Para
este ano, ou pelo menos para o inicio do ano o objectivo era participar em mais
provas de trail. Felizmente estive em condições para tal e não tive grandes
queixas a nível muscular tendo em conta as recentes provas. Assim, uma vez mais
fiz-me à estrada para mais uma corrida em trilhos, na Branca.
Era
a primeira edição da prova, e mesmo com duas distâncias, 26 KM a mais longa, e
14 KM a curta, não houve grande afluência. O facto de sermos poucos, pode
significar que haja menos confusões em abastecimentos e em alguns trilhos mais
estreitos, o que até se torna mais confortável para quem participa. O que se
veio a confirmar.
Ambas
distâncias arrancam à mesma hora, e com alguns minutos de atraso deu-se a
partida.
Com
ritmo baixo e certo vou afastando do complexo desportiva da Branca onde era
dada a partida, para logo de seguida entrar num estradão largo numa das matas
que ali o rodeiam.
Era
em terra batida, e apesar de não sermos muitos, éramos os suficientes para levantar
bastante pó. O pó aliado ao bastante calor que se encontrava naquele dia era garganta seca com toda a certeza.
O
inicio é bastante rolante com algumas descidas, onde comecei a abusar um pouco
aumentando o ritmo e sair dali disparado. Seguimos em direcção ao rio Caima, e
finalmente um pouco de ar fresco e uma bonita paisagem sobre o grande caudal do
rio na base da indústria, já abandonada, daquela região.
Como
seria de esperar, e ao contrário do que fizemos até ali, onde se corria e
descia bastante, agora seria para subir. E subir como? Por escadas obviamente.
Numa longa extensão de escadas, escalamos entre degraus altos e desnivelados,
até então entrarmos num novo mato.
Sabia
já à partida que iríamos ter 4 subidas mais agrestes, e aqui estava a primeira.
Ao fim de 4 quilómetros bem rolantes e de alguma descida, temos uma subida não
muito extensa, mas com alguma inclinação.
Fui
gerindo o inicio e sem grandes esforços prossegui sem problemas. Cruzamento com
algumas aldeias e seguindo entre matos.
A fase inicial era um pouco desinteressante,
não fugindo muito à regra, o cenário era sempre o mesmo, sem grande técnica ou
algo que fosse mais desafiante.
Para subir, certo? |
Finalmente
o percurso tornava-se bem mais interessante e desafiante.
Entro
a todo o gás por uma pequena descida entre árvores que me presenteia ao fundo o rio, nunca sem antes ter que atravessar pedras com alguma humidade e
escorregadias que faziam parte deste segmento.
Com
cautela pisando as pedras, apercebo que estou a seguir erradamente as fitas e
num local bem mais perigoso. Assim que tento dar a volta para rectificar o caminho, coloco o pé numa das pedras, e dou um valente bate-cu para a minha estreia em quedas. Com uma queda um pouco agressiva, bati com o
rabo e as costas no chão, enquanto que por instinto coloco a mão direita para
tentar aparar a queda. No entanto tudo em vão, a única coisa que consegui fazer
em condições foi soltar um grande “Fo…-se”. Penso que todos nós entendemos.
Não via ninguém naquela zona e assim que me levanto, ouço uma outra atleta que seguia à
minha frente e se apercebeu, a perguntar se precisava de ajuda. “Não. Obrigado!
Estou bem.”
Assim
que me levanto sinto uma pequena dor nas costas, devido ao impacto, mas que apercebi ser um arranhão. Mas uma dor maior me preocupava, a mão direita.
Parece que tinha perdido a movimentação e força. Vejo que tenho algum sangue na
mão, mas nada demais. Pensei ter partido o pulso, e que a minha prova terminava
já ali. Parei de correr e vou para junto do rio, onde tinha água fresca para
tentar limpar o sangue, e simular o gelo a ver se aliviava. Após esta
pequena limpeza, tento mexer a mão e consigo ter mobilidade. Ora, se estivesse
partido, certamente não conseguiria ter movimento. Tento fechar a mão, e também
o conseguia fazer, fantástico, está tudo bem. Tenho mobilidade, apenas esta dor,
que deve ser devido à queda e ficou com alguma pisadura. Assim pensei e
continuei até chegar ao abastecimento a ver se tinham gelo para ver se aliviava
a dor.
Reencontro
com alguns colegas que acabam por tirar as mesmas conclusões e pensarem que
pode ser pisado, e quando um me fornece um comprimido para as dores.
Prossigo
a viagem, e aos poucos a medicação começa a fazer o efeito pretendido, e a dor
da mão ia aliviando. O efeito obviamente contribui para minimizar o desgaste
dos músculos até ali, e senti-me novamente com pernas para abusar um pouco, e
tendo em conta que o terreno ajudava, já sabem o que se sucede.
A
segunda parede era já ao virar da esquina, e felizmente tive consciência do que
estava a acontecer para não abusar. Sentia que toda aquela “falsa energia”, era
devido à medicação e que não podia abusar da sorte, senão iria sofrer bastante
quando terminasse.
Um
passo de cada vez e fiz sem grandes problemas. Finalmente o tipo de terreno
ia-se modificando e os single tracks começavam a aparecer com maior facilidade,
inclusive algumas passagens em levadas. A vegetação é mais intensa e
diversificada, o que torna tudo bem mais interessante.
Novo
abastecimento, e paro para comer um pouco mais, e beber. Prossigo, e a
inclinação começa a acentuar-se em grande. A penúltima grande subida estava a
iniciar-se, e em asfalto. Seguindo as marcações que a meu ver estiveram sempre
bem visíveis, chegamos a um troço em terra, e por ali seguimos numa constante
subida que parecia não ter fim. As pequenas pedras soltas dificultavam a
progressão, e as curvas desgastavam o psicológico. Enganado umas 3 ou 4 vezes
que logo após à curva seria para descer, eis que surge mais uma nova rampa de
lançamento para o topo. Por fim, finalmente e desta vez sem enganos pois dava
para perceber a descida, numa rápida virada iniciamos a descida com cerca de
2KM.
Abastecimento à sombrinha! |
Acelerei
um pouco o passo e aproveitei para gozar um pouco aquele momento.
Até
à última subida, foi mais ou menos rolante, tendo apenas uma pequena entrada
para junto ao rio, que me deu gozo, mas ao mesmo tempo assustou por causa da
mão. Antes de entrar neste trilho, tínhamos um abastecimento somente de
líquidos, que me deu jeito para encher as garrafas, mas que ao mesmo tempo deu
para perceber que a mão não estava nas melhores condições. Ao tentar abrir as
garrafas reparei que era uma tarefa dura, e que algo não estava bem, no entanto
continuava a conseguir mexer sem problemas. Prosseguindo a viagem, e entrando
num trilho que percorria junto ao rio, iniciava-se algumas descidas que
obrigavam a usar as mãos em árvores para travar e desviar. Uma tarefa também
impossível, pois a mão doía bastante sempre que fazia esse movimento, sendo
obrigado a fazer toda esta tarefa apenas com a mão esquerda. Algumas travessias
pelo rio, e aqui sempre com cuidado, e também devido à minha mão, pois sabia
que o mínimo de descuido seria o suficiente para ter outro problema maior, não
quis arriscar. Após algum tempo, achei que fosse um pouco exagerada aquela
travessia no rio, inclusive atrasava muito a progressão devido às grandes
pedras lisas e escorregadias.
Num mato, bem mais denso e num
pequeno trilho fui progredindo na que seria a última subida. A mão já começava a inchar, mas lá continuei, ignorando. A última parede, e por já estar muito calor, fez-me secar as garrafas
de água, que tinham sido enchidas pouco antes da subida. As energias já eram
poucas, e a subida que inicialmente se fez com ritmo alto, rapidamente baixou e
atrasou a progressão.
Concluída
a última parede, lá fui conseguindo rolar até ao final, e onde finalmente abasteci.
Relativamente
à prova, gostei de alguns trilhos, contudo outros achei algo monótonos e sem
interesse.
Já a
minha mão, e ao contrário de tudo o que pensava, foi a desgraça.
Após
o final, e por descargo de consciência, dirigi-me ao hospital para fazer um raio-x.
O resultado – Fractura do
metacarpo 3 - Mão engessada.
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