Esta tinha de ser. Seria esta a prova que teria que ter
todas as condições físicas e mentais para conseguir bater o meu recorde pessoal
dos 10 KM. Sempre foi um dos meus objectivos chegar à marca dos 40 minutos, mas
dando um passo de cada vez, vou lutar para baixar dos 42, e se ainda tiver
pernas, aí sim esforço para chegar à principal meta.
Depois de algumas tentativas falhadas, e de colocar de parte
o objectivo por estar a mais afastado da estrada, chega finalmente uma boa
prova para fazer tempos, a corrida do dia do pai, que leva milhares às ruas do
Porto. Não fomos milhares, mas fomos uma boa equipa de mais ou menos 40
elementos, ajudar a preencher aquelas avenidas.
Houve treino, existiu cuidado nessa semana, e boa gestão
para a prova, tudo para poder correr pelo melhor. Mas como tem sempre que
acontecer alguma coisa, e a prova sendo no Domingo, antes 2 dias tenho um
pequeno deslize em alguma coisa que possa ter comido, que fez estragos a nível
digestivo. Estive todo o dia à rasca do estômago e praticamente com refeições
leves sem nunca alimentar em condições. Esperava que no sábado tudo estivesse
melhor, mas quando aproveitei para correr um pouco para esticar as pernas e ver
se estava tudo a funcionar, sentia as pernas presas e com alguma azia no
estomago. Não seria nada de grave, ou assim esperava eu para tudo correr às mil
maravilhas. Certo que não arrisquei mais nesse dia nem no seguinte antes da
partida.
Arrancamos cedo, e no meio de tanta chuva que atravessamos
até à cidade invicta, o S. Pedro facilitou. Abrindo as nuvens e dando
oportunidade ao sol para espreitar e iluminar o local, trazendo uma boa
temperatura para correr, faltando apenas ver como estava a minha barriga. Iniciando
o aquecimento com outros dois colegas que já conseguiam ritmos na casa dos 40
minutos, que iam lutar para uma marca abaixo dos 42 minutos, combinamos seguir
juntos de forma a existir uma entre ajuda para todos, e como amigo não empata
amigo, se alguém se sentisse com mais energia seguia em frente. Esse seria o
espírito que concordamos e aceitamos naturalmente. Estava entregue às mãos
deles, ou neste caso às pernas, condicionado apenas pela minha barriga de não
me dar problemas naqueles 10.000 metros. Logo após o aquecimento deslocamo-nos
para a partida no bloco A, onde tentamos colocar o mais à frente possível, mas
sem grande sucesso, foi o melhor que se conseguiu.
Dada a partida, e com cerca de 35 segundos de diferença
finalmente inicia-se uma tentativa de corrida. Muita era a confusão e o para e
arranca até estabilizar num ritmo certo até ao final era incerto. Sendo um
percurso diferente do ano anterior, desta vez iniciávamos a subir paralelamente
ao parque da cidade do Porto desde o queimódromo. As ultrapassagens eram
imensas, incrível como ainda não existe o bom senso das pessoas em colocar nas
secções correctas, para não atrasar quem quer progredir. Pelo menos falo por
mim, se sei que não consigo um bom tempo, não me iria colocar na frente de tudo.
Julgo ter visto imensas pessoas ao longo da corrida que arrancaram no mesmo
bloco que o meu, que iam num passo pouco mais rápido que a caminhada.
Feita a subida, teríamos o primeiro retorno, descendo a
avenida novamente. Aproveitando para esticar um pouco as pernas e dispersar-me
um pouco mais da confusão que por ali andava, fui seguindo sempre junto aos
meus companheiros Hélder e Nelson. Ainda na avenida, sofremos um desvio à
direita onde já teria passado na Maratona do Porto, e uma vez mais para novo retorno.
Foi a partir daqui que prosseguimos eu e o Hélder. O Nelson
por opção de não querer esforçar, ou pensar que poderia chegar rapidamente ao
limite, conteve-se e ficou para trás.
A multidão já estava um pouco mais dispersa, e já se
conseguia manter um bom ritmo sem atropelamentos. Voltamos à avenida que
iniciamos a descer, até à rotunda da Anémona onde estava o grande apoio da
prova, sendo encaminhados em direcção ao porto de Leixões para novo retorno. Já
com cerca de 6 quilómetros encontro um bom ritmo que consigo manter nas longas
rectas planas, sendo alguns paralelos o único desconforto para os pés. Após o
penúltimo retorno voltamos para trás em direcção à rotunda da Anémona, desta
vez junto ao mar, fazendo a avenida toda até ao último retorno junto à rotunda
do castelo do queijo. Ultrapassando o marco dos 8 quilómetros, vejo que a marca
dos 41 minutos dificilmente me fugia, apenas não sabia quais os segundos,
contudo tentaria baixar o máximo que conseguisse, e se possível para os 40 min.
Chamo por ele, na tentativa de também ele fazer melhor
tempo, e de ser eu também a ajudar nesta fase final. Mas dando sinal que não ia
puxar mais que aquilo, indica-me para prosseguir.
Obrigado Hélder.
Claro que sim! |
Seria comigo agora, felizmente estava a correr bem, e o
estômago não se manifestou. Abri a passada, então para o último retorno e
voltar até ao interior do queimódromo onde era a meta, incrível que ainda
consegui com que fosse o quilómetro mais rápido.
O final estava logo ali, mas ainda havia uma subida pela
frente até à meta, o corpo já a querer quebrar, mas insisti para continuar. Não
iria morrer ali, tão perto do final e deitar fora tudo aquilo que fiz e
ajudaram a fazer. 00:41:27 foi o meu tempo de chip, e novo recorde pessoal na
distância. Obviamente não foi o tempo que mais desejava, mas já fiquei feliz
pela concretização e nova marca.
Este é o novo tempo a bater, e chegar a um novo patamar.
Aliás, já começo a pensar baixar dos 40, mas uma coisa de cada vez.
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