Fantástico! Começo já assim para descrever o Trail em Terras de Sicó.
Os
trilhos de Conimbriga, ficou-me na memória desde 2016, pouco depois de ter
iniciado no mundo da corrida, quando vi a reportagem da prova.
Daquilo que foi possível ver, conseguiu logo colar-me ao ecrã. A primeira coisa que pensei quando terminou, foi "Tenho que participar naquela coisa!". Foi ali que se acendeu a primeira chama para o Trail.
As terras de Sicó teriam que ser uma passagem obrigatória, mais tarde ou mais cedo.
As terras de Sicó teriam que ser uma passagem obrigatória, mais tarde ou mais cedo.
Quase
1 ano depois, com o recente regresso aos trilhos, e com o
que pretendia para o ano 2017, tenho finalmente a oportunidade de correr pelos
trilhos de Sicó, na distância de 25 KM (anunciados), que acabou por ser uns
26,5 KM.
Após
algumas leituras de relatos da prova, apercebi-me que iria ter alguma dureza, e
que o famoso trilho da cascata poderia ser um bom parte pernas, já na recta
final.
Isto
seria tudo bom para retirar um pouco de entusiasmo. O que não aconteceu.
A espera pelo dia, fez-me lembrar quando era criança à espera do dia de Natal para abrir as
prendas.
Tudo
estava a correr bem até ao dia anterior, quando recebi a noticia da morte de um
amigo. Deitou-me abaixo, e perdi bastante entusiasmo para a prova.
Acabei por dormir mal nessa noite, o que tudo junto me fez encarar a
prova, como mais uma.
Não
desisti, e aproveitei para espairecer um pouco e gozar daquilo que a vida nos
dá fazendo o que mais gostamos.
Infelicidades
à parte, seguimos 3 atletas para as terras das ruínas de Conimbriga, para
participação no Trail 25 KM e no mini Trail 15 KM.
Após
uma viagem mais madrugadora que o normal, chegamos a Condeixa para levantamento
dos dorsais que se fez bastante rápido e com facilidade.
Sendo
o único participante na distância de 25KM coloco-me no pórtico de partida onde
se juntou bastantes atletas. O
tempo estava bastante agradável para o mês de Fevereiro, ao contrário do que se
tinha sucedido no ano anterior.
Após
1 minuto de silêncio em homenagem à senhora Analice, deu-se o sinal de partida
e aqui vamos nós.
Nem
o entusiasmo que até antes dois dias tive, e a espera para o arranque me deram
o abanão suficiente para esquecer tudo e pensar na prova. Podia ser que com o andar
a cabeça pensasse em outras coisas.
Os
primeiros quilómetros são dentro da localidade em direcção às ruínas.
Logo de seguida do saímos piso em ruínas, e entramos na terra. Entrando no mato temos ligeiras subidas, sempre feitas a correr sem grandes pressas.
Logo de seguida do saímos piso em ruínas, e entramos na terra. Entrando no mato temos ligeiras subidas, sempre feitas a correr sem grandes pressas.
Por
estradões mais largos continuamos até Ameixieira, uma pequena aldeia onde se
encontrava o 1º abastecimento. Não parei, tinha tudo o que necessitava, e que daria até ao próximo abastecimento, e segui novamente pelo mato fora, após uma rápida passagem pelo asfalto.
- Por falar em asfalto, quase nem se viu.
O percurso era bastante rolante, facilmente se corria, sem ser necessário
ser um ás em “tecnices”.
Tudo parecia correr bem até termos à vista, a primeira grande subida.
Tudo parecia correr bem até termos à vista, a primeira grande subida.
Com
ligeira inclinação é possível correr até ao quilómetro 7, sensivelmente. Depois iniciamos num estradão acessível, mas que
aos poucos vai afunilando e tornando-se bastante técnico. É engraçado ver a
evolução deste percurso, começando com pequenas pedras após a terra batida, e árvores traçando o caminho. E acabar com pedras grandes envoltas em arbustos que só caminhando em cima delas
seria possível subir sem grandes problemas.
Ao
olhar para cima, conseguia ver o topo da montanha e uma fila que preenchia o
trilho por completo, olhando para trás, a mesma situação, mas com a vantagem de
uma vista bem melhor.
Finalmente
no topo aproveito para recompor um pouco o fôlego enquanto olho em redor tendo um cenário de montanhas fantástico.
Rapidamente
se inicia a descida, e esta sim, bastante técnica de inicio a fim com bastante
pedra solta, e situações que só saltando se poderia avançar. Fiz a descida
confortavelmente sem grandes pressas e evitar grandes mazelas para o resto da
prova.
Já
em plano, no final da descida uma vez mais olho para trás e temos a pequena,
mas grande montanha, ainda bem povoada por outros que ainda
a serpenteavam numa excelente descida que dá vontade de repetir. Os bombeiros lá se encontravam no final, com uma boa sombra e vista para a montanha. Aliás, os bombeiros fizeram
presença em vários pontos durante a prova.
Felizmente
ao fim de algum tempo consegui esquecer um pouco o desanimo com que ali tinha chegado e já
estava a encarar a prova de melhor forma que a comecei. Já deu para desfrutar
um pouco.
Apenas
conhecia um local com nome de “Furadouro”, e esse é uma praia, no entanto aqui
no meio das montanhas o “Furadouro” era uma aldeia. E era essa aldeia que nos dividia da montanha pequena, mas grande, para
a montanha com maior altura.
Cerca
de 200 metros feitos em 1 KM. 1000m de distância feitos a caminhar. Ainda vi alguns a tentar a sua sorte, mas o calor já
apertava um pouco e fazia estragos, tendo em conta aquilo que ainda faltava
fazer. Encontrei um colega conhecido que acabamos por ir na conversa até ao
topo. Acabamos eventualmente por seguir em ritmos diferentes, mas ainda nos
encontramos algumas vezes durante o percurso.
Aos 400 metros de altitude chegamos à “Capela da Senhora do Circuito”, e temos finalmente o final da última subida mais vertical. Não que não houvesse mais subidas, mas não com tanta altitude. Desta vez já não deu para olhar para trás, pois não havia possibilidade para tal.
Aos 400 metros de altitude chegamos à “Capela da Senhora do Circuito”, e temos finalmente o final da última subida mais vertical. Não que não houvesse mais subidas, mas não com tanta altitude. Desta vez já não deu para olhar para trás, pois não havia possibilidade para tal.
Nova descida, não tão técnica como a primeira, mas mais rolante.
Subidas
e descidas com maior declive estavam feitas, restava chegar a Casmilo, e novo
posto de abastecimento e 1º paragem para abastecer.
Com
uma pequena festa da aldeia, foi assim que os habitantes nos receberam e onde
estava o buffet. Devido à diversidade deste abastecimento parecia
um autêntico restaurante, não havia nada em falta, no que em abastecimentos de Trail diz respeito. E não estou a reclamar, antes pelo contrário, porque acho
que acabei por comer mais do que o que corri.
Trilho
que é feito em direcção às buracas de Casmilo.
Das
várias vezes que tinha vindo para esta zona, nunca tinha ouvido falar, nem
conhecia este local até conhecer esta prova.
Era
um dos locais que me chamou mais atenção, devido à forma das montanhas rochosas com pequenos buracos, como se cavernas fossem.
Mas
antes de ali chegar temos um trilho de se tirar o chapéu. Deram-lhe o nome “Trilho
de Buracas”, não fosse estarmos lá perto.
Os
locais de passagem passavam de 8 para 80 num abrir e fechar de olhos.
Após
um local com terra batida com árvores mais dispersas, entramos numa floresta,
onde obviamente o arvoredo ficou bem mais denso, e o piso não era só de terra. Uma vegetação bastante densa, com raízes das árvores
fazendo parte do piso, e algumas pedras. Isto tudo feito num single-track que
quase nem precisava fitas tendo em conta o quão fácil era de identificar o
percurso que se fazia num zigue-zague constante. Pelo meio, corríamos paralelamente
à encosta das rochas, onde já se via os enormes buracos. No sentido oposto a
esta encosta, via-se montanhas
altas e rochosas. Só por este trilho já valeu a pena a inscrição.
As enormes buracas encontravam-se após a saída do arvoredo denso,
para novamente um descampado com árvores dispersas.
Voltamos
às subidas e caminhos rolantes para desgastar um pouco mais as
pernas. Por entre algumas partes com estradões de terra, trilhos estreitos em
pedra, escadas também elas em pedra. Uma zona com alguma semelhança a ruínas (provavelmente até eram).
Na aldeia
Serra de Janeanes, no meio de casas antigas feitas de pedra e xisto,
encontramos o 3º abastecimento. Tentei ser o mais breve possível, tendo em
conta o tempo que já tinha perdido anteriormente. Não iria correr para ganhar
nada, mas também não queria passar uma eternidade a fazer 25 KM. Rapidamente
enchi os soft flask, peguei em alguma comida e segui por entre casas de pedra num pequeno trilho também em pedra e algumas escadas.
A
parte com mais desgaste psicológico foi o trajecto até Poço. Na encosta de uma
montanha num estradão bem largo sempre a subir fui correndo até começar
a sentir os 1º sinais de cansaço. Tomei um gel, tento estabilizar um pouco e
continuo até chegar à aldeia, onde tínhamos o último abastecimento antes da
chegada à meta – Condeixa.
Se
até ali tivemos abastecimentos bastante requintados, neste tivemos apenas
algumas peças de fruta, chegamos ali mal-habituados. Cruzamento com a caminhada
e temos o inicio da parte final com destino ao famoso e doloroso trilho da
Cascata.
Entrada
num pequeno mato, e rapidamente o deixamos para trás, para começar em caminhos
mais técnicos num parecido carrocel, com pequenas lombas sempre a subir e
descer paralelamente ao Rio Ega. Segue-se passagem por pedra solta e finalmente
um pouco de arvoredo para sombrear um pouco o caminho devido ao forte calor que
já se fazia.
Após 21 KM já começava a sentir cansaço. E finalmente aparece a tão aguardada tabuleta Trilhos da Cascata. Quando vi que o trilho fazia lembrar o das buracas, já sabia que ia ser mais um que iria dar gozo, mas para contrariar um pouco levei com a famosa marretada nas pernas. Ali estava ele, o homem da marreta, sentado à sombrinha de perna cruzada à minha espera. Ainda conseguiu dar uma pequena marretada, mas lá consegui fugir. O 1º dos 50 KM deve ter conseguido fugir ao homem, não fosse a passagem rápida por mim, e nunca mais o vi.
Muito parecido com das buracas. Bastante técnico, com uma
diversidade florestal bastante bonito.
O leito do rio com pedras já verdes do musgo que desta vez não tinha água.
Estava
a ser tudo muito bonito e interessante, mais uma amostra de que esta prova terá
que ser repetida. Para meu mal a marretada foi novamente dada pouco depois, que
me forçou a um esforço tremendo nesta última fase.
O
que até ali estava a ser um dos momentos mais altos da prova, devido ao trilho
que era, tornou-se penoso. Quando tudo parecia ter acabado, eis que começam
travessias entre árvores e inclinações, descidas técnicas, subidas igualmente,
e escalada. Mas que raio se passa? É que feito burro, nem o gel que me sobrava
ingeri para tentar recompor o mínimo que fosse. Já que não o tomei, podia ter
atirado aos pés do homem da marreta para ver se escorregava.
O
trilho é simplesmente brutal, mas para mim naquele momento foi tudo menos isso.
Para acalmar um pouco o pós-quebra, temos um pequeno mato plano e descendente
onde deu para rolar um pouco. As pernas que mais parecia chumbo, foram
esforçadas aqui um pouco. Não sei como resultou e renasci um pouco que me deu
força para chegar ao final.
3
horas e 30 minutos depois chego à meta, e satisfeito.
Consegui
vencer o homem da marreta e o trilho da cascata. A prova é lindíssima, com
paisagens de se tirar o chapéu.
A
organização esteve discreta, mas bem completa. Apenas acho que o abastecimento
em Poço deva ser um pouco melhorado, ou fiquei mesmo mal-habituado.
Para
o ano se tudo correr bem faço questão de voltar a Condeixa e participar pelo
menos nos 25 KM novamente, ou se não o fizer antes, estrear-me numa ultra. Fica
a dica.
Descansa
em paz, amigo!
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