Tinha tudo para ser perfeito, mas incrivelmente tive que
ceder.
Voltei à meia maratona, e a minha primeira presença no Douro
Vinhateiro, que já “namorava” algum tempo. Por não conhecer a zona, e também
aproveitar para ter uma pequena ideia do que aquilo realmente é, tendo em conta
o próprio slogan da prova “A mais bela corrida do mundo”.
Foi pena não ter tido a oportunidade de ir já no dia
anterior e poder passar um fim de semana mais descansado do que as correrias
habituais em levantar cedo para ir para a prova. Para a próxima já fica o aviso.
Sempre me indicaram como uma boa prova para fazer tempos, e
que o slogan realmente fazia jus daquilo que presenciávamos ao longo dos 21 KM,
mas se há coisa que fiquei mais impressionado, foi com as excelentes paisagens
que fomos presenteados ao longo do caminho até ao Peso da Régua. Ao longo de
todo o caminho a única coisa que conseguíamos ver era o cinzento e cerrado
nevoeiro que aquela manhã nos oferecia. Mas a longa passagem pelo túnel do
Marão fez com parecesse que acabávamos de entrar num mundo totalmente à parte.
O que era cinzento havia tornado azul com algumas nuvens brancas dispersadas,
com o brilho do sol a iluminar as imponentes verdes montanhas que nos rodeavam.
Tinha sido uma noite muito mal dormida, e aquela paisagem
fez-me arregalar bem os olhos quando ainda teimavam em ceder.
Muitas vezes imaginei vários cenários da minha pessoa a
subir aquelas montanhas (o bichinho do trail também me acompanhou).
Créditos na foto |
Barragem, local de partida. Créditos: Organização |
Eramos 2 indivíduos, e 1 individua que tentávamos a sorte
naquele dia em nos divertir, e o pequeno passeio ali junto ao rio Douro antes
de arrancarmos para a partida, começou a mostrar-nos a realidade do que iria
ser aquele dia.
Se inicialmente pensávamos que poderia chover, com a chegada
à Régua, mudamos de opinião, e quando ainda pedíamos para pelo menos estar um
ambiente fresco, aos poucos concordamos que aquele dia ia ser complicado. O
calor começava a apertar, e já nada nos fazia acreditar que a temperatura iria baixar,
que juntando à tardia hora de partida, 10.30h, quando o sol já se encontrava
bem alto, a partir daí era a piorar.
Nada feito, o cenário era aquele, e seria assim que teríamos
que gerir e chegar ao final.
Créditos na foto |
Era um percurso linear, com chegada na Régua, e partida na barragem
de Bagaúste, que felizmente já incluía na inscrição o transporte de um local
para o outro. Escolhemos o comboio, e à hora marcada lá estávamos a ajudar a
encher as várias carruagens que nos levava até junto da barragem.
A confusão já era muita, com muita gente da caminhada que
nos gentilmente fazia um corredor para podermos avançar até junto do pórtico de
partida. Já se encontravam bastantes atletas, e aos poucos o pouco espaço vazio
foi enchendo com a continua chegada de autocarros e comboio. Tentei colocar-me
junto do balão para o qual me tinha inscrito, 1.30h, mas já fiquei mesmo no
final. Já aqui falei deste assunto, mas não entendo a falta de bom senso do
pessoal que teima em se inscrever para um horário e se coloca fora do mesmo.
Ainda aguardamos cerca de 20 minutos pelas 10.30h, debaixo
do forte sol, quando foi dado tiro de partida em primeiro para os que mais
admiro no meio de uma imensa multidão. Os atletas de cadeiras de rodas que
partiam assim antes de nós cerca de 5 minutos.
Créditos: Organização |
E assim passado esse tempo era a nossa vez para os 21 KM bem
quentes.
Fui com objectivos para uma prova que me pareceu acessível
para tempos, tentando bater o meu recorde, ou se não o fosse possível tentar
aproximar ao meu melhor tempo.
Saindo da barragem, virávamos à esquerda seguindo em
direcção a Pinhão, ou seja, na direcção oposta da meta presente em Peso da Régua.
Eram cerca de 7,5 KM até ao ponto de retorno que nos remetia novamente pelo
mesmo local até ao local de partida, quando já acumulávamos mais ou menos 15
KM, onde mentalmente previa fazer o ataque ao tempo final.
A forte presença de atletas em toda a largura da estrada fez
com que para ultrapassar toda aquela confusão teria que andar em ritmos algo
desconfortáveis e incertos, contudo consegui com que os ritmos fossem sempre
constantes. Fui mantendo sempre o ritmo dentro dos 4.30 min que era o que
pretendia, e a longa descida que fizemos até ao retorno facilitou esse aspecto,
mas tudo aquilo que havíamos descido teria que ser para subir.
Créditos na foto |
E foi ali que algo na minha cabeça não estava a bater certo,
porque quanto mais avançava no terreno que acabara de passar, achava tudo muito
estranho. Quando pensava que iria subir, havia descidas e mais planos, o que
originou uma grande confusão na minha cabeça, pois olhando agora para o
gráfico, foi sempre a subir, mas naquele momento, parecia-me planos e descidas,
e poucas subidas. Não consegui perceber o que se passou ali, mas foi algo
estranho.
De toda a forma, avancei sempre sem problemas, e como queria,
até aos 10 KM, mas iria ser também o meu ponto de viragem para o que ainda
restava.
Créditos: Organização |
O calor estava a dificultar cada passo que dava, e uma
reviravolta na minha barriga estava a causar um tormento enorme para conseguir
manter o ritmo que até ali mantive.
Tentei encontrar alguém com ritmo semelhante que conseguisse
“colar” e manter, e já o vinha a fazer algum tempo com outro atleta, mas que
mais à frente deixei de o ver, ficando sem saber se tinha ficado para trás, ou
se teria avançado. Todas as outras “lebres” que fui procurando não resultaram,
pois avançavam e não consegui acompanhar, ou o vice-versa.
A tentativa em olhar para a paisagem e distrair-me também
não foram a melhor força que arranjei, mas ajudou ao longo de alguns metros, em
certas partes do percurso.
A única coisa que me dava algum alento, era quando passava
pelos abastecimentos, que foram muitos, e bastantes úteis dado as elevadas
temperaturas, quando conseguia refrescar e hidratar. Sabia que devia tomar o
gel para recuperar forças que estavam a desaparecer em abundância, mas o receio
em uma forte indisposição era grande, e fui adiando.
Dos apoios mais animados! Créditos: Organização |
Era a altura de arriscar tudo, e decidi que iria tomar o
gel, desse por onde desse. Se me sentisse mal, encostava à longa extensão de
matos que íamos passando e desenrascava-me como tivesse que ser.
Tentava arriscar em avançar o passo, mas a indisposição não
me permitia mais que aquilo. Pensei várias vezes em encostar, mas fui sempre adiando,
até ter mesmo que parar para um rápido verter de águas, e prosseguir.
Pela primeira vez tive que parar em provas para o fazer, e
não era para menos dado à grande quantidade de água que fui bebendo e virando
por cima de mim ao longo de todo o trajecto.
A ansiedade em terminar era grande, e aqueles últimos
quilómetros estavam a ser dolorosos.
Créditos na foto |
Perto dos 20 KM entramos na ponte pedonal que atravessava o
rio Douro e nos levava até à meta.
Esta travessia foi também a viragem de tudo o que
presenciamos até ali. Antes, a única distracção eram as bonitas paisagens sobre
o rio Douro, e as vinhas que o emergiam e algumas poucas dezenas de apoiantes
que encontramos. Agora a paisagem era ofuscada pelo longo corredor humano, ao
longo de pouco mais de 1 quilómetro até à meta. E isto era tanto do lado
esquerdo, como do direito, um forte apoio, que fez com que os tempos que vinham
a piorar até ali, conseguissem melhorar substancialmente. Sem querer sobrepor o
nível paisagístico ao aglomerar de pessoas, mas foram estes que nos últimos
minutos me deram as últimas forças para conseguir atravessar a meta e finalizar.
Não consegui manter o tempo que previa, mas dado aquilo que
se passou, pensava que iria distanciar-me muito mais do que os 3 minutos a mais
que somei ao meu tempo recorde. Era um dia não, para a meia maratona, e olhando
bem para todas as circunstâncias, acho que acabei por fazer uma boa prova,
dentro daquilo que sou capaz, e uma excelente luta comigo mesmo. Noite mal
dormida, forte calor, má disposição e vento, foram os obstáculos que consegui
derrotar ao longo de um bonito percurso, com um excelente apoio envolvente,
mesmo durante os primeiros 15 KM, com pouca gente a ver. Cada palavra de apoio
dos vários voluntários que estavam nos abastecimentos foram um grande empurrão.
De facto, o grande momento da prova foi o último quilómetro, rodeado de,
atrevo-me a dizer, milhares de pessoas.
Uma organização impecável, e eficiente em todos os aspectos,
com um único ponto que não gostei em não existir controlo dos atletas para os
diferentes tempos que definem para a partida.
E sim, o slogan da prova condiz bem com tudo o que ali
fizeram.
Créditos: Organização |
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