Foi
uma surpresa agradável. Logo que soube que iria haver uma terceira maratona em
Portugal, perto de casa, e com meses de separação em relação às restantes
(Lisboa e Porto), não olhei para trás.
Era
Aveiro a cidade escolhida, local conhecido por ser relativamente plano, em
contrapartida, algo ventoso. Fosse como fosse, queria lá estar às 08.30h no
final do mês de Abril.
A
tarde de Sábado, foi para ir calmamente levantar os dorsais, e tentar apreciar
alguma coisa do evento, como a feira da Maratona. Feira essa que escapava aos
mais desatentos. O que não me escapou foi a forte ventania que estava naquela
tarde. Vento forte e frio, valia o sol para aquecer um pouco, enquanto
imaginava o sufoco que ia ser o dia seguinte se assim se mantivesse.
Créditos: Organização |
Créditos na foto |
Manhã
de Domingo, e nada me incomodava, não estava com aquele nervoso miudinho de uma
maratona, nem pensava muito nisso, parecia que iria só ali ao lado correr uma
distância curta e já vinha. No entanto a minha ideia, e tendo em conta a minha
(má) preparação, apontava para as 03.30h, mais coisa menos coisa, e como eu
estava enganado.
A
chegada a Aveiro, surpreendeu-me logo por dois motivos, o primeiro pelo tempo.
Não havia ponta de vento, e o céu era coberto pelo nevoeiro cerrado, sem ser
possível ver um raio de sol. O segundo motivo, era o evento em si, era uma
partida/meta vistosa.
O
evento juntava outras distâncias, e é nisto que culpo um pouco a organização,
em juntar todos para arrancar à mesma hora, era algo confuso, para além das
estreitas estradas logo de inicio que dificultavam a progressão.
Aguardava
pela hora, eu e o Fábio, enquanto conversávamos íamos deixar rolar a ver no que
dava. Sabia que aquilo era aquela habitual conversa pré partida, que quando
estivéssemos no terreno a coisa era diferente.
Não
demorou muito a comprovar isso, tiro de partida, e saímos ainda algo contidos,
mas sempre com ultrapassagens devido à confusão. Mal o Fábio vê algum espaço
para poder progredir, e isto ainda com sensivelmente 1,5km, avança, ainda me
coloquei atrás dele, mas pensei para com os meus botões, “deixa-te ir aqui, que
vais bem, e já vais a abusar”. Seria uma luta minha, sozinho e sem objectivos,
apenas deixa andar. No entanto sabia que para aquelas 03:30h, teria que andar
num ritmo próximo de 5 min/km, o que ia a fazer, era uns 4:20 min/km, e quando
se metia descidas pelo meio, abusava um pouco.
Créditos na foto |
Enquanto
deixava Aveiro para trás, ia magicando como seria dali para a frente, o relógio
apontava para um brilharete, mas estava reticente em relação a isso, não tinha
treino para tal.
Foram
cerca de 6 quilómetros uma zona industrial, e a separação da maratona da meia
maratona, as estradas ficavam um pouco mais vazias, e após alguns quilómetros
com “companhia”, procurava alguém a quem me colar para não seguir sozinho.
Ainda
arranjei alguém com quem segui durante uns metros, mas rapidamente fiquei
sozinho, continuava sempre no mesmo rimo, e sem sinal sequer de fraquejar, ou
mínimo de cansaço físico. Seguimos até Gafanha da Nazaré, onde já encontrava
mais companhia, as ruas começavam a ser preenchidas, ou mesmo nas janelas de
casas, havia sempre alguém que aplaudisse, provavelmente a parte mais divertida.
Chegava aos 21KM, e enquanto olhava para o relógio, via que acabava de fazer o
meu segundo melhor tempo na distância, e sem sinais de quebras.
Juntava-me
a outro atleta durante alguns quilómetros, enquanto metíamos conversa para nos
distrair com o passar dos quilómetros.
Com
25 quilómetros, entro na Barra, local bastante conhecido por ser bastante
ventoso, algo que me preocupava, mas nada, apenas pequenas brisas que só
ajudavam a arrefecer o corpo.
Enquanto
contornava a Barra, acabava uma vez mais por ficar sozinho, desisti de procurar
companhia, e seria altura de seguir à minha vontade, e testar-me.
O
relógio acusava os 30 quilómetros já percorridos, enquanto pensava nos míticos
muros, mas ao mesmo tempo continuava a sentir em perfeitas condições. Foi ali
que comecei a delinear o desfecho da prova, ia tentar um brilharete.
Eram
longas rectas que me levavam até Aveiro, valia a zona habitada e os locais,
espaçados em alguns grupos para dar mais algum animo. O sol começava a
espreitar, todas as sombras que visse, eram o meu local de passagem.
Agradecia
em jeito também de despedida a todos que me saudavam, enquanto seguia para o
segmento mais me massacrou.
O
sol já se conseguiu descobrir de todo aquele manto cinza, não que seja muito
forte, mas aquecia o suficiente para me derrotar um pouco, e naquele
descampado, numa longa recta, não facilitava em nada. Foi um pouco doloroso
chegar a Aveiro, sob o sol, mas ali chegado as sombras ajudavam, e já faltava
pouco. Estava curioso para ver aquela meta agora com 42 quilómetros nas pernas,
mas ainda faltava uns longos 4 quilómetros.
Créditos: Organização |
O
calor estava a afectar, e precisava de água para beber e refrescar. Ali estava,
faltavam 2 quilómetros para o final, e estou no centro de Aveiro.
Era
o culminar de tanta solidão ao longo de vários quilómetros. As pessoas na rua,
aplaudiam e constatavam o que já sabia, que faltava pouco, mas quando ouço que
faltava somente aquela subida, e depois era sempre a descer, foi como me dessem
umas pernas novas. Podia não ser bem assim, mas naquele momento acreditei em
todas as palavras que me tinham dito, e desatei a correr, forcei um pouco mais
e estava mesmo no alto, parecia que tinha conquistado uma montanha.
Faltava
atravessar a ponte, e depois era só descer, tal como me tinham dito.
Alegra-me
ver a descida, mas ao mesmo tempo os músculos apertam, ignoro, levanto a cabeça
e sigo em frente. A uns 200 metros parece-me ver o Fábio, mas não podia ser.
Ele ia bem à minha frente, e provavelmente já teria terminado. A menos que
alguma coisa tivesse corrido mal.
Aos
poucos vou ganhando terreno, e era mesmo ele. Algo deve ter acontecido, para
ele estar ali, alguma quebra o fez atrasar. Acelero um pouco mais para ver se
conseguia terminar com ele, e dar-lhe força naqueles metros finais. Fim da
ponte, e os quadríceps apertam de tal forma, que parece que vai dar cãibra. Não
agora, não ali, uma vez mais ignoro, e tento ganhar mais alguns metros. Começa
a cheirar a meta, surgem mais apoiantes, mais gente a aplaudir, e um enorme
corredor humano que nos leva até ao final.
Apanho
o Fábio, coloco a mão nas costas e chamo-o “vamos lá, até ao fim”, era uma meta
cheia, cheia de gente, e cheia de boa disposição.
Foi
um brilharete em todos os sentidos. Uma organização que para uma primeira
edição esteve bem acima do razoável, obviamente existem coisas a melhorar, mas
a estrutura de base é esta, e pareceu bastante sólida.
O
brilharete maior para mim, foi a nível pessoal, que consegui atingir um tempo
que jamais pensaria lá chegar se não treinasse para tal. Retirar 30 minutos ao tempo
final é muita coisa, fiquei quase perto das sub 3 horas, mas as 03:05h de
prova, já me satisfez por completo.
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