Já não é a primeira vez que dou uma segunda oportunidade a
uma prova, e que acabam por me surpreender, fiz isso com o Ultra TrailMedieval, e fi-lo novamente com o Vouga Trail.
Esta, sem dúvida alguma, na sua primeira edição, deixou-me a
desejar, percurso sem interesse, e o S. Pedro que não contribuiu para melhorar a
coisa na altura.
A organização prometeu uma remodelação na integra da 2º
edição, se seria para melhor é que era uma dúvida, fechei os olhos e atirei-me
de cabeça, vamos lá ver no que isto dá.
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Créditos na foto |
A gélida manhã, não afastou muitos. Eram imensos, uma
multidão, que se encontrava em Senhorinha, localidade de Sever do Vouga para enfrentar
os 27KM com 1200 D+ anunciados.
Este, para mim foi um erro da organização, sendo uma prova
linear, e disponibilizando autocarros para nos levar até ao local de partida,
tivemos que aguardar quase hora e meia para a hora de partir. O que nos valeu,
foi termos um pequeno café/restaurante, onde podemos nos concentrar e aguardar,
mais quentes que ao ar livre.
Demorou, mas lá chegou a hora de partir, e foi debaixo da
ainda fresca manhã que e num ambiente bem animado que se deu os primeiros
passos de corrida.
O longo segmento em asfalto inicial, serviu também ele para
aquecer um pouco, além de dispersar um pouco o pessoal. Os primeiros trilhos
eram feito num caminho mais alargado, o que permitia rolar cada um à sua
vontade, o que fazia parecer uma prova de downhill a quem estivesse a apreciar.
Descíamos gradualmente sem grandes declives, até à primeira mais acentuada, foi
ali que realmente a coisa ficou dispersa.
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Final da descida. Créditos Objectiva em Movimento |
Senti que as pernas estavam a responder, e dei os primeiros
apertos a correr, sem grandes exageros.
A primeira subida, era o que havíamos feito no ano anterior a
descer. É inclinada, mas dá para manter um ritmo de caminhada mais forte,
intercalando um pequeno trote em partes menos agressivas aos gémeos. Recordo
que seguia num grupo de 3 ou 4 elementos, e seguíamos sempre a ultrapassar
imensa gente que ali já abrandava.
Mais de metade da subida feita, apenas uma ligeira descida
para acalmar os ânimos e retomávamos até atingir o cume daquele monte.
Recordava o frio que passei ali na primeira edição, e que se
seguia, uma inclinação brutal, mas desta vez feita a descer. Ainda que algo
receoso, e meio que a travar, fiz mais de rompante que o habitual.
Surgia finalmente os primeiros trilhos mais vistosos e mais
rolantes, single tracks, escadas, mais ou menos técnicos, um fartote.
O maior destaque, vai para os longos estradões que pouco de
interessante trazia à prova, e que em segredo nos ia elevando a altitude. Nada
que se fizesse notar, dado a ligeira inclinação, uma ou outra mais acentuada,
mas curta o suficiente para passar despercebida. Os trilhos agora começavam a
moldar-se, e estava embrenhado num louco single track, que percorria uma
encosta, que ao mínimo deslize iríamos parar ao rio.
Encaminhava-nos até ao parque da Cabreia, com uma cascata
fantástica, o caudal estava cheio devido às recentes chuvas, e o cenário apenas
pedia para ser desfrutado, não ficando ninguém indiferente.
O frio já havia ficado para trás algum tempo, e o sol ainda
que fraco já se colocava a aquecer-nos o pouco que fosse. As ligeiras subidas,
já não eram assim tão ligeiras, gradualmente ficavam mais íngremes, e começava
a moldar o ritmo da maioria de quem ali seguia.
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A chegar ao topo da primeira subida. Créditos na foto |
Silva Escura, pequena aldeia de Sever do Vouga, onde
cruzamos maior parte do caminho pelo asfalto, e curiosamente sempre a descer.
Uma maneira simpática de nos levar as profundezas, e relembrar que até à serra
do Arestal é sempre a subir.
Ali na aldeia, recuperei a caixa, e estava entusiasmado por
estar com pernas e com a sensação de ainda poder dar mais, as coisas estavam a
correr bem. Pelo menos até ali…
A subida já havia começado algum tempo, mas nada de muito
agressivo, com algumas abébias pelo meio, o que até facilitava a coisa, mas ali
não havia margem para dúvidas, não precisava de indicações, nem de ninguém que
me indicasse que a real subida iria dar inicio. Recordava o gráfico publicado
pela organização, e era por esta altura que as coisas iriam tornar-se mais
sérias.
Ainda que com um começo algo tímido, paralelo a um riacho, e
só depois mesmo pelo meio do mesmo, sentia-se que as coisas iriam começar a complicar.
E não demorou muito, até entrarmos em trepa paredes, onde os pequenos montes apenas
eram transpostos pelo piso já calcado de quem ali havia passado.
Não se corria, nem se esforçava, enquanto formávamos uma
fila onde marcava o ritmo, e os restantes me seguiam. Aos poucos fomos
alcançando quem até ali nos precedia, e os últimos da prova de 47KM. Pé ante pé
lá fomos avançando sem grande história nem palavras, apenas ouvindo a
respiração, e o pousar das sapatilhas em pequenos ramos já ali tombados.
Era longa, e acentuada, sem que por breves momentos desse
sequer a possibilidade de ver o topo. Era oculto pela alta vegetação, e pelas
travessias que nos levava a mais uma subida. Ali comecei a sentir algum
desgaste, mas também contente por não ter caibras dado já o longo tempo que
levava a fazer o mesmo movimento.
A travessia da estrada nacional, indicava a chegada a Portas
Vermelhas, e realmente era uma cor de alarme, as coisas não suavizavam e o fim
continuava sem se avistar. Estava desgastado fisicamente, e psicologicamente
estava a ser uma tortura por não saber o que faltava.
Faltavam poucos metros para um terreno mais rochoso, e onde
conseguia ver alguns a correr após o transpor.
Seria ali o fim do tormento? Sim e não…
Realmente as coisas modificaram, já não havia paredes, nem
nada de muito técnico que obrigasse a maior atenção ou agilidade, porém os
músculos estavam amassados devido à longa subida.
Queria um abastecimento, que estava previsto ao quilómetro
16,5, mas que o meu relógio contrariava, visto já acusar pouco mais de 16 e não
ter sinais de vista.
Ia trincando uma barra enquanto caminhava um pouco para
recuperar, as pernas que até ali se tinham portado lindamente, estavam agora
desfeitas.
Conhecia a zona do Arestal onde iríamos passar, mas naquele
momento não me estava a conseguir situar, até finalmente entrar num estradão
que nos levava por entre duas das poucas casas que ali existe.
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Créditos na foto |
Assim que reconheço o local, vejo algumas pessoas ao fundo
que davam apoio e nos levavam até ao abastecimento que apenas surgiu quase aos
18 KM. Sentia-me vitorioso, e a partir dali era sempre a descer, bastava ter
pernas, que naquele momento não me pareciam capazes para tal coisa.
Dirigi-me ao abastecimento, e usando o que ali havia,
tentava recuperar energias para enfrentar os restantes quilómetros até à meta.
Assim que retomo o percurso, inicio uma ligeira corrida, mas
noto que as pernas ainda estão perras e insistem que não querem correr. Ao
mesmo tempo, sinto um ligeiro desconforto no estômago, e fico cariz baixo.
Agora que queria aproveitar para conseguir rolar devidamente, não estou capaz
de o fazer. A altitude, e o local mais sombrio, trazem novamente o frio, que me
congelam as mãos, de tal maneira que me obriga a embrulhar na gola que trazia
no pulso.
Só uns metros mais à frente consegui com que recuperasse a
temperatura, e as pernas também ficavam mais soltas, ainda que travem
ligeiramente.
A descida não tem grande história, grande parte feita em
estradões, corta fogos, por vezes lá se fazia um ou outro trilho que fazia
abrir o olho, mas nada de sonante.
Aos poucos as pernas vão permitindo abusar mais, volto a
conseguir impor o ritmo que desejava desde inicio e deixo de pensar em mazelas
ou dores de pernas, só queria aproveitar os últimos quilómetros de uma descida
que noutras circunstâncias teria sido melhor aproveitada. Com cerca de 21 KM já
intercalávamos o caminho com a prova mais curta até à linha da meta.
Entro em Sever do Vouga, e não há mais trilhos, somente
asfalto até ao parque de Lazer local, onde estava a meta.
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Equipa Vale Correr |
Foi uma modificação em pleno, a alteração de percurso, foi a
mais sensata e mais acertada, ainda que ache exagerado a passagem por
estradões, está algo mais bem desenhado e de forma a triturar cada um que se
atreveu a participar.
Tudo se resumiu a uma subida, onde obtivemos mais de metade
do acumulado, ainda que bastante oculta de inicio, mas já com vista a nos
receber, torturar e atirar-nos sem pernas para uma descida que por ela só pede
para correr.
São Pedro ajudou, e contribuiu para o sucesso desta edição,
com uma organização bem ciente do que era necessário para o conseguir.
Tenho curiosidade por esta prova. Ainda vi no site de inscrições mas achei cara para ser honesto. O preço 17 euros com uma t-shirt xpto. Mais valia não porem a t-shirt e baixarem o preço, mas tbm acaba por ser um elemento de triagem.
ResponderEliminarUma amiga minha tb foi no ano passado e disse que choveu a potes.
Olá.
EliminarSim, a t-shirt foi mais um "brinde" que chama o pessoal.
Em relação à prova, tendo ficado desiludido na primeira edição, talvez também pelo temporal que se fez sentir, este ano já gostei mais.
Apenas algumas alterações que na minha opinião podiam melhorar o percurso.
Em Janeiro já sabes, tens mais uma oportunidade.
Entre correr o Vouga Trail ou os Trilhos dos Reis, optei pelo último. Um dos principais motivos foi o feedback que tive acerca da 1º edição do Vouga.
ResponderEliminarEste ano já obtive um feedback diferente, pelo que no próximo ano é uma prova que provavelmente estará no calendário! Fui espreitar a classificação e vi que fizeste umas boas 2h54. Parabéns!
Boas corridas e continua a escrever ,)
https://andaviana.wordpress.com/