terça-feira, 16 de maio de 2017

Trail de Conímbriga Terras de Sicó

Fantástico! Começo já assim para descrever o Trail em Terras de Sicó.
Os trilhos de Conimbriga, ficou-me na memória desde 2016, pouco depois de ter iniciado no mundo da corrida, quando vi a reportagem da prova.
Daquilo que foi possível ver, conseguiu logo colar-me ao ecrã. A primeira coisa que pensei quando terminou, foi "Tenho que participar naquela coisa!". Foi ali que se acendeu a primeira chama para o Trail.
As terras de Sicó teriam que ser uma passagem obrigatória, mais tarde ou mais cedo.
Quase 1 ano depois, com o recente regresso aos trilhos, e com o que pretendia para o ano 2017, tenho finalmente a oportunidade de correr pelos trilhos de Sicó, na distância de 25 KM (anunciados), que acabou por ser uns 26,5 KM.

Após algumas leituras de relatos da prova, apercebi-me que iria ter alguma dureza, e que o famoso trilho da cascata poderia ser um bom parte pernas, já na recta final.
Isto seria tudo bom para retirar um pouco de entusiasmo. O que não aconteceu. 
A espera pelo dia, fez-me lembrar quando era criança à espera do dia de Natal para abrir as prendas.
Tudo estava a correr bem até ao dia anterior, quando recebi a noticia da morte de um amigo. Deitou-me abaixo, e perdi bastante entusiasmo para a prova. Acabei por dormir mal nessa noite, o que tudo junto me fez encarar a prova, como mais uma.

Não desisti, e aproveitei para espairecer um pouco e gozar daquilo que a vida nos dá fazendo o que mais gostamos.
Infelicidades à parte, seguimos 3 atletas para as terras das ruínas de Conimbriga, para participação no Trail 25 KM e no mini Trail 15 KM.

Após uma viagem mais madrugadora que o normal, chegamos a Condeixa para levantamento dos dorsais que se fez bastante rápido e com facilidade.
Sendo o único participante na distância de 25KM coloco-me no pórtico de partida onde se juntou bastantes atletas. O tempo estava bastante agradável para o mês de Fevereiro, ao contrário do que se tinha sucedido no ano anterior.
Após 1 minuto de silêncio em homenagem à senhora Analice, deu-se o sinal de partida e aqui vamos nós.
Nem o entusiasmo que até antes dois dias tive, e a espera para o arranque me deram o abanão suficiente para esquecer tudo e pensar na prova. Podia ser que com o andar a cabeça pensasse em outras coisas.

Os primeiros quilómetros são dentro da localidade em direcção às ruínas.
Logo de seguida do saímos piso em ruínas, e entramos na terra. Entrando no mato temos ligeiras subidas, sempre feitas a correr sem grandes pressas.


Por estradões mais largos continuamos até Ameixieira, uma pequena aldeia onde se encontrava o 1º abastecimento. Não parei, tinha tudo o que necessitava, e que daria até ao próximo abastecimento, e segui novamente pelo mato fora, após uma rápida passagem pelo asfalto.

- Por falar em asfalto, quase nem se viu.

O percurso era bastante rolante, facilmente se corria, sem ser necessário ser um ás em “tecnices”.
Tudo parecia correr bem até termos à vista, a primeira grande subida.
Com ligeira inclinação é possível correr até ao quilómetro 7, sensivelmente. Depois iniciamos num estradão acessível, mas que aos poucos vai afunilando e tornando-se bastante técnico. É engraçado ver a evolução deste percurso, começando com pequenas pedras após a terra batida, e árvores traçando o caminho. E acabar com pedras grandes envoltas em arbustos que só caminhando em cima delas seria possível subir sem grandes problemas.
Ao olhar para cima, conseguia ver o topo da montanha e uma fila que preenchia o trilho por completo, olhando para trás, a mesma situação, mas com a vantagem de uma vista bem melhor.
Finalmente no topo aproveito para recompor um pouco o fôlego enquanto olho em redor tendo um cenário de montanhas fantástico.
Rapidamente se inicia a descida, e esta sim, bastante técnica de inicio a fim com bastante pedra solta, e situações que só saltando se poderia avançar. Fiz a descida confortavelmente sem grandes pressas e evitar grandes mazelas para o resto da prova.


Já em plano, no final da descida uma vez mais olho para trás e temos a pequena, mas grande montanha, ainda bem povoada por outros que ainda a serpenteavam numa excelente descida que dá vontade de repetir. Os bombeiros lá se encontravam no final, com uma boa sombra e vista para a montanha. Aliás, os bombeiros fizeram presença em vários pontos durante a prova.
Felizmente ao fim de algum tempo consegui esquecer um pouco o desanimo com que ali tinha chegado e já estava a encarar a prova de melhor forma que a comecei. Já deu para desfrutar um pouco.

Apenas conhecia um local com nome de “Furadouro”, e esse é uma praia, no entanto aqui no meio das montanhas o “Furadouro” era uma aldeia. E era essa aldeia que nos dividia da montanha pequena, mas grande, para a montanha com maior altura.
Cerca de 200 metros feitos em 1 KM. 1000m de distância feitos a caminhar. Ainda vi alguns a tentar a sua sorte, mas o calor já apertava um pouco e fazia estragos, tendo em conta aquilo que ainda faltava fazer. Encontrei um colega conhecido que acabamos por ir na conversa até ao topo. Acabamos eventualmente por seguir em ritmos diferentes, mas ainda nos encontramos algumas vezes durante o percurso.

Aos 400 metros de altitude chegamos à “Capela da Senhora do Circuito”, e temos finalmente o final da última subida mais vertical. Não que não houvesse mais subidas, mas não com tanta altitude. Desta vez já não deu para olhar para trás, pois não havia possibilidade para tal.
Nova descida, não tão técnica como a primeira, mas mais rolante.

Subidas e descidas com maior declive estavam feitas, restava chegar a Casmilo, e novo posto de abastecimento e 1º paragem para abastecer.
Com uma pequena festa da aldeia, foi assim que os habitantes nos receberam e onde estava o buffet. Devido à diversidade deste abastecimento parecia um autêntico restaurante, não havia nada em falta, no que em abastecimentos de Trail diz respeito. E não estou a reclamar, antes pelo contrário, porque acho que acabei por comer mais do que o que corri.
Aproveito para encher as garrafas com água. E pouco tempo depois volto a fazer-me ao trilho.


Trilho que é feito em direcção às buracas de Casmilo.
Das várias vezes que tinha vindo para esta zona, nunca tinha ouvido falar, nem conhecia este local até conhecer esta prova.
Era um dos locais que me chamou mais atenção, devido à forma das montanhas rochosas com pequenos buracos, como se cavernas fossem.
Mas antes de ali chegar temos um trilho de se tirar o chapéu. Deram-lhe o nome “Trilho de Buracas”, não fosse estarmos lá perto.
Os locais de passagem passavam de 8 para 80 num abrir e fechar de olhos.
Após um local com terra batida com árvores mais dispersas, entramos numa floresta, onde obviamente o arvoredo ficou bem mais denso, e o piso não era só de terra. Uma vegetação bastante densa, com raízes das árvores fazendo parte do piso, e algumas pedras. Isto tudo feito num single-track que quase nem precisava fitas tendo em conta o quão fácil era de identificar o percurso que se fazia num zigue-zague constante. Pelo meio, corríamos paralelamente à encosta das rochas, onde já se via os enormes buracos. No sentido oposto a esta encosta, via-se montanhas altas e rochosas. Só por este trilho já valeu a pena a inscrição.



As enormes buracas encontravam-se após a saída do arvoredo denso, para novamente um descampado com árvores dispersas.
Voltamos às subidas e caminhos rolantes para desgastar um pouco mais as pernas. Por entre algumas partes com estradões de terra, trilhos estreitos em pedra, escadas também elas em pedra. Uma zona com alguma semelhança a ruínas (provavelmente até eram).



Na aldeia Serra de Janeanes, no meio de casas antigas feitas de pedra e xisto, encontramos o 3º abastecimento. Tentei ser o mais breve possível, tendo em conta o tempo que já tinha perdido anteriormente. Não iria correr para ganhar nada, mas também não queria passar uma eternidade a fazer 25 KM. Rapidamente enchi os soft flask, peguei em alguma comida e segui por entre casas de pedra num pequeno trilho também em pedra e algumas escadas.

A parte com mais desgaste psicológico foi o trajecto até Poço. Na encosta de uma montanha num estradão bem largo sempre a subir fui correndo até começar a sentir os 1º sinais de cansaço. Tomei um gel, tento estabilizar um pouco e continuo até chegar à aldeia, onde tínhamos o último abastecimento antes da chegada à meta – Condeixa.
Se até ali tivemos abastecimentos bastante requintados, neste tivemos apenas algumas peças de fruta, chegamos ali mal-habituados. Cruzamento com a caminhada e temos o inicio da parte final com destino ao famoso e doloroso trilho da Cascata.
Entrada num pequeno mato, e rapidamente o deixamos para trás, para começar em caminhos mais técnicos num parecido carrocel, com pequenas lombas sempre a subir e descer paralelamente ao Rio Ega. Segue-se passagem por pedra solta e finalmente um pouco de arvoredo para sombrear um pouco o caminho devido ao forte calor que já se fazia.



Após 21 KM já começava a sentir cansaço. E finalmente aparece a tão aguardada tabuleta Trilhos da Cascata. Quando vi que o trilho fazia lembrar o das buracas, já sabia que ia ser mais um que iria dar gozo, mas para contrariar um pouco levei com a famosa marretada nas pernas. Ali estava ele, o homem da marreta, sentado à sombrinha de perna cruzada à minha espera. Ainda conseguiu dar uma pequena marretada, mas lá consegui fugir. O 1º dos 50 KM deve ter conseguido fugir ao homem, não fosse a passagem rápida por mim, e nunca mais o vi.


Muito parecido com das buracas. Bastante técnico, com uma diversidade florestal bastante bonito.
O leito do rio com pedras já verdes do musgo que desta vez não tinha água.
Estava a ser tudo muito bonito e interessante, mais uma amostra de que esta prova terá que ser repetida. Para meu mal a marretada foi novamente dada pouco depois, que me forçou a um esforço tremendo nesta última fase.
O que até ali estava a ser um dos momentos mais altos da prova, devido ao trilho que era, tornou-se penoso. Quando tudo parecia ter acabado, eis que começam travessias entre árvores e inclinações, descidas técnicas, subidas igualmente, e escalada. Mas que raio se passa? É que feito burro, nem o gel que me sobrava ingeri para tentar recompor o mínimo que fosse. Já que não o tomei, podia ter atirado aos pés do homem da marreta para ver se escorregava.

O trilho é simplesmente brutal, mas para mim naquele momento foi tudo menos isso. Para acalmar um pouco o pós-quebra, temos um pequeno mato plano e descendente onde deu para rolar um pouco. As pernas que mais parecia chumbo, foram esforçadas aqui um pouco. Não sei como resultou e renasci um pouco que me deu força para chegar ao final.

3 horas e 30 minutos depois chego à meta, e satisfeito.
Consegui vencer o homem da marreta e o trilho da cascata. A prova é lindíssima, com paisagens de se tirar o chapéu.
A organização esteve discreta, mas bem completa. Apenas acho que o abastecimento em Poço deva ser um pouco melhorado, ou fiquei mesmo mal-habituado.
Para o ano se tudo correr bem faço questão de voltar a Condeixa e participar pelo menos nos 25 KM novamente, ou se não o fizer antes, estrear-me numa ultra. Fica a dica.


Descansa em paz, amigo!

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