terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

24 Horas Portugal

Muitas foram as dúvidas que surgiram se conseguia fazer esta prova. Fazer o máximo de quilómetros possíveis durante 24 horas em que a resistência física e mental é o nosso grande aliado. É uma prova diferente do que estou habituado, daí também o meu interesse em participar. Obviamente que preparação não a tinha, nem lá perto, tendo em conta o meu inicio recente na corrida. Acabei por deixar-me conquistar pelo espírito aventureiro e não quero saber das dúvidas, quero é correr.

- Vamos correr 24 Horas Portugal.



Esta foi daquelas provas que não estava mesmo nada previsto participar, mas mais uma vez o meu primo teve influência na minha participação, como fez no Trail de Braga. Não por convite, mas sim por incentivo em experimentar e viver o espírito daquela que até ao momento foi a prova mais longa que fiz, com pausas é certo, mas já lá vamos.

Sabia que não poderia ir muito longe neste desafio, mas que ia dar o meu melhor desse por onde desse. Foi assim que enfrentei esta prova. O meu objectivo era fazer um teste a mim próprio, ver qual o meu limite, e como o meu corpo reagia a tanta dose. Na minha ideia, estava planeado fazer uma corrida com ritmo moderado intercalando com caminhada em algumas partes que tinham uma ligeira inclinação.
Era um desafio enorme para mim, então não quis arriscar, e optei por fazer a prova desta maneira, e fazer um descanso durante a noite.

Felizmente esteve bom tempo durante a prova. O sol esteve presente, bastante suportável, mas que dava para pôr um bom bronze com a marca da T-Shirt.
O percurso era feito num circuito fechado com 2,13 KM de extensão, onde havia diferentes tipos de pisos, incluindo a passagem em 3 pontes em madeira, que faziam do género de uma lomba, que ao final de algum tempo já pareciam ser paredes para uma bela escalada. Certo que o cenário de passar 24 horas a percorrer o mesmo percurso não era nada admirador, mesmo tendo alguns pontos engraçados, ao fim de algum tempo já cansa. O verdadeiro interesse desta prova é o convívio que existe entre todos os atletas e organização, sendo bastante contagiante.
Pode-se dizer que é o espírito de uma prova de trail, mas ao mesmo tempo diferente, uma festa autêntica!

Existiam vários tipos de prova, correr 24 horas a solo ou em equipa. Para além desta também havia a prova de 3 horas a correr em solo ou equipa. Sabia destas hipóteses, no entanto o desafio tinha que ser em grande, 24 horas a correr em solo!

Vamos ao que interessa. Ao meio dia de 17 de Setembro, era feito o arranque, apenas finalizando no dia seguinte pela mesma hora.
Nesse dia aproveitei a desculpa e deixei-me ficar um pouco mais na cama, mas com tanta coisa ainda por fazer.
Sendo o percurso todo no mesmo local (parque da cidade de Vale de Cambra), havia a possibilidade de os atletas levarem e montarem uma tenda numa zona reservada para o efeito. Eram 10 horas, fui levantar o dorsal e montar a tenda, já deixando assim roupa para poder trocar caso necessitasse. Já se iam vendo alguns atletas, e os pormenores finais já estavam quase concluídos.

Vivendo mesmo perto do parque, voltei a casa para comer alguma coisa, e equipar-me.
Às 11.30h estava pronto e a preparar-me psicologicamente para aquilo. Houve um briefing antes da partida. Tirando alguns repetentes, existiam bastantes estreantes como eu, que supostamente deveria ser mais para nós, no entanto pouco ouvi do que foram falando.
Esta prova teve um crescimento de atletas bastante aceitável, sendo justo por todo o empenho que é demonstrado pela organização.
Existia também uma zona denominada de “paddock”. Era uma área reservada para os atletas alimentarem e descansarem. A alimentação estava incluída na inscrição, para além do abastecimento de sólidos e líquidos existente no decorrer do percurso.

Briefing. (Foto tirada da Internet)

Hora da partida e junto-me aos restantes atletas que ali irei acompanhar, ou tentar, nas próximas 24 horas. O arranque é feito mais contido, e não tão forte como nas habituais provas. Um ritmo mais lento e certo para evitar esforços de uma prova de grande resistência. Fui fazendo o percurso, quase sempre acompanhado, durante 5 ou 6 voltas seguidas até à primeira paragem para descanso, apenas com pequenas paragens para alimentação e hidratação no abastecimento. Ao fim de mais umas voltas, parei para almoçar. Um prato bem servido, para regalo dos meus olhos, mas para rejeição do meu estômago. Começava bem, não me estava a cair nada bem, apesar do esforço para alimentar. Fiz mais uma pequena pausa após o almoço e continuei a minha aventura percorrendo o parque. Ao fim de algum tempo e de já ter visto várias caras conhecidas, dou destaque a uma, Analice Silva, que me fez sentir tão pequenino com tanta força que tem.

Um dia a correr dá para ver e conviver com muitos atletas, e como já ouvi algures esta deverá ser a única prova em que o “último” atleta consegue correr ao lado do “primeiro”. A entreajuda e convivência entre todos, faz relembrar o espírito de trail. Ao longo do percurso tínhamos a passagem na zona das tendas, onde se encontravam alguns a descansar, outros a apoiar. Existia assim um grande apoio entre todos os participantes e equipas que estavam de uma ou outra forma, ligados aquele evento. Após o almoço continuei, e comecei a intercalar a caminhada com a corrida, o calor fez-se sentir um pouco mais forte, no entanto não tendo grande impacto. Mais para o final da tarde comecei a sentir cansaço e um pouco de mau estar. Por falta de conhecimentos e de experiência não tive os melhores cuidados com a alimentação durante o decorrer daquela tarde, o que já perto das 19 horas influenciou na minha decisão de parar. Fui tomar um banho e descansar um pouco e tentar alimentar para recuperar, ou assim pensei eu. Mais tarde voltei novamente à prova para dar apoio a conhecidos meus que iriam iniciar na prova de 3 horas. Enquanto isto, fui ainda alimentar-me novamente, pois sentia alguma fraqueza devido ao desgaste.

Um parque de campismo improvisado!

Acabei por batalhar um pouco mais e dei mais 2 ou 3 voltas ao percurso, mas já com bastante esforço. Acabei por parar e continuaria no dia seguinte pela manhã. Fui dormir.

Eram 7h da manhã e tinha o despertador a tocar. O parque da cidade já me metia confusão, estava fartinho de o atravessar. Estava farto de correr, e estava tão bem na cama, porque me haveria de levantar? A cisma em fazer mais e melhor era maior que a vontade de malandrar, então levantei-me e preparei-me para mais umas voltas. Faltava pouco já para o final.
Quando cheguei, estava a amanhecer, e ainda haviam atletas que corriam, alguns ainda sem dormir. O meu primo era um deles, e assim me juntei de manhã novamente aquele que foi o meu parceiro no dia anterior de várias voltas. Pouco depois foi descansar, continuando eu sozinho repetindo os passos do dia anterior com caminhada à mistura. Apesar de ter ido dormir, pouco foi o descanso durante a noite, noites mal dormidas!

Pouco depois de ter recomeçado, as dores nos pés começaram a fazer-se sentir, e o cansaço começou a vir novamente, ainda suportável lá continuei. Houve algumas paragens que fiz pelo meio, mas já me sentindo bastante melhor em relação ao dia anterior esforcei-me e consegui continuar. A meio da manhã já começavam a chegar várias pessoas de fora para nos apoiar.
Houve ocasiões de passar junto das tendas e ouvir o apoio de uma equipa que lá estava – “Força atleta!”

O sol começa a aquecer a manhã fresca, e temos de começar a enfrentar novamente o calor mais perto da hora final.
O apoio externo esteve quase sempre durante a prova, alimentando assim a força mental para continuar, e de manhã não faltou e continuou.
Foram uma grande ajuda nesta parte final, deram-me bastante apoio. Tive inclusive a minha mãe a correr comigo, ela que tinha feito as 3 horas no dia anterior.
Já quase a terminar as 24 horas decido fazer mais algumas a muito custo. As pontes que falei inicialmente já pareciam verdadeiras montanhas. A última volta foi o sabor da vitória na superação individual, consegui testar-me e viver uma aventura que tem que se repetir. A experiência que transcrevo aqui foi resumida e não se consegue descrever os momentos que se sente depois daquelas horas todas.
O final daquelas horas todas, são de ficar na memória, lágrimas em vários rostos, abraços de grupos, bandas que se juntaram às equipas e começaram a tocar música assim que terminavam a última volta, enfim, uma festa em volta de uma corrida que de prova de competição passou a ser mesmo uma festa que merecia ser celebrada.
Valeu pela experiência que ganhei, e conhecimento de como me adaptar melhor a este tipo de provas.
Não tinha planeado quantas voltas iria fazer, mas tendo em conta a pausa para descanso e tudo o que dei acho que foram as suficientes.
Terminei com 36 voltas ao percurso, contabilizando quase 77 KM na totalidade. Não sei se com isto posso ser considerado ultramaratonista, mas opto por não o ser. Cada coisa a seu tempo!


Nota final: O caminho de volta a casa foi feito a caminhar. O que seria feito entre 5 a 10 minutos a pé, foi feito mais ou menos em 30 minutos. Raios dos pés!

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