aquecimento estava feito, quando vejo os blocos de partida a serem preenchidos em massa, tinha que tentar colocar o mais à frente possível, o suficiente para evitar congestionamentos e confusões. Aguardava o tiro de partida, mas sem encontrar o 8º classificado, não o via, teria que ser durante o percurso.

Arrancamos poucos minutos depois da hora, mas com a velocidade de como estivéssemos a recuperar tempo, percorrendo uma longa recta com pouca inclinação.
O retorno já era feito em jeito de recuperação de caixa, até entrar nos primeiros trilhos. Foi logo ali, que vi o 8º classificado, a pouco mais que 100 metros de mim, e onde queria começar a controlar a distância. Os primeiros passos sobre o terreno enlameado, foram o suficiente para perceber a escolha errada no calçado, tinha que ter cuidado para não dar uma queda mais aparatosa.
Saímos rapidamente do trilho, e seguíamos pela longa calçada que percorre o parque, e de repente estava a poucos metros de distância do meu objectivo.
Pausei e abrandei um pouco o ritmo, não seria a altura ideal para atacar, nem para andar já com ritmos mais rápidos.


A voar para a segunda volta. Foto da organização

É uma prova incerta, tanto se esta a subir, como a descer, como em estrada ou em trilhos, é mesmo tudo misturado e sem folga para descanso. A subida em zigue-zague por rampas de acesso, uma descida abrupta em terra para um jardim e a subida em asfalto até ao terreno coberto de lama provavam que não poderíamos descansar, nem com tempo para recuperar o quer que seja.
O piso estava coberto com lama, e sentindo os pés a deslizar, tive que abrandar repentinamente e calcular o próximo passo.
A lama era abundante, o single track que se seguia colado ao rio, era o segmento que mais adorei, mas que era impossível de se fazer sem ver onde colocar o pé.


Junto ao rio. Foto da organização

A saída do trilho não era fácil, numa inclinação do jardim coberta de lama obrigava o uso das mãos para equilibrar e não deslizar por ali abaixo.
A típica volta ao lago era o local ideal para conseguir recuperar algum tempo, mas dado o uso forte das pernas, sentia-as duras, e limitei a manter o ritmo.
Saí de rompante pela escadaria, e seguia em direcção à ultima secção de trilho pela longa subida sobe um passeio.
A terra ali estava mais consistente, não era tão escorregadio, mas nem isso evitava de prever qual o melhor caminho.
E de repente estava na partida/meta, contava 5 quilómetros, e teria que repetir o percurso todo novamente.
Nada que eu já não soubesse à partida, mas que me aborrecia de certa forma, não fosse ter um único objectivo, e que já tinha fugido de vista algum tempo.
A passagem pelo asfalto era feita de imediato em velocidade máxima até ao retorno, local onde o revejo finalmente, e começo a tentar a aproximação.
Entrava no trilho e já o via novamente a poucos metros de distância, mas ainda era prematuro fazer alguma coisa. Apenas controlava a distância e não o deixava fugir, aproximando gradualmente.


Contornando o lago. Foto da organização

Nas rampas de acesso via que estava mesmo a poucos metros de mim, agora era gerir para logo depois poder atacar e avançar. Entrava no asfalto e a aproximação foi tanta, que pensei logo, “está feito”, apenas descolei-me um pouco quando se meteu de novo a secção com mais lama, queria seguir sem ninguém por perto, para não atrapalhar, nem a mim.
Contudo esta parte estava mais complicada, fruto da passagem de centenas de pessoas ali, o single track que ainda era minimamente acessível, estava impossível de correr sem o pé fugir. Estava prestes a terminar aquele terreno mais enlameado, restava subir até ao lago pela mesma subida que me obrigou a usar as mãos na primeira volta.
Agora não foi excepção, mas nem isso me valeu. Assim que estou quase a chegar ao cimo, começo a sentir os pés a fugir, e só paro na base da subida.
Foi o suficiente para perder posições e o contacto com o 8º classificado, as pernas ficaram duras do esforço que fiz para subir aquilo, não conseguia colocar novamente o ritmo que queria. Quando iniciava a última grande subida, já o via a uma longa distância, a entrar no último segmento de trilhos.

Tentei ainda o último quilómetro a ver se conseguia aproximar, mas não deu. Aquele deslize foi o quanto bastou para perder aquela que provavelmente, em circunstancias normais, seria uma vitória para mim.
Apesar de tudo considero ter feito uma boa prova, tendo perdido pelo terreno estar coberto de lama, e consequentemente a má escolha do calçado.

Tendo faltado no ano anterior, penso já ter havido algumas melhorias por parte da organização, contudo, não considero ser o meu tipo de provas de eleição, não sendo uma prova de estrada, nem de trilhos.