Não antevi outro cenário que não este, regressar onde tudo
começou, à Serra da Freita.
A primeira incursão nesta prova foi há cerca de 1 ano atrás,
e com alguns problemas que existiu no decorrer da prova, e uma descida improvisada
em cima do joelho, fiz questão de dar uma nova oportunidade. Foi também oportunidade
para levar alguns estreantes na prova, e outros que disseram que ali não
voltariam.
Em pleno final de mês de Junho, o cenário que antevíamos era
de imenso calor, e de grande preocupação com a chegada ao topo da serra,
ficando mais expostos ao sol. E ao contrário do que se esperava, o dia esteve
cinzento, com o sol a mostrar o ar da sua graça em poucas ocasiões. Uma
chuvada, idêntica à que durante a noite me fez acordar, era uma possibilidade,
o que fez com que tivesse que juntar um impermeável ao meu equipamento. Não era
espectável aquele tempo, contudo, agora agradeço, dada a temperatura que
esteve, que era óptima para correr.
Créditos: Organização |
A proximidade das localidades, facilitou o levantamento dos
dorsais ainda no dia anterior, para evitar correrias de última hora.
Dia da prova e lá nos encontramos cedo, para rumar a Arouca, com 7 elementos que iríamos aos 26 KM pela Serra da Freita.
Encurtaram a distância cerca de 2 KM em relação ao ano
passado, o que a princípio pensei que fosse algum erro de calculo por parte da
organização, mas estava enganado, eram efectivamente entre os 25 a 26 KM.
A concentração é feita no pavilhão, onde é feito o controlo
zero para a partida no exterior das instalações. E à hora anunciada estávamos a
dar os primeiros passos de corrida.
Créditos: Organização |
O arranque é feito pela estrada principal, encaminhando-nos
logo de seguida por umas ruelas, que nos levavam ao início da subida para o
topo da serra. As pequenas passagens pelo asfalto era apenas um elo de ligação
com outros trilhos. Estava a recordar-me de todo aquele percurso da edição de
2017, e tinha mais ou menos noção do que ainda faltava, sendo a parte mais
complicada nos primeiros quilómetros. Eram as subidas com mais inclinação que
me colocavam as pernas mais duras, a lama era uma preocupação para não
escorregar, e os single tracks que existiam eram brutais de mais para não se
correr, serpenteando aquela encosta. Recordava-me de um, que tinha adorado, mas
que sabia que me ia dar mal, e não foi para menos. As pequenas árvores que vão
crescendo novamente, devido aos incêndios, são uma fantástica ajuda para
progredir, dado a terra batida que a cada passo que dávamos era uma
possibilidade de o pé escorregar.
A subida não é de muita confiança, sabemos à partida que são
cerca de 8 KM até ao topo, mas pelo meio vamos tendo direito a pequenas porções
de planos ou mesmo descidas para poder rolar, o que vendo bem, acabava por ser
bom para soltar um pouco as pernas, mas enganando o zé povinho quando sabe que
a subida só termina chegado às eólicas que estão mesmo no cimo da Freita.
Aos poucos vou vendo as enormes pás das eólicas girando, e
sei que estou mesmo a terminar. O céu cinzento que nos cobria já ia mostrando
um pouco o seu azul, e vamos tendo as fantásticas vistas sobre toda as nuvens
que havíamos furado no decorrer daqueles quilómetros, e que agora ficavam para
trás. Coloquei quase todas as minhas energias nesta fase, e o abastecimento foi
a minha fonte de energia. Passei pouco tempo ali, mas o suficiente para ganhar
energias para o que havia a ser feito no alto da serra.
O trajecto era o mesmo, e em nada modificou, e assim
prossegui rumo ao segundo abastecimento antes da descida.
O percurso era irregular de início, e bastante acidentado,
propicio a torcer algum tornozelo, seguido de um PR que já conhecia, mas em
sentido contrário ao que agora fazia.
A escolha do caminho no topo da Freita, foi do mais simples
que houve, aproveitamento de trilhos abertos e PRs. Felizmente, escolheram a
parte mais técnica e bonita de um deles, junto ao rio. O resto era mais do
mesmo.
Créditos na foto |
Chegado ao abastecimento, foi com mais calma que me
alimentei, aproveitando para recuperar alguma energia. Sabia que a descida iria
começar dentro de pouco tempo, e que existia uma secção que iria ser uma
valente dor de pernas.
Enfim, lá me mentalizei, e segui, sem antes ainda ter umas
pequenas subidas, onde estava a querer quebrar. Se no 1º abastecimento a curta
passagem, consegui recuperar, neste com uma pausa um pouco mais longa, não
estava a conseguir. Os músculos estavam presos, e sentia cansaço. Intervalei a
corrida com caminhada, e minimizar os esforços ao máximo, mas já estava a
iniciar a descida. A descida é um trilho completo de pedra solta e rolante, o
mínimo de deslize era queda certa. A correr por ali com as pernas presas estava
a ser um sacrifício, caminhar era difícil, e o travar era massacrante para os
joelhos. Teve que ser uma mistura destas duas últimas e de alguma maneira lá
consegui. Quando finalmente penso que aquele tormento todo havia terminado,
surge um dos novos trilhos que era mais do mesmo.
A melhor descrição que ouvi daquela descida foi a de um
atleta que ali ia comigo – “eles chamam a isto de trilhos técnicos, mas isto
para mim é trilhos fodi#@$ (se é que me entendem)”.
Foi sem pressas que fiz toda aquela descida, em que os
joelhos teimavam em manifestar-se. Nem tudo era mau, de facto foi uma alteração
que foi bem mais que bem-vinda em relação à descida das edições anterior. Era
mais técnica, mas mais versátil que a monótona que teríamos que fazer.
Apesar de daquele terreno rude, o final foi a passagem para
uma das partes mais bonitas de todo o percurso. Toda aquela descida em pedra,
era feita em céu aberto, encaminhando-nos para uma floresta cerrada pelas árvores.
Créditos na foto |
Entramos num ambiente totalmente diferente, o céu era
coberto pela vegetação das árvores, o piso era composto essencialmente por
folhas caídas das árvores, e terra batida, e paralelamente ao nosso percurso
havia pequenos riachos, que por vezes era o nosso local de passagem, como que
um refresco para os pés. Vinha de um local que era difícil correr sem pensar
duas vezes antes de dar um passo, chegado ali, num terreno bem mais rolante, as
baterias foram carregadas automaticamente sentindo as pernas soltas e pronto a
conseguir dar novamente uma espécie de corrida.
Não era por ser um espaço bem mais agradável, que era mais
fácil. Exigia outro tipo de atenções, e de saber controlar o ritmo de forma a
não quebrar. E foi aí que falhei. Já num segmento que ligava o percurso aos
caminhos da recta final coincidentes ao ano anterior, as pernas começaram a dar
os primeiros sinais de desgaste. Aqueles músculos mesmo juntinhos aos joelhos
começavam a dar as picadas, de quem como se manifesta para parar. O facto de nos
2 últimos quilómetros serem praticamente em estrada, e totalmente
desinteressantes não ajudou em nada, e só me restava atravessar a desejada meta.
Entrada no recinto do pavilhão com direito a subida pelas
escadas, e regresso ao pavilhão para concluir mais uma passagem pela Freita.
A comitiva |
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