terça-feira, 8 de maio de 2018

Trilhos dos Pernetas 2.5 - Uma bela "pernetada"


Antes de me iniciar nesta coisa de crónicas de corridas pela internet fora, também lia, e ainda leio alguns blogues que partilham da mesma paixão que temos por este mundo da corrida. Um deles é o do Carlos Cardoso, que me fez conhecer uma prova realizada por um grupo de amigos que também eles correm, imagem lá! Não pude comparecer na primeira edição, mas fiz questão de aparecer para a segunda, à qual chamaram 2.5. A maneira como publicitaram esta prova é diferente do que se está habituado e que me cativou para estar presente este ano. Geralmente vejo vídeos todos “catitas”, com paisagens e locais de passagem “XPTO”, que por vezes correspondem à realidade, e por outras leva-nos ao engano.
Aqui não, o método mais simples e arrojado, mas eficaz que tiveram para partilhar, foi com vídeos entre eles numa forma descontraída e cómica de forma a mostrar alguns dos locais que passaríamos, no “quintal” deles, como lhe chamavam. Não que fosse algo fora do comum, ou que realçasse alguma particularidade, mas sempre avisaram que não ia ser fácil e alguns percursos bastantes técnicos.

Como se pode levar a sério?
Numa forma mais invulgar, foi escolhida o feriado 1 de Maio, para realizar o “Trilhos dos Pernetas 2.5”, era uma terça-feira. Não seria por aí que me iria conter, e enchi-me de peito para enfrentar os 32 KM, que a organização continuava a insistir em avisar para treinar, que ia doer. Mas com vídeos daqueles como os poderíamos levar a sério? Uma coisa era certa, galhofa e boa disposição estavam garantidos, agora dores nas pernas logo se via.
O único dia a meio da semana que podia dormir até mais tarde, e para não contrariar a tendência, lá tive que levantar cedo, juntar-me a dois colegas, rumar em direcção a Canedo, levantar dorsais, prepararmo-nos para às 9h estar no local da partida para o arranque.
A viagem foi curta e rápida, o levantamento dos dorsais igualmente rápidos, a preparação, bem essa posso dizer que o tempo que demoro a equipar é semelhante a uma rapariga na pura adolescência a preparar-se para um sábado à noite. A partida também foi num ápice, às 9h lá íamos nós, parecíamos quenianos numa prova de estrada, não fosse o arranque feito numa descida.

Créditos na foto
Cerca de 1 quilómetro em estrada sempre bem rolante, da maneira que a gente gosta, e da maneira para dispersar um pouco o pessoal, até entrar finalmente em trilhos, onde a primeira incursão seria já afunilada, existindo uma ligeira fila que mantinha um passo certo e não atrasava ninguém. Engraçado que agora pensando bem, não me recordo bem dos locais que passei nesta fase inicial. Isto porquê? Ia num ritmo bastante certo e apetecível que só atentava onde colocava os pés e por quem passava. Bastante gente conhecida, cumprimenta aqui, cumprimenta acolá, e lá se ia avançando com pernas a responder ao pedido, e respiração sempre controlada. Tudo à maneira e impecável, até estava surpreendido em como as coisas estavam a correr tão bem, mas era uma fase muito prematura para pensar o que fosse.

Primeira subida, e penso para mim, que as coisas iriam aquecer, e a minha expressão seria algo semelhante a um recém-nascido. Surpresa, fiz praticamente a correr duma ponta à outra. Alguma coisa se estava a passar e não estava a perceber. Seriam os treinos que estavam a dar resultados? Seria sol de pouca dura? Se sim ou não, vou esmiuçar este “sol”. Não sendo um percurso que tenha uma beleza rara, poderíamos aproveitar apenas em alguns locais, e a passagem por uma pequena ponte sobre o rio era o que mais realçava no meio de vegetação bem mais densa.
Este cenário foi apenas para aliviar um pouco a pressão da subida que se aproximava, e de seguida aí estava ela por estradões que nos levavam até ao primeiro abastecimento. Nada de muito técnico nem de rogar pragas a quem quer que fosse, mas o suficiente para abrandar um pouco os ânimos.
Não foram muitas, as provas de trail que participei, mas já conheço algumas e posso dizer que esta malta sabe o que faz. Abastecimentos impecáveis, e com pessoal bastante prestável e bem-disposto. O que se podia pedir mais?

Descida propicia a quedas! Créditos - Organização
 
A mítica ponte da prova! Créditos - Organização
Abastecido e recomposto, sigo viagem numa descida, e que descida. Longa bem ao jeito dos joelhos começaram a dar umas pequenas picadas. Cerca de 100 metros de desnível negativo em 1000 metros, até nova travessia pelo rio Inha, onde desta vez o atravessamos não por uma ponte, mas sim mesmo pelo leito que nos tapava até meio da canela. Não existia outra forma, e o refrescar das pernas foi uma boa sobremesa após o abastecimento, dado o calor já um pouco mais alto aquando o inicio.

Uma das travessias aquáticas. Créditos na foto
Poderíamos pensar que era uma sobremesa composta por fruta e bastantes doces, mas não. Apenas deram-nos a fruta e rapidamente serviram o café. A rápida travessia do rio e o virar da esquina, escondia a segunda subida que nos levava até à aldeia de Parada. O desnível não era muito, mas tinha uma inclinação já um pouco mais acentuada e um piso terrível para as pernas. Agora compreendia alguns atletas que conheciam a zona andarem com bastões, iriam ajudar muito naquele terreno a progredir, mas estando eu de mãos a abanar, teria que ser assim que a subia. Pedras soltas, e as únicas enterradas na terra eram lisas mesmo a pedir um pequeno deslize para um pequeno tombo. As sapatilhas aos poucos iam dando sinais que não eram indicadas para aquele piso, e começo a dar asas à minha intenção de investir num calçado novo, mas primeiro teria que sair dali. Não a correr, mas com passada controlada sem estragar o que até ali fiz sem sequer ouvir um “ai” do meu corpo como forma de avisar que estava em esforço. Já no topo, não desato a correr, apenas recupero um pouco o folego e mal vejo piso bom para correr, volto a encher os pulmões e aumento a passada para um ritmo confortável de corrida.

Pequena amostra do que aí vinha. Créditos - Organização
O confortável desvanece em pouco tempo, e a descida por um largo estradão, coloca-me a velocidades não muito normais em mim neste tipo de terrenos. Mas que podia fazer? Dizer que não a todo aquela boa sintonização do meu organismo? Claro que não.
Apenas disse não, quando me deparei com dois casos caricatos e ao mesmo tempo nada caricatos. Uma descida praticamente vertical, toda em terra solta, que o mais rápido e fácil era enrolar o corpo em forma de bola e descer aquilo. Enquanto aquela descida nos fazia alguma espécie, já me preocupava a louca subida que tínhamos pela frente. Um autêntico piso acidentado, cheio de pequenas pedras e terra solta, sobre enormes rochas lisas e escorregadias. Eles bem tinham avisado, e estavam a apontar para isto. Poderemos dizer que me encontrava no fundo de um vale que formava um “v” perfeito. Tamanha era a descida vertical que havíamos feito, como a subida que nos fazia prosseguir no nosso caminho. Acompanhava algum tempo um outro atleta que já conhecia a zona e saca dos seus bastões para a longa subida, o que eu me roí por não ter uns naquele momento. De alguma maneira teria que fazer aquilo, ali não iria ficar e foi assim que arranjei coragem e arranquei para “escalar” aquela tremenda parede armadilhada.

Uma de três! Créditos - Organização
Escalar é praticamente o termo, houve partes que tive que colocar as mãos no chão, inclusive uma que me voltou a dar asas à imaginação para novas sapatilhas, quando as actuais me deslizam sobre a rocha, e faz com que comece a descer contra a minha vontade. Numa rápida investida do atleta que levava os bastões, agarrou-me e evitou uma queda provavelmente algo aparatosa. Agradecimentos feito mais que uma vez, pois acabara de salvar uns valentes arranhões à minha pele, e prováveis ossos partidos, e volto ao alpinismo, mas já com mais cuidado. Os pequenos planos que existiam a meio eram uma forma de alívio para os quadríceps, que gritaram ao fim de 3 muros idênticos. Como se não fosse o suficiente subir cerca de 100 metros em 400 metros, no final de toda aquela ascensão, apenas virávamos à direita e a subida prolongava-se sem fim à vista, mas desta vez em piso almofadado a comparar com o que acabávamos de atravessar.

Agora compreendia o porquê de todos os avisos para treinar, que ia doer, pensei que o pior estava feito apenas teria que recuperar de toda aquela suadela que me fez lembrar a “Besta”, e seguir caminho. Aos poucos fui recuperando e voltando a dar um ar de atleta, mas que colocava de lado ao fim de alguns metros percorridos. Estradões largos que nos encaminhavam para o segundo abastecimento mesmo no topo daquele enorme monte. Quanto mais subíamos, menos vegetação nos rodeava devido aos incêndios daquela zona, que ainda se conseguia identificar por enormes zonas pretas sem qualquer tipo de árvore. Contudo, aquele local proporcionou uma das mais bonitas paisagens de toda a prova, onde se podia ver os restantes montes e campos que ali existiam em toda a volta. Deu um pouco para desligar a ficha da valente dor de pernas que tinha ganho, e já aguardava por encontrar um valente manjar mesmo lá no cimo.
O problema é que ninguém me avisou, (nem tinham que avisar) que para lá chegar teríamos uma recordação das anteriores paredes. Certamente ninguém ainda se teria esquecido, mas para o caso de alguém sofrer de Alzheimer, o concurso para alpinismo estava de novo aberto. O que vale é que tinham um bom abastecimento de novo, e uns gajos porreiros que me ajudaram a encher as garrafas que já se encontravam coladas de já nem ar existir dentro delas.
Ali era a marca que indicava a divisão de 4 concelhos, quase nem olhei para ela, queria era sair dali antes que se lembrassem de colocar de novo alguma subida à minha frente. O conhecedor daquela zona que até ali me acompanhou dizia que o pior estava feito, apenas teríamos uma subida semelhante, mas era mais para a frente.

A tragédia dos incêndios. Créditos - Organização
Se há coisa que dou preferência entre subir ou descer, é a subida. Quer dizer, se for uma descida lisa sem nada a estorvar e não muito comprida, aceito-a de bom grado, mas com pedra escorregadia e pedra solta, não obrigado. E com isto quero dizer que o senhor dos bastões esqueceu de avisar, que iriamos ter uma descida idêntica à subida. Não que tivesse alguma obrigação em o fazer, mas já me ia preparando psicologicamente. Mas até lá chegar ainda tinha alguns quilómetros pela frente, em longos estradões bem ao jeito de rolar, colocar um sorriso rasgado na cara e picar os joelhos. Mas assim que a vejo foi com um fechar de boca e um engolir em seco que vislumbrei aquela descida. A confiança com as sapatilhas já não estava no seu auge, e a progressão foi feita sempre com precaução até chegar a terreno plano e seguro. Basicamente parecia um individuo que tinha medo de andar de avião, e quando pisou terra firme só não beijou o chão por vergonha.

Agora seria a minha vez de me vingar, ou pelo menos pensei eu. Assim que volto a piso firme e olho em redor, não vejo por onde poderíamos subir, e tudo indicava para um bom pedaço de terreno plano para dar uso às pernas. Estava recuperado e pronto para avançar, mas tinham que nos pregar alguma partida. Assim que penso que poderia recuperar algum tempo perdido na descida, qual não é o meu espanto que temos um trajecto praticamente inundado. Ora aparecia lama que acabava por enterrar as sapatilhas tornando-as pesadas, ou aparecia uma valente poça de água, que só não criava crocodilos lá dentro por não ter demasiada profundidade.
Por muito que quisesse lavar as sapatilhas de toda a lama colectada logo ali, a água era castanha ao ponto de dar um pouco mais de sujidade. Não que me preocupasse, pois sou daqueles que lavar as sapatilhas que uso para o monte é feita na travessia de rios. E por falar nisso, ainda nos deram essa grande oportunidade.

Créditos - Organização
Já tinha facturado 23 KM, e o sol já estava bem alto mesmo à maneira para tostar, necessitava de uma lavagem de sapatilhas e de um valente mergulho. A lavagem do calçado foi feita em grande estilo, já que a travessia do rio uma vez mais era em modo aventureiro, refrescando as pernas com água a chegar perto do joelho. Já o mergulho esse, fica para outra altura. Infelizmente a cor azul que brilhava dos meus pés acabou por se tornar em castanho assim que volto a correr, levantando alguma terra que facilmente colava às sapatilhas. Que se lixe isto!
Seguimos directos a um pequeno troço de estrada que nos levava até ao último abastecimento mesmo ao lado do um longo rio Inha. O desgaste já era um pouco evidente, mas ainda me sentia com pernas para andar, e a confiança para fazer bom tempo estava em cima. Alimentei-me, enchi novamente as garrafas que já se encontravam quase vazias dado o tremendo calor, e siga em frente.

Rio Inha. Créditos - Organização
Estava a ser um dia perfeito, e uma prova praticamente perfeita, mas em alguma altura teria que cometer um erro, e foi ali. Não por não ter comido uma das sandes de presunto que tinha no abastecimento e um cálice de vinho do Porto, mas sim por ter comido algo que sabia que o meu estomago iria aceitar sem queixas, mas que teria de lhe dar tempo para digerir. Pois, mas não dei. Assim que termino e agradeço uma vez mais aos prestáveis voluntários, começo a correr como se numa prova de estrada estivesse, nem dei tempo ao estômago para dar as boas vindas aos alimentos, nem agradecer a minha generosa bondade. Mais tarde acabou por me dar a resposta a todo aquela agitação, e não foi nada generosa. Um mau estar, e alguma má disposição deitaram-me abaixo e não estava a conseguir recuperar. Lembram-se do individuo que falou da subida que ainda teríamos por fazer? Bem ali estava ela! O meu pensamento acabou por sair pela boca, e já derrotado apenas disse “outra vez não!”.

Talvez esta subida tenha sido o melhor que me aconteceu naquele momento. Não que não me proporcionasse dores de pernas, pois estava a abusar da boa disposição que tinham naquela manhã, mas lá se aguentaram, mas sim por manter uma passada mais lenta, e ajudar a acalmar o estomago que teimava em revoltar-se contra mim. Ao fim de alguns minutos lá me fui começando a sentir melhor, mas ainda não era o suficiente para soltar as pernas. Vim praticamente todo o caminho acompanhado por alguns atletas, mas o cenário estava a mudar de figura. Com a travessia de um longo caminho empedrado percorrido por um pequeno caudal de água que regava algumas ervas que cresciam entre as pedras, começo a ficar sozinho. E assim que chego a uma zona de mato bem aberto via bem ao longe já numa longa subida quem me precedia, mas que rapidamente desaparecia aquando a viragem numa longa curva. Olhando para trás não conseguia ver ninguém, estando ali naquele local completamente sozinho. O cenário daquele um mato completamente limpo onde se via a terra castanha a virar um pouco para o vermelho e límpida, e várias árvores dispersas foi o meu ponto de viragem e da mudança de cara de enterro que tinha.

Sandes de presunto e vinho do porto. Créditos - Organização
Já faltavam poucos quilómetros para terminar, e após renascer, volto finalmente a colocar um andamento semelhante à corrida, mas desta vez sem parar ao fim de alguns metros.
O som da música e do speaker começava a ser audível, o que significava estar mesmo perto do final. Não dei a parte fraca e optei por dar corda às pernas para terminar em beleza. Logo após a travessia de um pequeno caminho, estamos de volta ao local de partida que se encontrava mesmo à frente do nosso nariz. Mas com este pessoal nada podia ser mais enganador e nada é certo. Começamos a descer, e teríamos que terminar a subir, obrigando-nos a descer uma escadaria paralela à subida da meta, e subir até ao fim. Enfim, “peanuts” ao fim de 30 KM, ou será que não?

Consegui gerir e aguentar bem até aos 25 KM, sem dar qualquer sinal de mazela, ou queixa que me derrotasse. Um pequeno erro no final, obrigou a lutar para fazer os últimos quilómetros, mas felizmente tudo se compôs e consegui terminar sem grandes queixas.
E por falar em queixas, também não as posso fazer com uma organização destas. Estiveram impecáveis, garantindo a boa disposição sempre que víamos ou cruzamos com alguém, nem que fosse um simples “força aí”, era garantido seja para o mais veloz como para o mais lento. Ou pelo menos foi essa a impressão que fiquei.
Os abastecimentos com uma qualidade fantástica e com pessoal bem prestável sempre que era necessária alguma coisa.
As marcações, não que tivessem mal marcadas, mas por incluir fitas de cores diferentes para as diversas distâncias. Não que fosse daltônico, ou esquecesse da cor que tinha que seguir, mas quando cruzávamos com as outras distâncias, existia várias fitas, e por vezes não coincidia estarem todas juntas, o que causou algumas dúvidas ao pensar que teria passado algum corte. Nada de grave, mas que é fácil de resolver, com umas setas a indicar o desvio dos atletas.
E por fim, falar das maravilhosas sandes de presunto com ovo estrelado e mini, que no fim daquela distância, foi um autêntico manjar de deuses. Foi um forrobodó!

Medalha finisher interessante. Créditos na foto
Para o ano apenas sugiro colocar duas sandes e duas minis à disposição por atleta, fica a dica! EHEH.

Deliciosas! Créditos - Organização


quarta-feira, 2 de maio de 2018

Meia Maratona de Vigo - Vig-Bay


Por muito que goste de trail, ainda existe algo em mim que continua a chamar para a estrada, para um bom desafio. Já desde Outubro que não fazia a distância dos 21 quilómetros em provas no asfalto, e para voltar teria que ser em grande.
Seria a primeira vez a correr, em prova, fora de território nacional. Vigo era o local onde se organiza uma prova de excelência. Aliada à proximidade, é uma experiência fantástica e bastante bonita dado o percurso, resumindo vale a pena o dinheiro (estadia + inscrição).
Isto a somar um grupo de cerca de 40 elementos, foi a diversão total, enchendo um autocarro, e seguir viagem ao inicio da tarde de Sábado rumo a terras espanholas.

Foi das melhores preparações que fiz para uma prova, e com excelentes frutos. Seguiu bem melhor do que o que esperava, tendo incluindo uma prova pelo meio, onde bati meu record pessoal, e as pernas continuavam sempre a responder ao que queria, estando a atingir o meu melhor momento de forma até então. Como tudo não é um mar de rosas, na quarta-feira dessa semana, após chegar a casa de um treino, sinto uma forte dor no pé, que me coloca numa situação de desconforto total. Tem que sempre acontecer alguma coisa antes de um dia de prova, e esta não foi excepção, tentei recuperar até ao dia com repouso do pé e pomada anti-inflamatória.

Vista do Porto de Vigo.
Já no país vizinho, logo após uma viagem tranquila, com um pouco de chuva à mistura, foi só fazer check-in no hotel e dar uma volta pela cidade de forma a conhecer um pouco. Qual a melhor maneira para se passear num curto espaço de tempo? A correr obviamente. Eu e mais 2 colegas fomos os únicos aventureiros em fazer uma pequena volta para conhecer, e aproveitar para testar o meu pé. A volta acabou por ser a mais óbvia. Seguir até junto ao mar, e correr. A nível de paisagem surpreendeu-me.
O pé, esse maldito, quando pensava ter a situação mais ou menos controlada, voltou a manifestar-se, não antevendo bom cenário para o dia seguinte.

A grande jantarada!
Cedo toca o despertador e seria altura de preparar tudo para sair logo após o pequeno almoço.
Eram 8.30h, quando nos dirigimos para o autocarro que nos levava até à partida. Era uma prova linear, que de certa maneira gosto, por ser locais distintos tanto na partida como de chegada. A caminhada até ao transporte foi um pouco dolorosa, devido ao pé. Teimou em não dar tréguas, e cada vez pensava mais na desistência bem antes de iniciar a correr.
Chegado ao local de partida, ignoro o pé, e sigo em direcção à partida, já não havia volta a dar, ou seguia naquele autocarro, ou num da organização, mas esse queria evitar. Com arranque apenas às 10.30h, deu ainda para conversar, e combinar últimos detalhes. Detalhes esses, idênticos ao da prova do Dia do Pai, acompanhar novamente o Hélder e Nelson, e manter um ritmo certo até ao final. O objectivo era claro, chegar ao final e tentar bater o record novamente.

Antes da partida, e após um pequeno aquecimento vejo o caso a complicar-se cada vez mais. A dor no pé estava forte, tentei mobilizar mais o pé de forma a aquecer e ver se a dor desaparecia, ou se diminuía de intensidade, mas não dava de maneira nenhuma. Colocar-me-ia na partida e ver se ao arrancar a dor minimizava, caso contrário seria encostar e dar por encerrado aquele capítulo.
É certo não ter ido a muitas meias maratonas, mas aquela estava a surpreender-me. A organização e o ambiente envolvente estavam noutro nível bem acima das minhas expectativas, até um helicóptero sobrevoava-nos já antes do arranque, que foi dado aos milhares que ali se encontravam, logo após o hino de Galiza. Engraçado que em terras espanholas, e o mais frequente era ouvir portugueses a falar, tamanha era a quantidade de portugueses ali dispersos.
Arranquei relativamente à frente, e deu para correr minimamente bem desde inicio, visto estarmos numa estrada bem larga. O pé, esse maldito que tanto me preocupou, decidiu levatar a sua bandeira branca e render-se. Felizmente não se manifestou durante toda a prova, contudo ia sempre atento, para o caso de me dar algum sinal que não gostasse.


Mantendo sempre um ritmo certo, avançamos até estar numa zona bem mais confortável com menos confusão. Uma das características de todo o percurso, era ser grande parte junto à costa, com vista para o mar, o que dá uns pontos extra. Não se pode reclamar muito do desnível da prova, existindo algumas subidas, mas nada que não se aguente sem nunca estragar a média. As subidas que iam aparecendo na fase inicial seriam de maior declive, mas de curta distância, o que dava bem para puxar, e manter quando voltávamos a piso plano. E quando tínhamos de grande extensão, como o caso de uma de 3 quilómetros, apenas subia 50 metros durante essa distância, o que não se reflecte nada para quem pretende manter um ritmo certo e atingir objectivos. Para ajudar, no final dessa maior subida, existe uma descida bem mais longa onde dava para recuperar algum tempo perdido atrás, caso tivesse acontecido. No meu caso felizmente consegui estar à altura, e não me incomodaram.

A partir de cerca dos 5 quilómetros, seguíamos apenas eu e o Hélder, ora puxando um, ora puxando o outro. Até conseguirmos encontrar um espanhol que se mantinha junto a nós já algum tempo, e contribuiu um pouco para a nossa motivação, sendo por breves momentos ele o nosso ponto de referência a seguir. Mantivemo-nos sempre juntos até à descida, onde acabou por ficar um pouco para trás. Após uma fase um pouco mais distante da costa, seguimos numa longa recta em direcção ao mar, onde se começa a sentir as primeiras gotas de chuva miúda que já prometia algum tempo. Com a chuva veio também um pouco de frio, que felizmente ia preparado para isso graças aos manguitos.
Esta seria a melhor fase da prova e a mais importante. Já com metade da distância realizada, seria tempo para ajuizar as coisas, e saber gerir sem estragar nada até ao final. No meio de várias pessoas que se encontravam nas ruas, ainda conseguíamos também olhar para o mar e ilhas não muito distantes.


Já perto dos 13 quilómetros, e uma prova bem gerida, tanto em ritmos, como em hidratação, não quis arriscar, e optei por tomar um gel, que sabia que ia ajudar dentro de pouco tempo, com o inicio do desgaste.
Por distracção minha, à espera do abastecimento de água, para ajudar a tomar o gel, calculei mal os quilómetros, e tomei um pouco antes da água, que ainda tardou um pouco a aparecer e ajudar a empurrar, e facilitar a absorção. Foi o único deslize que tive, mas que não condenou de maneira nenhuma o que tinha feito e o que havia por fazer. Travessia na ponte, e estamos a chegar a Baiona, onde era o local da meta. No pouco tempo que lá tive, pareceu-me uma localidade bem bonita para se passear, com mar, e alguma zona histórica.

O percurso manteve-se como iniciou, junto à costa, mas a presença de apoiantes era demais. Já tinha lido que correr em Espanha, era diferente, devido ao grande incentivo que vem dos “nossos hermanos”, e de facto tenho de concordar, sabem-no fazer e como o fazer. Eram os últimos quilómetros, e fisicamente estava bem, e ainda sentia energia para mais, mas pensei em não estragar tudo na recta final, e ainda bem que o fiz. Se há coisa que detesto que aconteça enquanto corro, é levar com vento de frente, e foi o que aconteceu. Desmotiva-me por completo, sinto o dobro do esforço, e mais lento a correr, e obrigou-me a esforçar para manter os ritmos que tinha feito até ali. Rapidamente, coloquei-me novamente à frente do Hélder, e seria eu a impor o ritmo até ao fim. Não abusando de inicio, mas aumentando gradualmente. Ainda com algum vento a obrigar a um esforço extra, mas ao mesmo tempo que vamos entrando em zona de habitação, o vento desaparece, e seria mais fácil. Quando se esperava estar a quebrar, foi quando ganhei mais força para tentar o meu 2º objectivo. O primeiro (terminar), já o tinha como garantido, agora seria alimentar esforços para conseguir roubar o maior tempo possível ao meu recorde pessoal.

O relógio apita, e estamos no último quilómetro e alguns metros para terminar.
- “Hélder, vamos lá!” – Gritei, e ele sem falar, respondeu da melhor maneira colocando-se junto a mim, e a aumentar. Foi o quilómetro mais rápido de todo o percurso, e o mais saboroso. Ainda um pouco antes da meta, o relógio anunciava a distância de meia maratona completa, com 01:34:08, mas o pórtico de chegada ainda se encontrava ao fim de uns 300 metros. Que importa? Já bati o recorde, já está feito!

Grande trabalho feito com o Hélder, que contribuiu uma vez mais, para mais um sucesso. Mais tarde, e após análise de tempos, também verificamos ser o novo RP para o Hélder.
Aguardamos ainda a chegada do Nelson, que 2 minutos depois chegou. Assim vale a pena!
Depois de tão boa disposição e conquistas, faltava um bom banho, comer e rumar a casa.


Excluindo o facto de ter feito o melhor tempo até ao momento, esta meia maratona, fica sem dúvida na lista de melhores provas de estrada que fiz. Reparei ao longo daqueles 21 KM, toda a preparação para aquele dia, desde o policiamento, estradas completamente cortadas, bombeiros, protecção civil, voluntários, apoiantes (cheguei a reparar que uma mulher esteve em 2 pontos da prova para apoiar”), beleza do percurso. Para mim, a única falha, que não me causa muito transtorno, é o facto de não haver indicação dos quilómetros ao longo do percurso, não sendo um erro crasso, mas algo que ajuda a ter uma noção da distância marcada pela organização, que por vezes não corresponde com o relógio, como foi aqui o caso.
Para o ano, está previsto mais uma edição, e a juntar pela primeira vez os míticos 42 quilómetros. Um caso a considerar!