Gosto sempre daquele sabor das corridas de fim de ano. As
São Silvestre, aquela designação que é usada em imensas provas por todo o país,
e que pretendo todos os anos fazer uma diferente, apesar de não ter sido o
caso, acabando por voltar à primeira em que participei já em 2016.
Tinha todas as condições para fazer em tudo, melhor
prestação que há 3 anos atrás, não fosse a inexperiência da altura, e o recente
empenho mais sério nos treinos.
Estava sem objectivo, sem foco, apenas divertir-me e tentar
deixar algo de mim ali, pelo menos era esse o pensamento antes do tiro de
partida, que acabou por desvanecer ainda uns 45 minutos antes da hora de
arranque.
É uma imensidão, um aglomerado enorme de pessoas que se
juntam aos já imensos turistas que percorrem as ruas do Porto, e o facto de
estar mais atrás, ou mais à frente nesta prova é o suficiente para perder ou
ganhares tempo ao quando estás na estrada.
Avenida dos Aliados. Foto da organização |
Faltavam pouco menos de 1 hora quando abriram os pórticos de
partida, e tentando colocar-me o mais na frente possível, obrigou-me a não ter
aquecimento, e uma longa espera no meio de uma confusão de atletas que ali
aguardavam como eu.
Uma vez ali dentro, com tempo de sobra, foi o primeiro
indicio de que aquele palavreado de passear iria ser para esquecer, e a prova
iria para ser feita com a faca nos dentes.
Faltava 2 a 3 minutos para a partida, e sentia um arrepio,
estava um ambiente incrível, com tanta gente a correr, como a ver, fazendo um
corredor enorme pelas ruas do Porto.
O que já não achei incrível, foi a forma como se sucedeu os
primeiros quilómetros, o que já estava à espera dado a grande enchente, e o
arranque em frio.
Tentei ali dispersar-me com mais rapidez que o normal, mas
era impossível, parecia que estava numa prova de trail, com saltos e desvios
repentinos, como se houvessem raízes ou pedras que atrapalhassem, apenas para
tentar ultrapassar só mais alguém no meio de tantos.
Foram 3 quilómetros disto, onde tentava sair de uma zona
carregada de pessoas, tentando aquecer, entre subidas e descidas.
Só ao 4º quilómetro é que consegui estabilizar num ritmo já
próximo do normal, mas mesmo assim não dentro do que pretendia, as grandes e
complicadas subidas já haviam ficado para trás, agora era tudo acerca de longas
rectas, onde já sabia que teria hipóteses de recuperar algum tempo.
As ruas continuavam incríveis, havia sempre alguém, nunca
nos sentíamos sozinhos, ou abandonados, e davam animo para não abrandar.
Foto da organização |
A passagem pelo abastecimento, ditava o meio da partida, e
para mim o tentar meter um ritmo mais forte, e fazer uma segunda parte mais
rápida.
Pouco apreciava ou via em que ruas andava, apenas estava
focado em manter um ritmo certo, e tentar com que a faca não saísse da boca. Se
na primeira metade, foram essencialmente subidas, aqui eram essencialmente
descidas e planos, e era nas descidas que tentava abusar, ainda que contido, e
nos planos que tentava manter a velocidade. Assim que vejo o placar do 8º
quilómetro, sabia que estava feito, agora seria uma questão de qual o tempo
final, mas teria que ser abaixo dos 40 minutos, desse por onde desse.
Chegava ao túnel dos Almadas e restava pouco menos de 1 KM
para o final, a descida fila mais abruptamente, e lá em baixo tentava manter um
ritmo constante de forma a recuperar um pouco a caixa, para a subida que nos
fazia sair dali.
Doeu, mas saí do túnel, faltava descer até aos Aliados,
contornar e subir até à meta.
Este era o momento mais alto da prova, onde se preenchia um
autentico corredor humano com uma presença incrível de apoiantes até à meta.
Essa, só vi assim que contornei os Aliados, e comecei a
subir, mesmo no cimo da Avenida, com o relógio a contar 39 minutos e alguns
segundos. Não percebi os segundos à primeira, e foi então que decidi dar tudo o
que restava naquela subida e chegar antes dos 40 minutos oficiais, que o
liquido já sabia que ia ser abaixo.
Saída do túnel. Foto da organização |
É sem dúvida das provas mais incríveis que fiz, tanto pela
moldura humana que tem, como por toda a envolvência de atletas e apoiantes,
fazendo provavelmente a prova mais ou das mais repletas a nível nacional. O
único senão, é o facto de ter imensa gente, que congestiona mesmo em vias com
várias faixas.
Foram os últimos cartuchos de 2019, aguardemos por 2020.
Foto da organização |
A São Silvestre do Porto é sempre uma festa e este ano contou com o apoio do São Pedro, que nos brindou com um dia bonito e um entardecer agradável, comparado com as semanas anteriores. Parabéns pela marca abaixo de 40m, que não é fácil de conseguir no meio de tanta gente que vai a estorvar! :)
ResponderEliminarBom 2020 de corridas!
Pedro Viana
https://andaviana.wordpress.com/