terça-feira, 19 de junho de 2018

Meia Maratona Douro Vinhateiro - Muita suadela


Tinha tudo para ser perfeito, mas incrivelmente tive que ceder.

Voltei à meia maratona, e a minha primeira presença no Douro Vinhateiro, que já “namorava” algum tempo. Por não conhecer a zona, e também aproveitar para ter uma pequena ideia do que aquilo realmente é, tendo em conta o próprio slogan da prova “A mais bela corrida do mundo”.
Foi pena não ter tido a oportunidade de ir já no dia anterior e poder passar um fim de semana mais descansado do que as correrias habituais em levantar cedo para ir para a prova. Para a próxima já fica o aviso.

Sempre me indicaram como uma boa prova para fazer tempos, e que o slogan realmente fazia jus daquilo que presenciávamos ao longo dos 21 KM, mas se há coisa que fiquei mais impressionado, foi com as excelentes paisagens que fomos presenteados ao longo do caminho até ao Peso da Régua. Ao longo de todo o caminho a única coisa que conseguíamos ver era o cinzento e cerrado nevoeiro que aquela manhã nos oferecia. Mas a longa passagem pelo túnel do Marão fez com parecesse que acabávamos de entrar num mundo totalmente à parte. O que era cinzento havia tornado azul com algumas nuvens brancas dispersadas, com o brilho do sol a iluminar as imponentes verdes montanhas que nos rodeavam.
Tinha sido uma noite muito mal dormida, e aquela paisagem fez-me arregalar bem os olhos quando ainda teimavam em ceder.
Muitas vezes imaginei vários cenários da minha pessoa a subir aquelas montanhas (o bichinho do trail também me acompanhou).

Créditos na foto
Barragem, local de partida. Créditos: Organização
Chegado ao local aguardei por uma amiga que teve a feliz ideia de já ir no dia anterior, e me fez o favor de levantar os dorsais.
Eramos 2 indivíduos, e 1 individua que tentávamos a sorte naquele dia em nos divertir, e o pequeno passeio ali junto ao rio Douro antes de arrancarmos para a partida, começou a mostrar-nos a realidade do que iria ser aquele dia.
Se inicialmente pensávamos que poderia chover, com a chegada à Régua, mudamos de opinião, e quando ainda pedíamos para pelo menos estar um ambiente fresco, aos poucos concordamos que aquele dia ia ser complicado. O calor começava a apertar, e já nada nos fazia acreditar que a temperatura iria baixar, que juntando à tardia hora de partida, 10.30h, quando o sol já se encontrava bem alto, a partir daí era a piorar.

Créditos na foto
Nada feito, o cenário era aquele, e seria assim que teríamos que gerir e chegar ao final.
Era um percurso linear, com chegada na Régua, e partida na barragem de Bagaúste, que felizmente já incluía na inscrição o transporte de um local para o outro. Escolhemos o comboio, e à hora marcada lá estávamos a ajudar a encher as várias carruagens que nos levava até junto da barragem.
A confusão já era muita, com muita gente da caminhada que nos gentilmente fazia um corredor para podermos avançar até junto do pórtico de partida. Já se encontravam bastantes atletas, e aos poucos o pouco espaço vazio foi enchendo com a continua chegada de autocarros e comboio. Tentei colocar-me junto do balão para o qual me tinha inscrito, 1.30h, mas já fiquei mesmo no final. Já aqui falei deste assunto, mas não entendo a falta de bom senso do pessoal que teima em se inscrever para um horário e se coloca fora do mesmo.

Créditos: Organização
Ainda aguardamos cerca de 20 minutos pelas 10.30h, debaixo do forte sol, quando foi dado tiro de partida em primeiro para os que mais admiro no meio de uma imensa multidão. Os atletas de cadeiras de rodas que partiam assim antes de nós cerca de 5 minutos.
E assim passado esse tempo era a nossa vez para os 21 KM bem quentes.
Fui com objectivos para uma prova que me pareceu acessível para tempos, tentando bater o meu recorde, ou se não o fosse possível tentar aproximar ao meu melhor tempo.
Saindo da barragem, virávamos à esquerda seguindo em direcção a Pinhão, ou seja, na direcção oposta da meta presente em Peso da Régua. Eram cerca de 7,5 KM até ao ponto de retorno que nos remetia novamente pelo mesmo local até ao local de partida, quando já acumulávamos mais ou menos 15 KM, onde mentalmente previa fazer o ataque ao tempo final.
A forte presença de atletas em toda a largura da estrada fez com que para ultrapassar toda aquela confusão teria que andar em ritmos algo desconfortáveis e incertos, contudo consegui com que os ritmos fossem sempre constantes. Fui mantendo sempre o ritmo dentro dos 4.30 min que era o que pretendia, e a longa descida que fizemos até ao retorno facilitou esse aspecto, mas tudo aquilo que havíamos descido teria que ser para subir.

Créditos na foto
Feito o retorno, começa um forte vento em sentido contrário à minha progressão, o que para mim, e que certamente para quase todos, se não todos, é uma lapada bem assente na cara.
E foi ali que algo na minha cabeça não estava a bater certo, porque quanto mais avançava no terreno que acabara de passar, achava tudo muito estranho. Quando pensava que iria subir, havia descidas e mais planos, o que originou uma grande confusão na minha cabeça, pois olhando agora para o gráfico, foi sempre a subir, mas naquele momento, parecia-me planos e descidas, e poucas subidas. Não consegui perceber o que se passou ali, mas foi algo estranho.

Créditos: Organização
De toda a forma, avancei sempre sem problemas, e como queria, até aos 10 KM, mas iria ser também o meu ponto de viragem para o que ainda restava.
O calor estava a dificultar cada passo que dava, e uma reviravolta na minha barriga estava a causar um tormento enorme para conseguir manter o ritmo que até ali mantive.
Tentei encontrar alguém com ritmo semelhante que conseguisse “colar” e manter, e já o vinha a fazer algum tempo com outro atleta, mas que mais à frente deixei de o ver, ficando sem saber se tinha ficado para trás, ou se teria avançado. Todas as outras “lebres” que fui procurando não resultaram, pois avançavam e não consegui acompanhar, ou o vice-versa.
A tentativa em olhar para a paisagem e distrair-me também não foram a melhor força que arranjei, mas ajudou ao longo de alguns metros, em certas partes do percurso.
A única coisa que me dava algum alento, era quando passava pelos abastecimentos, que foram muitos, e bastantes úteis dado as elevadas temperaturas, quando conseguia refrescar e hidratar. Sabia que devia tomar o gel para recuperar forças que estavam a desaparecer em abundância, mas o receio em uma forte indisposição era grande, e fui adiando.

Dos apoios mais animados! Créditos: Organização
A única forma que consegui criar algum alento a mim próprio, foi uma luta psicológica comigo mesmo, obrigando a avançar custe o que custasse, e foi esse o grande empurrão que levei para continuar. O objectivo já teria sido colocado de lado, e apenas implorava pelo final, e por chegar bem. Com a passagem pelos 15 KM, sabia que dali para a frente seria praticamente a descer, e ansiava por isso, para conseguir abrir a passada e recuperar os poucos segundos que fossem.
Era a altura de arriscar tudo, e decidi que iria tomar o gel, desse por onde desse. Se me sentisse mal, encostava à longa extensão de matos que íamos passando e desenrascava-me como tivesse que ser.
Tentava arriscar em avançar o passo, mas a indisposição não me permitia mais que aquilo. Pensei várias vezes em encostar, mas fui sempre adiando, até ter mesmo que parar para um rápido verter de águas, e prosseguir.
Pela primeira vez tive que parar em provas para o fazer, e não era para menos dado à grande quantidade de água que fui bebendo e virando por cima de mim ao longo de todo o trajecto.

Créditos na foto
A ansiedade em terminar era grande, e aqueles últimos quilómetros estavam a ser dolorosos.
Perto dos 20 KM entramos na ponte pedonal que atravessava o rio Douro e nos levava até à meta.
Esta travessia foi também a viragem de tudo o que presenciamos até ali. Antes, a única distracção eram as bonitas paisagens sobre o rio Douro, e as vinhas que o emergiam e algumas poucas dezenas de apoiantes que encontramos. Agora a paisagem era ofuscada pelo longo corredor humano, ao longo de pouco mais de 1 quilómetro até à meta. E isto era tanto do lado esquerdo, como do direito, um forte apoio, que fez com que os tempos que vinham a piorar até ali, conseguissem melhorar substancialmente. Sem querer sobrepor o nível paisagístico ao aglomerar de pessoas, mas foram estes que nos últimos minutos me deram as últimas forças para conseguir atravessar a meta e finalizar.

Não consegui manter o tempo que previa, mas dado aquilo que se passou, pensava que iria distanciar-me muito mais do que os 3 minutos a mais que somei ao meu tempo recorde. Era um dia não, para a meia maratona, e olhando bem para todas as circunstâncias, acho que acabei por fazer uma boa prova, dentro daquilo que sou capaz, e uma excelente luta comigo mesmo. Noite mal dormida, forte calor, má disposição e vento, foram os obstáculos que consegui derrotar ao longo de um bonito percurso, com um excelente apoio envolvente, mesmo durante os primeiros 15 KM, com pouca gente a ver. Cada palavra de apoio dos vários voluntários que estavam nos abastecimentos foram um grande empurrão. De facto, o grande momento da prova foi o último quilómetro, rodeado de, atrevo-me a dizer, milhares de pessoas.
Uma organização impecável, e eficiente em todos os aspectos, com um único ponto que não gostei em não existir controlo dos atletas para os diferentes tempos que definem para a partida.

Créditos: Organização
E sim, o slogan da prova condiz bem com tudo o que ali fizeram.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

RunCambra 2018 - À terceira é de vez


Não há duas sem três, ou pelo menos é assim que se costuma dizer. E o Runcambra é exemplo disso.
Existe alguns motivos para esta insistência numa prova que tem progredido, contudo acho um pouco ainda verde, e uma alteração do percurso, que por sinal já se torna um pouco “enjoativo”, era bem-vinda. O grande motivo é por ser uma prova do local onde vivo, e que gosto de estar presente se não for mais para o convívio com muita gente conhecida. Os restantes são os óbvios, para além de ter sido no evento em que me estriei a correr oficialmente, existe a habitual teimosia, em tentar bater o meu record da prova a cada edição que passa, e para não estar aqui a enumerar outros que não têm grande interesse, a grande tenda no final com iguarias da terra que são a cereja no topo do bolo ao final de 10 quilómetros bem esquentados.

Grande momento da FunWalking (Foto da Organização)
Houve algumas alterações desde a primeira vez que participei, e uma delas era no dia anterior a realização de uma prova para a pequenada e uma palestra sobre cuidados e recomendações para uma vida mais saudável.
Acredito que a palestra possa ter sido interessante, mas a minha atenção esteve apenas para ver a pequenada onde o meu afilhado participara na segunda edição deste evento. Deu para notar um ligeiro melhoramento, e maior presença de pessoal neste evento. Nem tudo vai mal.

A prova deste ano seria em muito semelhante aos anos anteriores, e podemos começar pelo calor. Não sei por que razão, mas neste dia a temperatura sobe em flecha, e dificulta bastante qualquer que seja o objectivo de cada um para aquele dia.
Uma das soluções para este problema era de solução rápida e eficaz, antecipando a prova em 1 hora, dando o sinal de partida às 9h e não às 10h, que é quando o sol já se encontra numa posição agradável para queimar o terreno. A vantagem da hora tardia, é poder estar um pouco mais na cama, sendo um privilegiado em ter que apenas atravessar o parque da cidade para estar no local pronto a arrancar. Foi assim nas minhas duas primeiras participações, e à semelhança do ano passado, logo após um bom aquecimento consigo colocar-me bem na frente, mesmo atrás da elite que desta vez devido aos prémios serem bem mais tentadores fez-se estar presente em mais força que o normal.

Seria uma prova para competir comigo mesmo e ver se conseguia retirar novamente alguns minutos ao meu tempo do ano passado. O forte calor estava a dar-me que pensar, e teria que saber gerir a fase inicial para evitar problemas como do ano passado. Felizmente estava consciente disso mesmo, e tentei ajuizar as coisas mesmo antes de arrancar.
Então sem atrasos, às 10 horas estava dado o sinal sonoro para a partida, num arranque forte é certo, mas controlado. Após várias confirmações da estimativa do tempo final com o meu relógio, vejo que o ritmo era muito elevado, e gradualmente abrando. Estava com juízo e foi a melhor estratégia que fiz para o que aí vinha.
O primeiro quilómetro pode condenar toda a prova, se tivermos um arranque bastante forte, iremos pagar as favas quando chegarmos às subidas e descidas que tanto marcam presença ao longo de todo o percurso.
Créditos: Organização
Soube gerir este arranque confortavelmente, e não me dei aos excessos que sabia que conseguia, e mantive a calma para fazer a primeira subida, que poderia dar desgaste mais lá para a frente. Logo de seguida temos a primeira descida, também sem abusar em demasia, tento apenas recuperar ligeiros segundos perdidos, e sigo rumo ao parque onde se encontrava grande parte do apoio deste evento.
O controlo desta fase era o mais fulcral e consegui sem grandes problemas, daqui para a frente seria comigo mesmo e seria para atacar os tempos gradualmente. Nova subida até ao centro da cidade, e o ritmo foi unanime mal piso terreno plano, mais uma ligeira inclinação e uma vez mais sem grandes alterações consigo ser fiel ao que vinha a fazer.

Já habituado e com algum conhecimento, consigo aperceber-me de alguns atletas que ali vão com um ritmo semelhante ao meu, e que consigo “colar” e aproveitar para “descansar” um pouco, sem grandes sombras, à excepção do cruzamento no centro da cidade, qualquer sombra que se houvesse era aproveitada para tentar minimizar o forte calor que estava. Prova disso era o facto de a garganta estar um pouco seca.

O abastecimento chegou perto do final da longa recta, onde muitos desmoralizam e são derrotados pelas curtas, mas inclinadas subidas que vamos fazendo. A água ajudou a refrescar o corpo, e a hidratar o pouco que fosse, para conseguir o meu grande objectivo.
Finalmente temos a longa descida que nos leva para o trajecto onde normalmente é a minha derrota e tento encarar isso da melhor forma possível, sem nunca desanimar. O facto de me ter colado alguém que ia na mesma “onda” que eu, foi um grande aliado, e após uma zona de plano, tento atacar a longa subida que, psicologicamente, acaba sempre por me derrotar. Acabo sempre por ir a baixo aqui, mas logo após um novo abastecimento adicionado este ano devido às altas temperaturas, consigo fazer sem problemas. Desta vez não sairia dali derrotado, não este ano, não hoje. Certo que foi o quilómetro mais lento que fiz, e a respiração ficou um pouco descontrolada. Já em direcção ao centro da cidade revejo na minha cabeça o que faltava e estava a chegar a hora de começar a atacar.

Créditos: Organização
A longa recta minimamente plana, serviu para controlar a respiração e preparar para aumentar o ritmo. A minha “boleia” tinha ficado para trás, e surpreendentemente encontrava-me sozinho numa prova de estrada, atletas que me antecediam iam com alguma distância, e para trás os metros começavam a ser maiores em relação a quem ainda aí vinha. Pequeno desvio no centro da cidade e foi o ponto de viragem, por ir sozinho, todas aquelas palmas e apoio verbal estava direcionado para mim, e faltava cerca de 2 KM para o final que segundo as previsões do meu relógio estava a apontar para 43 minutos baixos. Teria que roubar ali tempo desse por onde desse.
Era a melhor altura para atacar, seria cerca de 500 metros a descer, e 500 metros em plano até entrar no parque pela última vez em direcção à meta num último longo quilómetro que consegue tramar a mente. Fim da descida, e já via resultados na previsão final com menos 1 minuto, mas mesmo assim queria mais, e teria que ser neste último quilómetro.

O que aqui podia tramar a mente, é o facto de conhecer o local e saber que a meta se encontra no lado oposto da minha posição aquando a entrada no parque da cidade. Para além disto, é uma zona completamente a céu aberta com o forte sol a continuar a queimar a cada passo para o final. As ligeiras curvas vão escondendo os pórticos da chegada, e a ligeira inclinação final. É aqui que 2 atletas conseguem alcançar-me e passar-me, sabia que conseguia um sprint final, mas optei por manter aquele ritmo certo e chegar com um sorriso à meta do que um ar de desgaste. Finalmente iria confirmar o meu resultado final, e com agrado consegui tirar ca. 3 minutos ao ano anterior que tinha sido uma valente pedra no sapato. Agora seria altura para celebrar com as iguarias da terra e uma bela cerveja preta.

Houve melhorias e algum esforço para proporcionar um bom momento a quem ali estava, mas acho que ainda há alguma coisa em falta, só não consigo perceber o quê. Talvez mais gente a participar, talvez uma alteração do percurso, e assim ajude a vir mais atletas. Parece que não, mas de todas as provas de 10 KM que percorri, esta consegue ser das mais difíceis, se não a mais difícil, podendo ser por aí a pouca adesão.
Deu para notar também mais gente nas ruas para apoiar, o que é bastante positivo, e notou-se mais com a passagem pelo centro da cidade. A entrega de prémios, foi uma festa autêntica, que coincidiu com o término da caminhada. Esta, que pelos vistos teve melhorias significativas sendo um autêntico festival. Modificaram o conceito da caminhada que tem sido habitual até há bem pouco tempo, e pelo feedback, foi um autêntico arraial cheio de actividades ao longo de todo o percurso. De salientar também a inclusão de animação em alguns pontos do percurso da corrida, que em conjunto com maior presença de apoiantes na rua, dá outro ponto extra à prova.