Há provas, e provas. Umas que vamos juntando à
lista de “A fazer”, outras que colocamos logo de lado, e outras que se der e
puder, até faço. Os Trilhos Termais, enquadrava-se na última opção. Foram
diversos os factores que contribuíram para acabar por ceder e participar, mas
um dos principais era o facto de ser uma prova nocturna, em que a luz do frontal era a única forma de ver os trilhos .
Se era novidade correr à noite em trilhos, a chuva
também ia marcar presença.
Água em abundância durante o dia todo, e eu a
magicar em como iria ser. Caminhos alagados de água, lama, piso escorregadio,
com a imprevisibilidade do terreno e falta de luminosidade, iria ser uma
experiência e peras.
Ainda faltava 5 minutos para as 20h, a chuva já
tinha abrandado, e o sol ainda conseguiu furar as nuvens, tornando uma partida
ainda ligeiramente diurna.
Não éramos muitos atletas na prova nocturna, mas a
estreita saída não dava para fluir da melhor forma.
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Logo após a partida. Créditos: Organização |
Sabia que iríamos entrar em caminhos mais
estreitos, e se não fugisse dali, iria correr o risco de ter que parar mais à
frente.
As travessias em pisos sem qualquer atrito parecia
uma pista de gelo, as pontes em madeira era uma preocupação, felizmente eram
curtas.
Os primeiros passos em trilhos confirmavam o cenário
de lama, tentava procurar o melhor terreno para colocar o pé. Ainda havia
alguma luz do dia, e podia abusar um pouco mais. Metia-se a primeira subida,
curta, mas inclinada. Não arredava pé e mantinha um ritmo confortável para as
subidas, os single-tracks eram uma excelente surpresa, mas não dava para
desfrutar deles, para além do piso enlameado tinha gente pela frente, e só com
o alargamento do caminho é que dava para passar.
Na subida por entre um pinhal dava-se o início da
falta de visibilidade, iria ser o verdadeiro e derradeiro teste ao meu frontal.
Colocavam-se mais single-tracks, caminhos trabalhados, estava a gostar.
Alguns trilhos coincidiam com o Ultra Trail
Medieval, e conhecendo começava a abusar um pouco mais. A primeira grande
descida, já a conhecia. Ali não havia lama, só pedra solta e raízes das
árvores, e em forma de zigue zague, deixei-me ir.
Dali até ao parque de merendas, era tudo caminhos
que conhecia, início em estradão, mas a entrada no parque modificava tudo,
vários single-tracks, e um género de bosque, estando protegidos por a vegetação
das árvores.
A noite já estava cerrada, não havia luz se não os
frontais e alguns pontos reflectores que nos facilitavam a encontrar o caminho.
Seguia paralelo ao rio Uíma, até ter mesmo que o
atravessar. A noite fria já não se sentia, estava bastante quente, e aquela
corrente que me cobriu quase até à cintura foi como um refresco.
Surgia a primeira subida que me fez acalmar um
pouco. Ofegante, mantinha um passo certo, em jeito de caminhada, as pernas
estavam a responder a tudo o que pedia.
A descida estava logo após uns metros, sem trilho,
por entre as árvores, com o dobro da atenção para não rebolar até ao rio
novamente.
O estradão que separava da próxima subida, foi
feita de forma a soltar as pernas, sentia um pouco pesadas. E reflectiu-se mal
a iniciei, obrigando a caminhar, não que fosse muito íngreme ou extensa, mas
pela grande quantidade de lama e pedras. Só após alguns metros, começo num
pequeno trote por ali acima, desviando da vegetação que ainda se estende para o
caminho. A chuva que se acalmou durante uns minutos, voltava a aparecer, ainda
que tímida quando corria para a descida, mas forte assim que começo a descer. A
visibilidade ficou fraca, mesmo com a luz do frontal no máximo, a chuva era
tanta, que impedia de ver na totalidade.
O carrossel mantinha-se, apesar de ser uma prova
bastante rolante, as subidas e descidas eram seguidas, não muito inclinadas,
nem demasiado extensas, o que dificultava era mesmo o piso escorregadio e
enlameado.
Prova disso, era o facto de fazer grande parte das
subidas a correr, mesmo a mais extensa, com cerca de 1 quilómetro de extensão,
tinha apenas 90 D+, tendo apenas parado no abastecimento. Não estava
interessado em parar ali muito tempo, pareceu-me estar bem composto, mas assim
que vejo uma caixa cheia de gomas, não olhei para mais nada, agarrei em
algumas, e volto ao caminho.
Começava a passar pela malta da prova do sunset,
alguns ouviam e davam o jeito para ultrapassar, outros, lá tinha que pedir
licença para passar. Estava um pouco inclinado para tentar o meu melhor tempo
possível, e para isso teria que entrar um pouco em modo competitivo, mas aquela
confusão nos trilhos não me estava a permitir para tal.
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Créditos: Organização |
As descidas agora já eram feitas sem grandes
preocupações, o terreno estava bastante mais acessível, aproveitava também a
iluminação dos restantes atletas para ver o melhor caminho.
Surgiam grupos cada vez maiores, em single-tracks
só conseguia ultrapassar caso forçasse as pernas por meio da vegetação, não
havia maneira de me deixarem passar, estava a ficar chateado com aquilo, não
que fosse ganhar alguma coisa, mas queria tentar dar o meu melhor, e ver até
onde conseguia ir, basicamente uma prova sempre a fundo.
Agradava-me ver uma subida, sabia que ali
conseguia dispersar daquela multidão. Comecei logo a correr, não parava, ainda
estava com pernas para tal, e só dessa forma conseguia levar a prova ao limite.
O trilho era mais técnico, e serpenteava encosta
acima.
Feito. Agora restava descer, e rolar até ao final.
A descida foi feita rapidamente, o desnível ganho anteriormente, foi
rapidamente retirado.
As pernas estavam frescas o suficiente para ainda
conseguir abusar mais um pouco. Os estradões facilitavam a corrida, eram bem
mais estáveis, e rolantes o suficiente. Continuava a ultrapassar mais atletas
da prova anterior, mas agora não era impeditivo de correr.
O fim dos trilhos e estradões, era feito pela
passagem por um pequeno parque de lazer, com um caminho um pouco mais estreito,
mas onde estava bem lotado.
Estava um caminho bem mais preenchido, mas
felizmente estavam minimamente organizados para poder seguir, e ouviam alguém a
correr, e davam indicações a quem ia na frente.
Agradecia, enquanto ainda tinha pernas para
correr. Ao fundo ia ouvindo o speaker, significava que estava quase a terminar.
Numa das ultrapassagens, surge um pequeno grupo
vindo da esquerda que se tinha enganado no caminho, vinham a reclamar, mas a
distracção ali a meu ver foi deles, não tinha como enganar, o caminho era previsível,
e as marcações estavam impecáveis.
O que me enervou, foi o facto de vir num ritmo
forte, e eles ao verem-me, colocarem-se na minha frente. Foi uma travagem
brusca para não me mandar contra alguém, fiquei piurso naquele momento. Para
ajudar, colocaram-se lado a lado, e não tinha maneira de passar.
Depois de alguma insistência, lá consegui passar, logo
atrás de um deles, que queria correr mais um pouco enquanto ainda reclamava.
Mesmo assim não era o que queria, e então numa ultrapassagem mais ginasta, lá
consegui.
Já ali estava a meta. Via o edifício das termas, era
só o contornar e atravessar o pórtico. Os últimos 700 metros, foi a todo o gás.
Esta luta valeu-me o 10º lugar na geral. Cheguei satisfeito ao final, mas com conhecimento
que podia ter conseguido mais e melhor, se não houvesse tanta confusão nos
trilhos.
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Já na recta final. Créditos: Organização |
O percurso em si, não é nada de extraordinário,
muito à base de estradões, excetuando alguns single-tracks, que apesar de
estarem escorregadios, são os únicos trilhos que diferenciam a prova. O facto
de ser uma prova nocturna, ajudou a uma experiência totalmente diferente, a chuva
fez com que o desafio ainda fosse maior. A adrenalina era outra, e o facto de o
percurso ser bastante corrível contribuía para levar a prova mais a sério, mais
ao limite.
Só mesmo, na parte final, aquela confusão constante
de atletas nos trilhos, não facilitava nada a progressão, atrasava sempre algum
tempo, e as quebras de ritmo eram constantes. Fora isso, é posso afirmar que
consegui divertir.
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