O porquê?
Há
quem me chame de tolinho, maluco, masoquista entre outros nomes (designemos de
“insultos”). No entanto e de forma natural, gosto de os ouvir, por saber
interpretar o seu verdadeiro significado. Não pelas distâncias, pois ainda não
são das maiores, mas sim pelo que faço sem obter nada em troca à excepção da
satisfação/diversão e superação pessoal ao desafiar-me a mim e aquilo que vou
encontrando ao longo deste percurso. Percurso esse que para muitas pessoas é incompreensível, ou não querem saber o porquê de fazer o que fazemos.
Agradeço
assim esses “insultos”, que sei que são amigáveis, mas que tanto contribuem
para dar mais alento e vontade de fazer aquilo que tanto gosto.
Não
é um desabafo, mas sim um agradecimento a estes aplausos (”insultos”).
Movido
apenas pelo desafio, as tréguas tinham que ser feitas com a minha vizinha.
A Freita deixou-me de rastos no nosso último encontro. Quando pensava que
estava a correr numa passadeira vermelha em piso plano, eis que a serra surge
em todo o seu esplendor me tira a carpete e mostra o seu verdadeiro terreno
implacável. Deitou-me abaixo, mas ensinou-me a levantar.
Regresso,
porque a Freita é um local que gosto, e pretendo conhecer mais e melhor.
Sabia
que era o berço do trail em Portugal, e que era desafiante, não estivéssemos a
falar da Freita. Contudo para ajuizar as coisas e como não seria de esperar
outra coisa a prova mais curta (28 KM) seria a minha escolha. As longas e/ou ultras terão
que aguardar para o futuro, pois ainda não me sinto com preparação para tal.
A Prova
A prova mais curta foi a prova com mais criticas que fui ouvindo. Desde o percurso,
abastecimentos, organização, … enfim uma data de situações.
A distância dos 28 KM era a mais apupada, principalmente pelo percurso.
Seriam cerca de 9 quilómetros a subir por um trajecto que de interessante não
tinha nada até ao cimo da serra, correr 10 KM no alto e descida pelo mesmo
local onde inicialmente subimos. Ou seja, isto realmente dá vontade de dar uma nega logo à partida, tendo em
conta o valor da inscrição na prova, e o que esta representa. A prova em si seria apenas uma visita rápida à
Freita e vamos embora, e um trajecto que não vislumbre um pouco das excelentes
paisagens que este local proporciona.
Contudo,
e como gosto de ter a minha própria experiência e opinião, seria
a minha segunda travessia pela Freita, desta vez pelo lado de Arouca, local onde
se dá a partida.
Cheguei
a Arouca com bastante tempo de antecedência. Tempo para levantar o dorsal,
preparar-me, aquecer e juntar à festa. Festa essa que presenciei pela primeira
vez. Num pavilhão onde seria o palco da meta, respirava-se trail running. Muita
gente e alguns balcões com vários artigos à venda que saltavam à vista a quem
ali passava. Já os preços, esses conseguiam afastar qualquer interessado.
A hora da partida estava quase a chegar, e ainda teria que ir para o
exterior do pavilhão. Às 9h em ponto deu-se o arranque e sem que demorasse
muito já estávamos todos a subir. Inicio feito com ligeira inclinação em estrada,
mas nada que incomodasse nem fizesse abrandar todos aqueles atletas que
pensavam subir a Freita. Ao fim de aproximadamente 1,5 KM temos a os primeiros
trilhos, com ainda bastante confusão, aos poucos fomos avançando e dispersando.
A
travessia da estrada seria inevitável já que ziguezagueava a encosta que
“trepávamos”.
Mais
uma vez tive a companhia do meu primo que já várias vezes referi aqui. Tendo ele
já participado em edições anteriores, conhecia o percurso, mas rapidamente
começou a estranhar os locais que íamos atravessando. Isto tudo é normal, visto
que a organização felizmente e finalmente lembrou-se de o alterar, ou pelo
menos a subida inicial não coincidia com o final.
Diga-se de passagem, que foi uma escolha acertada.
Trilhos bem mais interessantes não sendo muito técnicos na fase inicial, que aos poucos foi dificultando.
Diga-se de passagem, que foi uma escolha acertada.
Trilhos bem mais interessantes não sendo muito técnicos na fase inicial, que aos poucos foi dificultando.
Esta distância seria o meu recorde até então em provas de trail. A gestão teria que ser feita desde o tiro de partida. Subida feita sem grandes esforços e de forma a poder usufruir de alguns trilhos mais técnicos e alguns single tracks. A meio da subida existe uma pequena descida que conseguia enganar os mais desatentos, com o que ainda faltava até ao topo.
A
Freita deste lado é totalmente o oposto do lado onde vivo. Se na minha
localidade a serra tem uma vegetação bem junta ao solo, e com árvores bastante
dispersas excluindo quase a sombra, aqui não há falta destas.
Bastantes árvores até ao topo. Apenas algumas zonas em que conseguíamos ter uma
vista mais privilegiada e conseguir vislumbrar as bonitas paisagens à nossa
volta, inclusive Arouca.
Já no cimo, o habitual arvoredo desaparece e surge a vegetação mais rasteira com algumas pedras.
Chegando
ao primeiro abastecimento, aproveito para me recompor e hidratar bem. Estava
bastante calor e não queria acusar uma nova desidratação. Aos poucos
apercebo-me de uns comentários entre os voluntários e atletas de que algo não
está a correr como se esperava. Teoricamente os primeiros atletas ainda não
tinham passado naquele abastecimento. O que me pareceu algo confuso. Mas como
não tinha ouvido a conversa desde o inicio, ignorei e continuei a minha viagem.
Por um trajecto que não gosto particularmente devido ao tipo de terreno.
Já no cimo, o habitual arvoredo desaparece e surge a vegetação mais rasteira com algumas pedras.
A
típica vegetação desta serra aliada às bastantes pedras que a compõem, tornavam
aquele percurso incerto escondendo por vezes alguns buracos, provocando facilmente
uma queda e/ou uma entorse.
Com
isto, optei por ir mais à cautela e sem grandes euforias, o que fez com que
vários atletas fossem aproximando e continuavam com a mesma conversa do
abastecimento. Ora, qual não é o meu espanto que vou vendo atletas a vir em
direcção contrária e vou assimilando toda aquela conversa e finalmente entendi
toda aquela algazarra. Significava que aquela prova estava arruinada.
Sensivelmente
ao quilometro 8/9 onde tem um pequeno cruzamento do percurso da subida inicial
e da descida final, existe um desvio em que uma voluntária teria que trocar uma
fita para indicar o caminho certo a percorrer. O sucedido, foi que os primeiros
atletas seguiram pelo local que deveríamos descer, pouco depois colocou a fita
no local certo o que fez com que os restantes seguissem pelo trilho certo.
Resumindo,
uma grande confusão que se alastrou rapidamente, e que
fez com que os elementos da organização quase participassem na prova. Visto
andarem a correr de um lado para o outro e com telefonemas para ver como
poderiam resolver o problema. Enfim, confusão implantada devido a um pequeno
erro que se tornou enorme (nota: esta prova pertencia ao campeonato nacional de
trail).
Sem
grandes lamentações, pois a mim não me impediu de prosseguir e divertir continuei
o meu caminho que ainda faltava bastante.
Num pequeno estradão bem
plano deu para dar às pernas e soltar um pouco o atleta de estrada. A sombra no
cimo era pouca ou inexistente em grande parte do percurso, então todos os riachos
eram fonte de refresco. Inclusive um pequeno mergulho num dos muitos lagos que
encontramos no cimo desta serra.
Sim
um pequeno banho, apenas faltava um sabonete, refresquei as pernas e sigo
viagem em direcção à aldeia Albergaria da Serra entre PR’s que já conhecia de
quando era mais miúdo.
Aos
poucos o terreno tornava-se mais acidentado com calçada feita em pedra e o
espaço mais apertado, o que obrigava alguma agilidade e corrida. Num espaço que
era dedicado a algumas rochas, teríamos que escolher o melhor caminho e evitar
grandes desgastes e pior ainda, quedas. Para aliviar aquela empreitada toda
atravessamos uma pequena ponte, mas temos continuidade de piso empedrado, mas
estreito o que uma vez mais obrigava a correr, ou então era obrigado a encostar
para deixar passar os mais apressados.
Cruzamento em algumas aldeias, e seguimos por PRs para último abastecimento num parque de merendas junto ao parque de campismo do Merujal.
Cruzamento em algumas aldeias, e seguimos por PRs para último abastecimento num parque de merendas junto ao parque de campismo do Merujal.
Curiosamente,
e sem novidade nenhuma, o tema de conversa era a confusão que houve na prova devido à falha que houve. Aos poucos começaram a comentar que a prova estava cancelada e que muitos até ficavam por ali. Um descontentamento geral e
desalento que se foi espalhando. Curiosamente penso ter
visto vários a desistir naquela fase e a ir de carro para o final, outros a continuarem,
mas em modo de treino, ou diziam eles. O que sei é que queria comer alguma
coisa e devido ao grande aglomerar de pessoas ali estava uma confusão danada, e
como não estava para competir iria continuar fosse como fosse.
Entendo
e respeito, que para muitos toda esta situação seja chata e não seja admissível
um erro destes, principalmente pelo que a prova representa. Mas também têm que entender que errar é humano e por um
lapso de uma pessoa, que foi fulcral é certo, não se pode culpar a organização
toda. Isto devido aos insultos e ofensas à entidade responsável pela prova.
Enfim
desabafo feito, e após alguns minutos de paragem e fugindo da confusão toda
continuo com o meu primo para seguirmos em direcção à descida final.
O
percurso aqui foi de todo desinteressante, mesmo até ao final tirando alguns
pequenos locais. Seguimos em direcção às eólicas que se encontravam junto ao
primeiro abastecimento e desviamos para iniciar a longa descida de ca. 10
quilómetros.
Pouco
depois de iniciarmos a descida em conversa de toda aquela confusão com o meu
primo cruzamos no local onde se sucedeu toda aquela situação e onde ainda se
encontrava a rapariga lamentou o sucedido. Sem problemas da minha parte.
Como
disse anteriormente esta descida era sem grande interesse, onde realmente
entendo o descontentamento de outras edições em que a subida e descida por este
local se tornava bastante maçador e desinteressante.
Já em solo arouquense, temos alguns quilómetros em estrada que nos levam até à meta.
Subindo
umas escadas e entrar no pavilhão e cruzar o pórtico final com o sabor de
superação, e objectivo concluído.
Obviamente
que ao ler o relato, subentende-se que foi um desastre e está cheia de
problemas. No entanto não a vejo assim de modo geral. Houve um erro que
condicionou tudo, e que fez com que muitos perdessem a credibilidade da
organização. Acabo por me repetir, mas um erro de uma pessoa, não
responsabiliza toda a entidade que trabalhou para aquele dia. Mas resumindo, é
uma prova que tem tudo para conseguir ser bem mais sucedida do que o que já o é. Estamos a
falar da Serra da Freita e trilhos não faltam, e locais para explorar. Tem uma imensidão
de alternativas para se fazer desta prova uma excelente referência. Felizmente
os abastecimentos tinham o suficiente para a prova, e arregaçaram as mangas
para dar um inicio de prova diferente e bem mais interessante que as edições
anteriores. Falta mesmo arranjar um final (descida) diferente com algo que
demonstre bem melhor qualidade que aquele. Ou então uma prova diferente em que o local de partida e chegada não coincida, por exemplo.
0 comentários:
Enviar um comentário