Após ter deixado passado passar a oportunidade de
experimentar uma prova de Skyrunning, na minha terra, fiquei com curiosidade em
me testar nesta modalidade e ver como seria a diferença relativamente a provas
de trail. Não conhecia a Padela, nem a região em questão, muito menos a prova. Foi
como se aparecesse do nada, e me chamou à atenção mal a vi. Não era para menos,
tendo em conta que a prova tinha uma parceria com a Compressport, e ofereciam
uma t-shirt da marca que achei lindíssima. Após algumas buscas por vídeos de
outras edições, fiquei admirado pela “coroa”, chamemos-lhe assim, daquela prova.
Um piso rochoso que fazia lembrar algum concurso de alpinismo. Foi aí que
fiquei rendido. Iria à prova, em primeiro pela camisola, e depois por aquela
subida.
Ainda foi possível reunir 5 atletas para madrugar, e partir
para Barroselas. Todos iriamos para a distância mais curta (15 KM). E o motivo
era simples, todos estreantes em Skyrunning. Aliado a ter realizado uma meia
maratona na semana anterior, foi a escolha mais sensata. Viagem feita debaixo
de nevoeiro à semelhança do que já tinha passado no fim de semana passado, a
juntar algumas gotas pelo caminho, mas chegado ao local, aos poucos abriu, e
num dia ameno estava tudo pronto para a brincadeira. O levantamento dos dorsais
foi fácil e rápido, e a viagem para o local de partida também sem problemas.
Uma vez mais uma prova linear, e com transporte por parte da organização. Chegamos
cedo ao local de partida, e ainda deu para dar um aplauso e animo a quem partia
para os 20 KM, tornando o ambiente um pouco mais festivo.
Créditos na foto |
Dado termos seguido logo no primeiro transporte, tivemos que
aguardar ainda algum tempo para chegar a nossa hora, o que deu para ainda ver
se conhecíamos alguma coisa naquele perímetro, contudo a única antiga e pequena
igreja era a única “atracção” nas redondezas. Assim que se aproxima a hora, juntamo-nos
à comitiva toda que ali aguardava para o arranque.
O meu estado de espírito para andar a correr naquele momento
era quase nulo, estava sem apetite e a vontade em voltar para o autocarro e
voltar para trás era grande. Aliás, assim que levantei a t-shirt, disse que o
objectivo estava feito, por mim já ficava no carro a dormir, e esperava por
eles chegarem. Mas lá me forcei a ir.
Sem grande atraso, lá foi dado o sinal de partida, e
seguimos lançados para a “diversão”.
Arranquei praticamente do fundo do pelotão, e não estava com
grandes pressas, estava a seguir num ritmo confortável, mas naquele momento
queria terminar aquilo depressa, então, iria tentar a minha sorte e logo se
via, podia ser que despertasse, e saísse aquele ar de sonolência.
Era a subir o primeiro quilómetro, entre estradões largos,
uns já vão caminhando, outros, incluindo eu, tentando num trote simpático avançar
no terreno. Apesar das inúmeras pessoas que ultrapassei o mais que previsto
engarrafamento iria acontecer, assim que nos enfiamos numa pequeníssima levada.
A fila era enorme, e ultrapassagem era pôr em risco tanto a nós como os outros,
contudo, nem tudo era mau, assim foi fácil para recompor a caixa minimamente
para depois seguir tranquilo. Nova subida para nos tirar do single track, e
levar-nos a novo estradão, que já deu para dispersar e andar à vontade. Subida
até a um pequeno cume, bem verde, e temos a primeira descida. Já estava a ter
uma pequena noção do que realmente distinguia o trail do skyrunning, e estava a
gostar. A descida era espectacular, e deu para abusar moderadamente, saí
disparado, mas lembrei-me logo que poderia estragar joelhos para o final da
prova, e contive-me.
Foto: Organização |
Ao longo do percurso, fui-me apercebendo que assim que
terminávamos alguma descida ou subida, o espaço que existia entre o seguinte
declive era curto, e quando havia terreno para rolar, já era com alguma ligeira
inclinação, não existindo tempo para descansar as pernas. Arranquei com
manguitos devido à temperatura fresca daquela manhã, mas nesta altura já os
tinha retirado, e a sonolência já tinha desaparecido. As inclinações eram
sempre brutais, incluindo algumas técnicas, e as descidas eram mesmo ao meu
gosto, chegando ao ponto de me esquecer por vezes que devia abrandar, só
lembrando quando aqueles músculos começavam a dar sinais de uso. Somente na
passagem pela descida em calçada romana, em que o piso era bastante escorregadio,
é que não abusei, lembrei-me logo na possibilidade de um valente bate cu. Estávamos
a chegar ao primeiro abastecimento, que continha o mais básico, e o suficiente
para aquela altura, e foi altura também de juntarmos aos atletas dos 20 KM.
Créditos na foto |
Créditos na foto |
Com alguns quilómetros a mais que nós, já iam com uma
passada mais branda, mas facilmente cediam passagem. Logo após o abastecimento,
seguimos para o trilho mais bonito de toda a prova, e dos mais desafiantes. Junto
ao leito do rio, iniciava-se uma subida de cerca de 250 metros, até ao ponto
mais alto, com 400 metros de altura. Praticamente todo feito em single track no
meio de uma vegetação bem mais densa do que tivemos até ali, e num ambiente
mais húmido. Uma pequena corrente de água ia fazendo a delícia aos olhos,
sempre que ficava com os gémeos a gritar comigo para abrandar um pouco. Sair
dali, foi gratificante para as pernas, mas doloroso para a vista, apenas
confundida com a vista em voltadas serras, e por alguns trajectos que já
havíamos passado anteriormente.
Créditos na foto |
Seria altura de “largar” os atletas dos 20 KM, e seguir
nosso caminho para a “coroa” desta prova. Já a aguardava algum tempo, mas
pensei que fosse mais para o final. Havia chegado a um abastecimento e apenas
quis alimentar, e repor energias, sabia que estava a precisar, e ajudou-me
bastante a recuperar. Era dos abastecimentos mais completos que vi até hoje,
até bolas de Berlim tinham, para termos a noção do quão completo é, que até o
supérfluo ali estava. Contudo, para chegar aos 400 metros de altitude, teríamos
que subir mais. E enquanto me recomponho, tento ver qual o caminho a seguir, e
é assim que vejo a enorme rocha que nos separava do topo. Uma autêntica
escalada em piso rochoso com corda no meio para ajudar a subir. Seria por ali o
caminho, e na minha ideia era ali que iria ser derrotado.
Foto: Organização |
Altura de ver se conseguia subir sem escorregar, mas devido
ao piso inicial da pedra, as sapatilhas deslizavam um pouco, então optei por
seguir agarrado à corda. Já a meio, acabei por largar e subir facilmente sem
escorregar. Felizmente não saí dali derrotado, e prova disso foi o à vontade
que segui na descida. Primeiro por estradão em terra, mas rapidamente
modificado pelo verde da erva. Já no final, em single track por entre algumas
rochas, até a um pequeno parque de merendas. Adorei aquela descida.
A ideia de ali estar apenas pela camisola já era passado,
estavam a ser subidas e descidas muito boas para estar a pensar apenas em
brindes.
Créditos na foto |
Mas o melhor ainda não tinha chegado. Deram-lhe o nome de
“UpHill”, que descreve na perfeição a última subida que faltava. Se a escalada
rochosa, pensava eu, que era a “coroa” da prova, a subida que tínhamos pela
frente rapidamente ter-lhe-ia destronado.
Chegara a altura de ver como todos aqueles músculos das
pernas estavam, e conhecer outros tantos que provavelmente nunca foram usados.
Hora de pôr as ideias no sítio e subir calmamente sem
estragar tudo. Aos poucos fui prosseguindo, vários atletas com quem até ali
segui junto, estavam a começar a fraquejar, e abrandavam, fui ultrapassando e
dos olhares que fui fazendo ao topo, estava a achar demasiado fácil. Ali no
alto, estava uma barraca com música e pessoal a apoiar, a dar aquele incentivo
extra, e assim que me aproximo deles, esbocei um sorriso, de conquista como se
tivesse feito algo de outro mundo. Infelizmente, o sorriso desapareceu, e
fiquei de boca aberta. A percentagem de inclinação deveria rondar no mínimo os
30%, nunca abaixo disso, e aquela barraca animada, num estradão que dividia a
continuação do “UpHill”, escondia o que faltava. Quando olhei, rapidamente
veio-me à memória os vídeos que vi da Red Bull com a prova “RedBull 400”, só
para termos algum dado de comparação.
Créditos na foto |
Créditos na foto |
Agora compreendia o progresso mais lento de outros que havia
ultrapassado, afinal não eram eles que estavam a fraquejar, estavam a
precaver-se. Enfim, dentes cerrados, e siga conhecer os restantes músculos que
as pernas escondem. Para o caso de alguém achar aquela subida era fácil demais,
já a meio, o piso começa a complicar-se com alguma pedra solta, e terreno mais
acidentado. As pernas estavam duras, mas ainda davam para chegar ao cimo.
Últimos metros, e tento meter uma passada semelhante à corrida, mas felizmente
e finalmente estava ali o último abastecimento antes da meta, mesmo no alto.
Não cheguei a olhar para trás, para ver a imensidão daquela subida, mas também não
sinto muitas saudades.
Foto: Organização |
Foto: Organização |
Como nos habituaram até ali, a descida não demorou a
aparecer, e seria assim até à meta. Sem abusos inicialmente, mas com mais
velocidade junto ao final até atravessar a meta.
A chegada até ao pórtico final, era entre vários apoiantes
que tornaram aquela chegada mais animada.
Foram 15 KM de pura diversão e gozo, mas bastante
desafiantes ao mesmo tempo. Consegui sempre gerir, sem nunca levar ao limite, e
ter uma pequena noção de como realmente o SkyRunning funciona. A organização
esteve impecável em todos os aspectos, não conseguindo apontar um defeito que
seja.
Valeu bem mais que a t-shirt.
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