quinta-feira, 29 de março de 2018

Prova de Atletismo de Cesar


Desta água não beberas. No entanto quando a sede aperta, … Este é um caso que se enquadra perfeitamente nestes termos.
Em Cesar, após os 8 quilómetros mais difíceis que até hoje realizei, afirmei que ali não voltaria, que não gostava da prova, que não achei piada nenhuma, bla bla bla … E o que aconteceu? Pois é, nova inscrição e correr. Por incrível que pareça, disse sempre que não ia, mas no final acabei por ceder, como se costuma dizer, o sangue começa a ferver e lixa-se tudo. Para tentar minimizar o impacto de ter que fazer aquilo tudo novamente, causando grande desgaste psicológico, pensei em lutar por um objectivo que era os 35 minutos, recuperar 3 minutos ao ano anterior. Assim podia ser que se anime mais a coisa.


Com uma equipa enorme, lá fomos para Cesar para mais uma amostra de 3 voltas manhosas.
Ainda com 1 hora de antecedência, deu para levantar os dorsais e fazer um aquecimento, até à hora de partida que acabou por atrasar devido às restantes provas que iam acontecendo antes da nossa. O percurso era exactamente o mesmo, já o calor não foi o mesmo, estava um dia excelente para dar às pernas, nem muito calor, nem muito frio.
Ainda com alguma teimosia minha tentei colocar-me o mais à frente possível, mas acabei por não o conseguir. Quando o tentei fazer, rapidamente fui engolido pela multidão que fez com que ficasse um pouco para mais trás do que pretendia.

Logo após o tiro de partida, tento avançar o mais rápido possível, mas não estava a dar. Alguns desvios, arranques e paragens, estava a ser difícil. Sobe passeio, desce passeio, novos arranques e finalmente ao chegar à primeira descida consegui abrir a passada e lá vou eu adiantando serviço. Fim da confusão, e tenho um teste com o psicológico, pernas e caixa. Vamos ver se a máquina aguenta estes andamentos. Tento sempre impor ritmos abaixo dos 4 minutos, e incrivelmente estava a aguentar-me bem. É certo que a fase inicial e as descidas ajudavam, até à grande subida onde o objectivo seria gerir, abrandando ligeiramente. Com um ritmo mais brando, e numa luta contra o psicológico chego à meta para mais uma volta.
Novamente aproveito as descidas e planos para acelerar mais um pouco, e já bastante disperso, consigo bons ritmos, estando forte fisicamente, e a respiração a encaixar na perfeição com o todo o resto.
Restava o psicológico que seria a grande chave para continuar assim, e que me preocupava para a última volta que ainda faltava.

Partida
E qual a melhor maneira para enganar a mente numa prova? Colocar mais um objectivo, tentar acompanhar alguém que vejo ter o meu ritmo. Antes da subida, acompanho outro atleta, que ao mesmo tempo pareceu-me ter feito o mesmo e “colar-se” a mim. Já na subida, noto que ele fica um pouco ofegante e não consegue progredir, acabando por recuar, e colocar-se atrás de mim. Com dentes cerrados, fiz uma vez mais os cerca de 2 quilómetros a subir até à meta, onde se encontrava uma grande multidão que ia dando apoio. Finalmente o arranque para a última volta, olho para o relógio e vejo que estou dentro do possível para conseguir o tempo desejado. O cansaço já começava a ser evidente, mas sabia que conseguia manter um bom ritmo e assim o fiz. Não me recordo de uma prova que tenha ultrapassado tanta gente, consegui ser consistente até à última passagem na subida. Sabia que a meta já era logo de seguida, mas não estava a conseguir, os ritmos baixaram bastante e estava a ficar sem margem de tempo para conseguir o objectivo. Logo após uma curva que nos levava até ao final, a inclinação já não era tanta, e consegui abrir a passada conseguindo os 35 minutos.

Esta foi a melhor maneira que encontrei para fazer estes 8 quilómetros, sem que fossem um sacrifício físico e psicológico.

terça-feira, 27 de março de 2018

Ultra Trail Medieval - Trail Longo

O inicio de 2018, foi idêntico a 2017. Uma prova de trail, e novamente o Trail Medieval em Sta. Maria da Feira.
Participei no ano passado, e como o cheguei a referir, foi um tiro ao lado por completo. Cheguei ao ponto de pensar que estava numa prova de estrada, e não de trilhos. A manter-se este cenário, a 2ª edição tinha tudo para falhar. Felizmente parece terem dado ouvidos à “clientela” e reformularam por completo as várias distâncias. O famoso marketing que já tinham mostrado manteve-se, conseguindo cativar bastantes atletas, e voltaram a ganhar a confiança de muitos que disseram que não voltariam a participar, incluindo eu que dei uma segunda hipótese.
A distância da prova que optei, foi aumentada em mais 4 quilómetros, fazendo um total de 29 em comparação à 1ª edição. O local de partida e chegada também eram diferentes, sendo que iniciávamos na praia fluvial de Milheiros de Poiares, e terminávamos nas piscinas de Sta. Maria da Feira.


O levantamento dos dorsais foi tranquilo, ainda feito no dia anterior à prova. É a vantagem de viver perto do evento. Já no dia a deslocação foi bem madrugadora, tão madrugadora que quando saí de casa ainda era de noite, cheio de frio que até os ossos sentiam. E assim, eu e mais 2 compinchas nestas andanças, seguimos até às terras da Feira. Últimos preparos, que tirar a roupa foi a atrasar o mais possível para não esfriar, e correr para o autocarro que nos levava à partida. Uma nota de atenção, e que desde já parabenizo a organização, foi o facto de haver sacos para quem quisesse levar roupa ou outros bens para o local de partida, poderia deixar nesse saco, devidamente identificado com o número do dorsal, e na chegada reaviam o mesmo. Seria uma boa oportunidade para quem quisesse levar o casaco e deixa-lo antes de arrancar.

O frio era bem maior na praia fluvial, devido à presença do rio. Era um ambiente medieval e os figurantes da época não faltavam, e só esses poderiam não se queixar de frio, com aqueles trajes também não o sentia. Mas nem os cuspidores de fogo conseguiam aquecer o ambiente.
Aguentando o bater do dente até à partida, que com o aproximar da hora foi acalmando. Como eramos alguns, e inseri-me no meio, acabei por sentir menos frio, o calor humano realmente faz milagres. E ao som de um canhão, lá arrancamos para 29 quilómetros de trilhos.


Após uma rápida passagem pelas pontes ainda geladas da praia fluvial, encaminhamo-nos para dentro do mato com ainda alguma lama e poças de água. Devido ao aglomerado de pessoal e a um trilho mais afunilado começa a existir engarrafamentos, que uns respeitam, outros não, e outros ainda gozam. E entre estes acho que concordo mais com os que gozam, porque se vermos bem a situação, ao virmos para uma prova de trail, o normal é sujar, e não chegar ao fim com as sapatilhas a brilhar. E uma das indirectas que alguém se lembrou e bem de mandar enquanto avançava no terreno por entre os mais cuidadosos foi algo do género: “Cuidado com o riacho que podem molhar as sapatilhas”, “E cuidado com este ramo que tem uma folha, cuidado com a folha”. Isto em tom de gozo, foi motivo suficiente para um bom momento de gargalhada.


Após a primeira subida e descida que mais parecia um precipício, prossegui em modo de corrida, entre vários troços de terra enlameados, até Vilarinho atravessando campos por entre a erva verde e ainda húmida. A curta passagem por este local, levou-nos a uma subida em single track, até ao topo subindo uns 200 metros em 2 quilómetros sensivelmente. Assim que atingimos o ponto alto, a descida é repentina e acessível ao contrário da primeira.
Ao avançar fomos dando de caras com vários locais onde os fogos estiveram bem presentes no ano anterior, e caso disso, foi na incrível “escalada” que fizemos até ao cume de um pequeno monte, que nos presenteava com uma pequena capela no alto.
As passagens pelos pontos mais altos eram sempre breves, tendo sempre a descida logo de seguida presente, e aqui não foi execpção, uma vez mais a tentar desviar de alguns troncos queimados ali tombados, prossegue-se viagem até ao primeiro abastecimento, que não perco muito tempo.


Arrancando rapidamente, por entre uma aldeia, até chegarmos ao acesso a terrenos, entre arvoredo, e diversos campos do nosso lado direito.
Perto dos 10 quilómetros estava uma placa com sinal de perigo deixada pela organização. Numa pedreira já abandonada, prosseguindo sobre encosta bem inclinada. Por fim, e para subir e voltar aos trilhos, uma corda para nos ajudar na subida. Daqui até ao próximo abastecimento foi entre matos e estradões, que nos ligava à última subida mais ingreme da prova. Com 15 quilómetros o grande desnível estava feito, à execpção da longa descida de aproximadamente 4 quilómetros. Obviamente que existia ligeiras subidas, mas que verificadas em gráfico, quase são impercetíveis. Para quem gosta de provas rolantes, esta é uma delas, pelo menos nesta distância.


Aos poucos vou apercebendo que estou a percorrer alguns caminhos do ano passado, só que desta vez em sentido contrário. Felizmente a prova estava a ser totalmente o oposto do ano anterior, dando conta que haviam trilhos que percorria lado a lado à imensa estrada feita na 1ª edição.
E a boa amostra de que melhoraram em comparação ao ano anterior, foi o longo e bonito trilho que fizemos junto ao rio, num parque de merendas. Aproveitado aqui para um novo abastecimento, com os voluntários a oferecerem-se para ajudar no que fosse necessário, no meu caso foi para encher as flasks que já tinham esgotado. Bebo um chá quente e com mel, e siga. E que single track espectacular que corria o rio, obrigando por fim a atravessa-lo em mais uma ocasião para molhar as sapatilhas.

Uma das situações que não referi no inicio era que até aqui andei sempre com as pernas um pouco presas, penso que o frio tenha influenciado um pouco nisso, e nunca consegui soltar devidamente como queria. Tendo em conta isto, fui desenhando na minha cabeça as etapas, até à meta, sendo que a primeira etapa estava ultrapassada, as subidas e descidas iniciais, agora era subir até à estrada nacional (EN 1), descer até à feira, subir ao castelo e descer até à meta.


A subida até à EN 1 foi feita em asfalto, e seguido de uma louca descida também feita no ano anterior. E foi nesta fase que finalmente consegui soltar as pernas. Numa descida com alguma pedra solta, foi sempre a correr até onde consegui, nova subida e facilmente consegui sem quebras. Incrível que quando poderia e/ou deveria estar a quebrar, eis que praticamente renasci.


Restava apenas uma etapa, que na minha cabeça já estava garantida, a subida ao castelo e descer até à meta.
A subida era pelo mato que rodeia o castelo, e já lá dentro cruzamos com a caminhada e ainda alguns elementos da prova mais curta. Na descida que já conhecia, e sabia que seria porreira para dar o último uso das pernas, acumula-se muita gente das outras distâncias, e não dá para muito mais até atravessar a meta.


Foi uma 2ª oportunidade merecida. Houve esforço para que nada corresse mal, e pela satisfação de modo geral. Voluntários sempre disponíveis, e bem prestáveis, pelo menos para comigo. Alguns bons trilhos, e desafiantes. Aprenderam com os erros, já foi uma vitória.

segunda-feira, 26 de março de 2018

São Silvestre de Coimbra

A última do ano. Ao contrário do que previ, a presença no Biorun, não foi a última prova que realizei. Uma São Silvestre teria que pertencer ao meu calendário, e à última da hora eis que decido participar, e numa situação bem diferente do normal. Pela primeira vez corri com um dorsal diferente, e de uma rapariga que não teve oportunidade de participar, e ficou a participação à minha "responsabilidade".
A São Silvestre de Coimbra, já no penúltimo dia do ano tinha apenas 8 quilómetros, com 9 anunciados. Mas não eram assim tão fáceis como pensava ser, mas já lá vamos.


Numa tentativa de fugir à gripe lá por casa, no último dia antes da prova, conseguiu apanhar-me. Felizmente ainda fui a tempo de a minimizar e não ter grandes efeitos, mas o nariz ranhoso e a respiração mais “abandalhada” estava lá. Mas uma corridinha, e umas suadelas seriam o suficiente para aliviar esta constipação certo? Claro que sim!
Ora após um dia a prometer chuva, mas gotas nem as ver, eis que ao anoitecer, elas aparecem mesmo perto da hora de partida. Se seria uma estreia a correr com dorsal de outra pessoa e sexo diferente, a chuva em provas também foi a minha estreia. Tempo para novidades em todas as vertentes.

Ao contrário do habitual, consegui colocar-me mais ou menos na frente do pelotão, e rapidamente comecei os primeiros passos de corrida. Estava com receio da chuva e do frio que piorassem a minha gripe, e o tempo de espera para arrancar ainda me preocupou mais. Contudo após o arranque, e devido às descidas iniciais, mantive um ritmo bastante bom nos primeiros quilómetros, estando o motor a responder bem. A chuva manteve-se miudinha, mas sem ser o suficiente para arrefecer os motores. Aos poucos já queria tirar camisola de manga comprida que levava e tudo. Mangas arregaçadas e vamos enfrentar o boi de frente.

Após algumas descidas, nos 2 primeiros quilómetros, o cenário muda de figura e andamos em terrenos bem mais planos até ao quilómetro 5. Possibilidade de manter um bom ritmo e tentar fazer um bom tempo, mas o que era bom acaba depressa, e foi verdade.
Já me tinham avisado que havia uma altura em que teríamos uma subida bem agreste que complicava a prova. E verdade seja dita, se tivermos em conta o acumulado positivo da prova, ele estava todo representado nestes últimos 3 quilómetros.
A velocidade abrandou, as pernas ainda iam respondendo, mas a caixa estava lixada. A constipação entupiu os canais todos, e estava a faltar caixa para conseguir acompanhar as pernas.

Bem, acaba-se aqui a prova e pronto? Nem pensar. Se nas subidas abrandava e bem, o ritmo, nas descidas abusei, abusei e bem. Piso molhado? Quero lá saber, siga para frente.
Olho para o relógio, e vejo que íamos com 7 quilómetros, e penso que restam 2, então vamos lá acelerar isto que ainda aguento com estas descidas.
Última subida e ouço o speaker, acho estranho, mas penso que ainda poderíamos o contornar de alguma forma para chegar à distância anunciada, mas não, foram apenas 8 quilómetros.

Ainda consegui terminar com 35 minutos, melhor tempo do que o julguei fazer. A gripe, felizmente manteve-se bem escondida, e fugiu para outras paragens.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Europarque Biorun

A maratona foi o grande objectivo e momento do ano, privando de pensar em outros desafios para o futuro. Talvez por ainda reviver aqueles momentos, não me fez pensar em voltar a participar em nenhuma prova. Claro que ao final de algum tempo acabei por acordar, e lá me fiz ao piso novamente. Como não andei de olho em nada para participar até ao final do ano, aproveitei a ida do grupo que costumo correr à prova que já havíamos participado no ano anterior, Europarque Biorun. Sabia o que me esperava, e que não era das provas que mais me dava gozo participar, mas para manter a chama acesa fora dos treinos acabei por me render e regresso novamente.


Uma manhã bastante friorenta, mas com uma repentina viragem para assoalhar bem o parque.
O percurso mantinha-se como a anterior edição, à excepção de um pequeno corte dentro do edifício, mas nada demais. De resto, a versatilidade do terreno não era novidade e as 2 voltas a um trajecto de sensivelmente 5 quilómetros também se mantinham. Em resumo estava tudo na mesma. Por incluir caminhada, esta acaba por sair antes da corrida e só após o termino é que a corrida se inicia. O que proporciona? Não há confusão de corrida com caminhada em alguns locais mais afunilados, e uma presença maior de apoiantes ao longo do percurso. Até que não é mau pensado.

Para contrariar um pouco as expectativas, tentei impor um ritmo maior que o normal e ver se conseguia manter, aproveitando para esticar um pouco as pernas. O percurso em certas partes não o iria permitir por incluir subidas em terra, e mesmo em plano alguma terra solta, que acaba por atrasar um pouco o desenvolvimento. O que não ajudou foi ter arrancado bem cá trás e estar no meio do grande aglomerado de pessoal. Contudo tentei dar um bom avanço no inicio para evitar o afunilamento no mato, mas sem grande efeito. Quando pensava que estava tudo mais ou menos controlado, no mato acabo por ter que abrandar devido à confusão de atletas. Só nas descidas é que conseguia recuperar algum tempo, mas devido ao tipo de piso ia com alguma cautela.


Com sensivelmente 21 minutos, arranquei para a 2ª volta, e já poderia ter um pouco mais de espaço nas subidas. Realmente esse espaço existia, mas ainda era curto, e o cansaço apoderou-se um pouco de mim devido ao ritmo que impus até ali chegar. Saindo do mato aproveitei para esticar as pernas e recuperar caixa em descidas e no plano, mas a última entrada no mato onde a terra era mais solta voltou a derreter-me a caixa. De pernas ainda estava mais ou menos consistente, mas a respiração não me permitia avançar. Prova disso, foi a recuperação logo de seguida e a rápida aceleração que ainda consegui fazer no último quilometro.


E os 42 minutos lá se mantinham inalterados ao meu recorde pessoal. Não seria o dia, nem prova para modificar estes dígitos. Fica para uma próxima.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Maratona do Porto

Euforia, ansiedade, entusiasmo, uma criança no dia de natal. Este era eu no dia 5 de novembro.
A mítica distância de 42 quilómetros estava já na minha cabeça algum tempo. Desde de Dezembro de 2016, quando aproveitei a habitual promoção para fazer a inscrição. O grande passo estava dado, a partir daí seria habituar-me à ideia, e treinar para isso. Ainda tive a oportunidade, prematura de fazer a mesma distância na Lousada, mas não sei porquê parece que me ficou a faltar alguma coisa. E a prova disso foi a passagem pela Maratona do Porto.


Após a meia de Ovar, tive ainda tempo para fazer mais 2 treinos longos, e forçar um pouco as pernas, e finalmente descansar para o dia “D”. Pouca ou quase nenhuma preparação me iam impedir de deslocar para o Porto para correr, se não fizesse a correr, caminhava, se não conseguisse em 4 horas, iria para mais. Não me importava, apenas queria viver aquele ambiente que apesar de ainda não ter experienciado, já tinha lido e visto vídeos que mostravam que seria uma diversão.

Apesar de pensar neste dia, apenas no dia 4 de novembro caí na realidade que já estava quase. Com o rápido e fácil levantamento do dorsal e kit de participante, aproveitei para dar uma visita pela feira que completava todo aquele evento, apenas não usufrui da pasta party, por ter acabado de almoçar há relativamente pouco tempo.
E estava tudo pronto para o dia seguinte. Dia esse que chegou rapidamente, e que não quis precipitar em nada, tendo já tudo mais ou menos orientado do dia anterior.
Apesar do arranque ainda cedo com o meu primo habitual de outras aventuras, e mais o grupo que ele habitualmente corre, chegamos um pouco em cima da hora, tendo que fazer uma breve corrida até à partida. E a confusão era imensa, mas felizmente conseguimos chegar a tempo e horas, com poucos minutos de antecedência.

Muito lá para trás
A partida rapidamente foi dada, e estava dado os primeiros passos de milhares que iriam ser até ao final. Ao som de Red Hot Chili Peppers – Can’t Stop, não se poderia parar, e assim foi. Com uma multidão enorme a percorrer as estradas do Porto, seguimos para a Avenida da Boavista, que ajudava a dispersar um pouco. Pouco depois saindo dali, contornamos o parque da cidade, fazendo ainda um pequeno retorno, seguindo até à rotunda da Anémona que nos iria conduzir até ao porto de Leixões. Novo retorno, e passamos novamente na mesma rotunda, e na partida levando-nos assim para o resto da prova junto ao rio Douro.
Por brincadeira ou não, para ir com algum objectivo, eu e o meu primo, colocamo-nos entre as bandeiras das 3.30h e 3.45h, podendo deixar ser ultrapassados por estes últimos, mas nunca pelas 4 horas. Resumindo, queríamos tentar chegar antes das 4 horas.

Os abastecimentos foram sempre obrigatórios e não deixei nenhum ao acaso. Os ritmos até estavam a ser bastante bons, e conseguimos seguir sempre juntos.
Perto do quilómetro 15, coloco à frente do meu primo para ser eu a puxar um pouco ao ritmo que até ali impusemos. Estava espantado que as pernas estavam a responder bem, e estavam a deixar seguir sem problemas. A ajuda externa e o apoio, foram sempre constantes, e alimentavam bem qualquer um. Aos poucos reparei que o meu primo ia abrandando e não conseguia manter o mesmo ritmo, assim também abrandei, e fomos um pouco mais devagar, sem problemas. Chegado à Ribeira, uma das zonas mais emblemáticas do Porto, e da Maratona, é um ponto viral nesta distância.

Rotunda da Anémona
Um pequeno exemplo das muitas gargalhadas que dei
Como disse há pouco, o apoio foi-se ouvindo ao longo do percurso, mas na Ribeira que ligava à ponte D. Luís a situação era outra. A multidão era tanta, que a prova se transformava numa autêntica festa. Atravessamos a ponte, e do lado de Gaia temos a vista sobre o rio Douro e do Porto por onde já viemos inicialmente.
Atingido os 21 quilómetros, e continuamos viagem para novo retorno, numa das fases mais complicadas do trajecto, tendo em conta o piso. O asfalto que aqui existe tem bastantes buracos, e irregularidades, e quando o asfalto não existe, é substituído por paralelos, sendo estes bastante dolorosos para os pés, forçando muitos atletas a desviarem-se para o passeio.
Contudo fazia parte do caminho definido e teria que ser feito, de uma forma ou de outra. Aos poucos vou verificando que a minha companhia começa a abrandar, e a ficar para trás, chegando a sermos ultrapassados pelas 3.45h.

Subida da Ribeira para a ponte Dº Luís
Dos momentos mais arrepiantes
O cenário tinha mudado de figura, estava aberta uma luta contra o continuar e o desistir, e o parar ali era cada vez a ser mais uma verdade que uma ideia.
Por diversas vezes apoiou-me e levou-me ao final sem que eu ficasse para trás por qualquer que fosse o motivo. Desta vez, essa função seria a minha, e custe o que custasse teríamos que atravessar a meta juntos, nem que fosse a caminhar. Felizmente o meu cenário era completamente diferente não estando ainda com mazelas, e ainda com boa resposta das pernas. Nova travessia pela ponte D. Luís, com, novamente, uma animação incrível, e em direcção ao último retorno que era feito já junto à ponte do Freixo.
Atingida a marca dos 30 quilómetros, e os problemas musculares começam a vir ao de cima, e a posição de desistir continua a ser o tema, mas com persistência sempre afastei essa ideia da cabeça dele, e intercalando a caminhada e corrida lá continuamos até à passagem pelo túnel, que tem um toque perfeito pela organização.
Fantástico!
Já com sensivelmente 33 quilómetros, deixamos de novo a ponte D. Luís e a sua multidão para trás, e entramos num curto túnel ao som do tema “Chariots of Fire”, e ao ouvir isto arrepio-me com uma cena que me apercebo à minha frente.
Poucos metros um atleta me antecedia, com já algumas queixas e cansaço aparente, mas de mão dada a uma criança, esta lhe dizia para ter força e continuar.
Concluindo o túnel, nova estrada em paralelos, mas sem grandes hipóteses para fugir destes, e descer até à estrada que já havíamos percorrido na vinda, levando-nos até à meta pelo mesmo percurso inicial.

O meu primo acabou por aceitar que não o deixaria para trás, e concordou em terminar a prova, ainda com uma pequena paragem por um dos controlos médicos, apenas para colocar o spray nas pernas de forma a aliviar um pouco a dor que lhe incomodava algum tempo num dos gémeos.
Aguardei por ele, e assim que voltou, tentamos impor um pouco de corrida para ver se a dor teria aliviado, e felizmente conseguiu. Contudo o desgaste todo estava lá, e teria que ser gerido até ao final. A presença de pessoal a dar apoio ainda era continua, mesmo que mais escassa que inicialmente, mas já era normal tendo em conta o tempo que andávamos ali. A bandeira das 4 horas já nos tinha ultrapassado e não nos importamos muito com isso. Aliás ainda nos rimos com essa situação, seria o tempo que fosse.

Como já devem ter reparado, uma das chaves e grandes feitos desta maratona é a presença de um grande aglomerado de apoiantes que nos incentivam a cada passo que damos. Desde uma pessoa completamente estranha chamar por o nosso nome, por causa do dorsal, e dar-te força, a pequenos momentos ou frases que nos dizem que ficam gravados.
Já na penúltima subida, tive mais um desses momentos.
Estava a tentar com que o meu primo ganhasse animo e energia para fazer a subida que com quase 40 quilómetros estava a ser dolorosa. Com algum esforço a foi fazendo até parar e voltar a caminhar, quando olho para trás, e em conjunto com pessoal de fora puxamos por ele. Uma das pessoas reparando nesta situação, aplaudiu-nos dizendo “Grande companheirismo. Juntos até ao fim.”. E sim, foi esta a receita para esta maratona. Não só por ele estar num dia não, mas também por ele já o ter feito por mim.
O mal dele, também acabou por ser o meu bem, ou assim o vejo. Penso que a minha preparação não foi a ideal para esta prova, e provavelmente em algum momento também iria quebrar, no caso de continuar ao ritmo que estávamos a tentar impor inicialmente. Apesar das boas sensações que foi conseguindo ter ao longo de toda a prova, e da boa resposta das pernas, havia uma grande probabilidade de também eu empenar.


Voltando à prova, e após esta subida temos a longa recta que nos leva até à rotunda do Castelo do Queijo, ligando novamente à rotunda da Anémona que nos obriga a um último esforço a subir até queimódromo do Porto. Aos poucos vamos ouvindo o speaker, e sabemos que estamos perto do final, os últimos incentivos por quem ainda ali anda, e o grande momento de atravessar a meta. A subida é feita como se estivéssemos a iniciar a maratona, o sorriso ocupa a o seu lugar na cara e com orgulho de tudo aquilo que fiz calco a passadeira vermelha que me leva até ao último pórtico e à meta. Fantástico terminar desta forma uma distância que merece respeito, e que tanto de nós exige. Ver o sorriso e as lágrimas, os beijos e abraços, no fundo uma vitória pessoal para cada um. Sem dúvida fiquei agarrado à prova.


Até para o ano Maratona do Porto!

domingo, 4 de março de 2018

Meia Maratona de Ovar

Um ano passou desde a minha estreia oficial na meia maratona, e após esse tempo volto à mesma prova para repetir a dose. Um mês após os 106 KM, com a recuperação os treinos não foram os suficientes. Não era por aí que ia de mãos abanar, este dia seria para fazer alguma coisa para a maratona do Porto que se aproximava rapidamente.
Previsões ou objectivos não os tinha, apenas concluir a prova, já seria um grande feito.
Infelizmente e devido a um infortúnio, as coisas conseguiram complicar-se bem mais. A partida da minha avó, derrotou-me completamente, e as coisas não melhoraram de todo, bem pelo contrário. Os poucos treinos que tive oportunidade de fazer, foram um sacrifício, e não via a coisa a correr da melhor maneira. As pernas pesavam em cada treino, e o psicológico estava completamente abatido.

Como se não fosse suficiente tudo aquilo, na manhã da prova a disposição não era a melhor, sentia-me um pouco indisposto, mas nada demais. Com pequeno almoço tomado, acabei por melhorar evitando assim preocupações, ou assim pensei eu.


Um dia ameno contrariando o clima para a altura, com um grupo ainda bastante numeroso, seguimos para o grande evento. Aquando a minha chegada, tive tempo para um pequeno aquecimento até à partida que já se encontrava bastante lotada. A juntar aos 21KM, era a estreia da minimaratona (10KM), provocando maior confusão de atletas no arranque, e durante alguma parte do percurso.
Com o sinal de largada dado, tento dar os primeiros passos de corrida, mas sem sucesso. O aglomerado de atletas era tanto, que o melhor que se conseguia fazer era uma corrida lenta, ou caminhada em passo acelerado. Obviamente que mais tarde ou mais cedo a separação iria acontecer, mas apenas ao final da 2ª pequena subida com pouco declive é que as coisas começam a modificar e a haver mais espaço para cada um impor o seu ritmo. Com a 2ª volta dada ao centro de Ovar, seguimos em direcção à praia do Furadouro em longas rectas, mas sempre planas, razoáveis até para impor um bom ritmo.

Seguimos paralelamente à caminhada, que se vai fazendo ouvir ao longo de cerca de 3 a 4 quilómetros de extensão com aquele impulso extra que nos dão já ao fim de 10 KM. Regra geral, fui aproveitando os abastecimentos para ingerir sempre água, para evitar desidratações. Apesar do calor não ser muito forte, era o suficiente para causar danos no mínimo de deslize numa distância como esta. A viagem em direcção à praia estava a ser acessível, e tinha tudo controlado até ali. A caminhada que nos foi apoiando, foi rapidamente substituída por algumas pessoas ao longo da estrada que também de alguma forma incentivavam.
O percurso já o conhecia, e sabia que a melhor fase da prova estava a chegar. Junto à praia que tantas vezes visitei, estendia-se um longo corredor humano que davam a grande festividade de todo o trajecto, excetuando a meta. Apesar da passagem ser rápida, ninguém fica indiferente ali.


Agora seria gerir até ao fim, e percorrer o retorno que no ano anterior tantas dores de cabeça me deu. A gestão até aos 16 quilómetros foi feita tranquilamente e sem problemas, não existindo problemas até ali. Apenas um pequeno incomodo novamente com a indisposição matinal que pensava ter desaparecido, mas não, ali estava ela e conseguiu derrotar-me.
Psicologicamente estava preparado para aquele massacrante retorno, mas a derrota estava espalhada. Abrandei e impus um ritmo mais confortável, mas nada resultava. O fim do retorno estava próximo, e cada vez piorava mais. Ansiava por um abastecimento para beber um pouco de água, mas este tardava, apenas aos 20 quilómetros, e parecia que não chegava.

Ainda aproveitei a água que alguém se recordou, e bem, de bombear por uma mangueira para a estrada para refrescar. Contudo o abastecimento não aparecia, e os pensamentos em desistir e parar ali tão perto do final estavam cada vez mais presentes. Com o aparecimento da água, agarrei-me a ela, e ingeri o suficiente para conseguir melhorar, mas por pouco tempo.
A chegada à meta era do melhor que se pode ter, a descer, dando para esticar um pouco, e nem isso consegui aproveitar. Só queria chegar ao final e descansar, estava derrotado, não foi dia para mim.

Malditos retornos
Esforcei o máximo que pude para chegar ao final, e isso para mim foi a grande conquista desta prova. Poderia ou devia ter parado, mas faltava tão pouco para o final, e não iria “morrer na praia”. Uma das fases tardias de preparação para a Maratona não correu da melhor maneira, nem podia ter corrido com tudo o que se sucedeu desde há uns meses com a lesão, até ao dia da prova. Contudo a resiliência que levei, foi bem maior que todo o resto, e seria assim que ia tentar enfrentar os 42 KM que estavam a chegar.