quarta-feira, 2 de maio de 2018

Meia Maratona de Vigo - Vig-Bay


Por muito que goste de trail, ainda existe algo em mim que continua a chamar para a estrada, para um bom desafio. Já desde Outubro que não fazia a distância dos 21 quilómetros em provas no asfalto, e para voltar teria que ser em grande.
Seria a primeira vez a correr, em prova, fora de território nacional. Vigo era o local onde se organiza uma prova de excelência. Aliada à proximidade, é uma experiência fantástica e bastante bonita dado o percurso, resumindo vale a pena o dinheiro (estadia + inscrição).
Isto a somar um grupo de cerca de 40 elementos, foi a diversão total, enchendo um autocarro, e seguir viagem ao inicio da tarde de Sábado rumo a terras espanholas.

Foi das melhores preparações que fiz para uma prova, e com excelentes frutos. Seguiu bem melhor do que o que esperava, tendo incluindo uma prova pelo meio, onde bati meu record pessoal, e as pernas continuavam sempre a responder ao que queria, estando a atingir o meu melhor momento de forma até então. Como tudo não é um mar de rosas, na quarta-feira dessa semana, após chegar a casa de um treino, sinto uma forte dor no pé, que me coloca numa situação de desconforto total. Tem que sempre acontecer alguma coisa antes de um dia de prova, e esta não foi excepção, tentei recuperar até ao dia com repouso do pé e pomada anti-inflamatória.

Vista do Porto de Vigo.
Já no país vizinho, logo após uma viagem tranquila, com um pouco de chuva à mistura, foi só fazer check-in no hotel e dar uma volta pela cidade de forma a conhecer um pouco. Qual a melhor maneira para se passear num curto espaço de tempo? A correr obviamente. Eu e mais 2 colegas fomos os únicos aventureiros em fazer uma pequena volta para conhecer, e aproveitar para testar o meu pé. A volta acabou por ser a mais óbvia. Seguir até junto ao mar, e correr. A nível de paisagem surpreendeu-me.
O pé, esse maldito, quando pensava ter a situação mais ou menos controlada, voltou a manifestar-se, não antevendo bom cenário para o dia seguinte.

A grande jantarada!
Cedo toca o despertador e seria altura de preparar tudo para sair logo após o pequeno almoço.
Eram 8.30h, quando nos dirigimos para o autocarro que nos levava até à partida. Era uma prova linear, que de certa maneira gosto, por ser locais distintos tanto na partida como de chegada. A caminhada até ao transporte foi um pouco dolorosa, devido ao pé. Teimou em não dar tréguas, e cada vez pensava mais na desistência bem antes de iniciar a correr.
Chegado ao local de partida, ignoro o pé, e sigo em direcção à partida, já não havia volta a dar, ou seguia naquele autocarro, ou num da organização, mas esse queria evitar. Com arranque apenas às 10.30h, deu ainda para conversar, e combinar últimos detalhes. Detalhes esses, idênticos ao da prova do Dia do Pai, acompanhar novamente o Hélder e Nelson, e manter um ritmo certo até ao final. O objectivo era claro, chegar ao final e tentar bater o record novamente.

Antes da partida, e após um pequeno aquecimento vejo o caso a complicar-se cada vez mais. A dor no pé estava forte, tentei mobilizar mais o pé de forma a aquecer e ver se a dor desaparecia, ou se diminuía de intensidade, mas não dava de maneira nenhuma. Colocar-me-ia na partida e ver se ao arrancar a dor minimizava, caso contrário seria encostar e dar por encerrado aquele capítulo.
É certo não ter ido a muitas meias maratonas, mas aquela estava a surpreender-me. A organização e o ambiente envolvente estavam noutro nível bem acima das minhas expectativas, até um helicóptero sobrevoava-nos já antes do arranque, que foi dado aos milhares que ali se encontravam, logo após o hino de Galiza. Engraçado que em terras espanholas, e o mais frequente era ouvir portugueses a falar, tamanha era a quantidade de portugueses ali dispersos.
Arranquei relativamente à frente, e deu para correr minimamente bem desde inicio, visto estarmos numa estrada bem larga. O pé, esse maldito que tanto me preocupou, decidiu levatar a sua bandeira branca e render-se. Felizmente não se manifestou durante toda a prova, contudo ia sempre atento, para o caso de me dar algum sinal que não gostasse.


Mantendo sempre um ritmo certo, avançamos até estar numa zona bem mais confortável com menos confusão. Uma das características de todo o percurso, era ser grande parte junto à costa, com vista para o mar, o que dá uns pontos extra. Não se pode reclamar muito do desnível da prova, existindo algumas subidas, mas nada que não se aguente sem nunca estragar a média. As subidas que iam aparecendo na fase inicial seriam de maior declive, mas de curta distância, o que dava bem para puxar, e manter quando voltávamos a piso plano. E quando tínhamos de grande extensão, como o caso de uma de 3 quilómetros, apenas subia 50 metros durante essa distância, o que não se reflecte nada para quem pretende manter um ritmo certo e atingir objectivos. Para ajudar, no final dessa maior subida, existe uma descida bem mais longa onde dava para recuperar algum tempo perdido atrás, caso tivesse acontecido. No meu caso felizmente consegui estar à altura, e não me incomodaram.

A partir de cerca dos 5 quilómetros, seguíamos apenas eu e o Hélder, ora puxando um, ora puxando o outro. Até conseguirmos encontrar um espanhol que se mantinha junto a nós já algum tempo, e contribuiu um pouco para a nossa motivação, sendo por breves momentos ele o nosso ponto de referência a seguir. Mantivemo-nos sempre juntos até à descida, onde acabou por ficar um pouco para trás. Após uma fase um pouco mais distante da costa, seguimos numa longa recta em direcção ao mar, onde se começa a sentir as primeiras gotas de chuva miúda que já prometia algum tempo. Com a chuva veio também um pouco de frio, que felizmente ia preparado para isso graças aos manguitos.
Esta seria a melhor fase da prova e a mais importante. Já com metade da distância realizada, seria tempo para ajuizar as coisas, e saber gerir sem estragar nada até ao final. No meio de várias pessoas que se encontravam nas ruas, ainda conseguíamos também olhar para o mar e ilhas não muito distantes.


Já perto dos 13 quilómetros, e uma prova bem gerida, tanto em ritmos, como em hidratação, não quis arriscar, e optei por tomar um gel, que sabia que ia ajudar dentro de pouco tempo, com o inicio do desgaste.
Por distracção minha, à espera do abastecimento de água, para ajudar a tomar o gel, calculei mal os quilómetros, e tomei um pouco antes da água, que ainda tardou um pouco a aparecer e ajudar a empurrar, e facilitar a absorção. Foi o único deslize que tive, mas que não condenou de maneira nenhuma o que tinha feito e o que havia por fazer. Travessia na ponte, e estamos a chegar a Baiona, onde era o local da meta. No pouco tempo que lá tive, pareceu-me uma localidade bem bonita para se passear, com mar, e alguma zona histórica.

O percurso manteve-se como iniciou, junto à costa, mas a presença de apoiantes era demais. Já tinha lido que correr em Espanha, era diferente, devido ao grande incentivo que vem dos “nossos hermanos”, e de facto tenho de concordar, sabem-no fazer e como o fazer. Eram os últimos quilómetros, e fisicamente estava bem, e ainda sentia energia para mais, mas pensei em não estragar tudo na recta final, e ainda bem que o fiz. Se há coisa que detesto que aconteça enquanto corro, é levar com vento de frente, e foi o que aconteceu. Desmotiva-me por completo, sinto o dobro do esforço, e mais lento a correr, e obrigou-me a esforçar para manter os ritmos que tinha feito até ali. Rapidamente, coloquei-me novamente à frente do Hélder, e seria eu a impor o ritmo até ao fim. Não abusando de inicio, mas aumentando gradualmente. Ainda com algum vento a obrigar a um esforço extra, mas ao mesmo tempo que vamos entrando em zona de habitação, o vento desaparece, e seria mais fácil. Quando se esperava estar a quebrar, foi quando ganhei mais força para tentar o meu 2º objectivo. O primeiro (terminar), já o tinha como garantido, agora seria alimentar esforços para conseguir roubar o maior tempo possível ao meu recorde pessoal.

O relógio apita, e estamos no último quilómetro e alguns metros para terminar.
- “Hélder, vamos lá!” – Gritei, e ele sem falar, respondeu da melhor maneira colocando-se junto a mim, e a aumentar. Foi o quilómetro mais rápido de todo o percurso, e o mais saboroso. Ainda um pouco antes da meta, o relógio anunciava a distância de meia maratona completa, com 01:34:08, mas o pórtico de chegada ainda se encontrava ao fim de uns 300 metros. Que importa? Já bati o recorde, já está feito!

Grande trabalho feito com o Hélder, que contribuiu uma vez mais, para mais um sucesso. Mais tarde, e após análise de tempos, também verificamos ser o novo RP para o Hélder.
Aguardamos ainda a chegada do Nelson, que 2 minutos depois chegou. Assim vale a pena!
Depois de tão boa disposição e conquistas, faltava um bom banho, comer e rumar a casa.


Excluindo o facto de ter feito o melhor tempo até ao momento, esta meia maratona, fica sem dúvida na lista de melhores provas de estrada que fiz. Reparei ao longo daqueles 21 KM, toda a preparação para aquele dia, desde o policiamento, estradas completamente cortadas, bombeiros, protecção civil, voluntários, apoiantes (cheguei a reparar que uma mulher esteve em 2 pontos da prova para apoiar”), beleza do percurso. Para mim, a única falha, que não me causa muito transtorno, é o facto de não haver indicação dos quilómetros ao longo do percurso, não sendo um erro crasso, mas algo que ajuda a ter uma noção da distância marcada pela organização, que por vezes não corresponde com o relógio, como foi aqui o caso.
Para o ano, está previsto mais uma edição, e a juntar pela primeira vez os míticos 42 quilómetros. Um caso a considerar!

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