Não há nada como correr em casa.
Com o crescimento do trail, e a organização de inúmeras provas durante o fim-de-semana, dá para todos os gostos e feitios. Desta vez optei por um mais “caseiro”, uma prova, que até aqui era mais um “free trail”, sem qualquer tipo de competição, incorporado nas festas da terra, mas que agora optaram por cronometrar, e dar algum crédito a quem o quisesse.
A equipa Vale Correr, foi formada à relativamente pouco tempo, na qual eu também estou incluído, e quisemos lá estar, no trail ViverArões 2019, e queríamos esse crédito.
A ideia era simples, não sendo uma prova que abrangesse um leque muito grande de atletas, muito menos de elite, iríamos tentar dar o nosso melhor para ver se conseguíamos um pleno no pódio, afinal tínhamos grandes hipóteses para isso.
De facto o leque era mesmo muito pequeno, éramos 30 no total, atrás de um improvisado pórtico aguardando pelo sinal de partida.
Estava mesmo na frente junto à restante equipa, o Fábio, João Rodrigues, Marcos e Paulo, aguardando o tiro de partida. Como era tudo feito sem grandes cerimónias, também o arranque foi diferente, em coro, fizemos nós a contagem decrescente.
Saí na frente, eu e o Fábio, seguidos por um outro rapaz e o João Rodrigues.
Dali à subida que terminava ao fim de 5 quilómetros, ia na conversa com o Fábio, combinando o objectivo e como o poderíamos o fazer. Sabíamos que à partida ele ganhava a prova com facilidade, mas que iria connosco durante o percurso, salvo se alguém ultrapassa-se ele seguia atrás para tentar conseguir o primeiro lugar.
Mal inicia a subida ainda em estrada, eu e o Fábio isolamos, sendo pouco depois alcançados pelo outro rapaz que se aventurava a trepar continuamente aquela encosta que nos ia distanciando de Arões.
Pórtico improvisado. Créditos: Organização |
O Fábio seguia aquilo que tinha dito, seguiu o rapaz, acabando por o ultrapassar e continuou rumo ao topo.
Eu por outro lado, deixei-me ficar, ainda ia tentando aquecer, o recente arranque sem nenhum aquecimento, a juntar uma subida bem inclinada, causara um descontrole na respiração, sem sinais de melhoria. Somente quando comecei a estabilizar, voltava a aproximar, e acompanhar o Fábio a poucos metros atrás.
Seguia-se novamente a descida, por entre casas, mas uma vez mais, estava confuso, em adivinhar o caminho por falta de fitas.
Foi assim até Arões, onde finalmente cruzamos a meta, e surpreendentemente em primeiro lugar eu e o João. O Fábio chegou logo depois, tendo uma vez mais se enganado, mas agora no muro, não tendo visto as fitas e seguido em frente.
Uma pequena distracção originou a uns 200 metros a mais, juntando o João Rodrigues ao grupo, formando um quarteto.
Rapidamente nos dividimos, ficando para trás com o João, enquanto o rapaz segue incansavelmente o Fábio, pelo menos até ao quilómetro 2,5, quando voltamos a aproximar e a ultrapassar.
A subida mantinha-se, dali até aos 840 metros de altura, após cerca 350 metros de declive positivo.
A aguardar o tiro de partida. Créditos: Organização |
Seguia-se uma descida, toda empedrada até à aldeia da Felgueira, o nevoeiro estava mais acentuado, arrefecendo um pouco o corpo que já esquentava com a recente subida. Eu e o João, acabávamos por ficar sozinhos, num ritmo mais abusivo sempre a descer ora em estradão, ora por trilhos mais empedrados.
Conhecia aqueles caminhos, por já os ter feito no Freita Skyrunning, embora em sentido contrário, daí o abuso na velocidade, e da falta de atenção às fitas, que mesmo assim as achava muito distanciadas dando a sensação por vezes de estarmos perdidos. Prova disso foi termos encontrado o Fábio pouco depois fora do trajecto, que acabava por se juntar a nós.
Seguíamos os 3 na conversa, e num ritmo mais descontraído, por uma levada que nos levaria aos trilhos mais engraçados da prova, junto ao rio, entre velhos moinhos sempre envolta de uma floresta cerrada e verde.
A longa descida, com cerca de 4 quilómetros, terminava assim que chegávamos à aldeia de Cabrum, onde se metia uma ligeira subida, por entre as casas, campos e levadas, até ao abastecimento. Num pequeno descampado, onde o sol já brilhava, estava um dos reforços que mais adoro. Tudo caseiro, e com as iguarias daquelas aldeias que dão gosto de saborear.
Não ficamos muito tempo, mas ainda fiz questão de aproveitar aqueles breves minutos para ingerir o mais que conseguisse.
Créditos: Organização |
O cenário mantinha-se, assim que percorríamos um estradão, tenho que parar para procurar as fitas, sendo que às vezes tinha que seguir um pouco às cegas, até então ver a próxima fita.
Eram vários metros até encontrar a próxima fita, e estando assim tão espaçadas, acabamos por fazer uns 500 metros a mais à procura de uma fita que não existia. Estávamos novamente perdidos. Automaticamente abrandamos, e voltamos para trás à procura da última fita. Mais 500 metros, e ali estava ela, mas sem sinal de outra que desse para continuar o caminho.
|
Enquanto a procurávamos, e numa descida um pouco escondida vemos que seria por lá que deveríamos seguir caminho, surge de novo o rapaz, que acaba por ver que nos tínhamos perdido e aproveita para tentar se distanciar de nós.
Naquele momento sentia-me injustiçado, e com vontade de deitar a toalha ao chão. A única coisa que valia ali era o trilho que nos levava até ao rio, feito à mão tricotando até ao leito do rio, uma vez mais com falta de fitas, lá acabamos por encontrar o caminho, que nos levaria para a última subida. O Fábio voltava a cerrar os dentes, e seguiu, desta vez a todo gás para terminar aquilo, eu e o João, que se tinha aleijado ficamos um pouco para trás, enquanto o rapaz tentava novamente fugir de nós. Controlamos a subida, não sabíamos se era extensa, nem se iria ter muita inclinação ou não, mas teríamos que a controlar, e só dessa forma conseguimos aproximar e ultrapassar de novo.
Assim que o fizemos, não demos mais hipóteses, foi prego a fundo em rumo à meta.
Íamos frustrados, e novamente com dificuldades em encontrar fitas, e por pouco não houve mais um engano aquando a chegada de um portão fechado seguido de um muro com cerca de 1,50 metros de altura, não fosse o João a reparar nas fitas. Não tentamos abrir o portão, avançamos o muro e desatamos a correr, os trilhos eram bonitos, single tracks, misturados com caminhos antigos, e alguns riachos, mas aquela sinalização estava a deitar tudo a perder.
|
Reconhecemos que havia falta de sinalização, e indicamos isso mesmo à organização, sendo injusto para o Fábio, acabando por ceder o lugar a ele.
A opinião foi unanime, percurso espectacular, abastecimento impecável, mas falta de sinalização, ou mais reforço nos cruzamentos ou mudanças repentinas de direcção, que valeu a muitos enganos durante o caminho. Contudo, nem tudo foi mau, e o objectivo de preencher o pódio com as três primeiras posições tinha sido conseguido.
Um pódio, em pleno. Créditos: Organização |
0 comentários:
Enviar um comentário