Nunca pus em causa o regresso a Conimbriga, e os trilhos de
Sicó são de facto o que mais me faz voltar. Sabia o que ia enfrentar, apesar de
algumas alterações que fizeram ao percurso, e em conjunto com o Hugo, que se
iniciou recentemente nestas andanças, fomos treinando para este dia.
Felizmente, preparação não me faltou, apenas alguma falta de reforço muscular,
mas não seria nada que impedisse de o fazer. O que não previ, foi a jantarada
que tive no dia anterior à prova e que em alguns abusos com comida, penso ter
sido a chave para o desenrolar deste dia, mas já lá vamos.
Após a primeira experiência nesta prova, regresso para a
mesma distância (25 KM), mas desta vez com mais gente. 12, eramos uma dúzia de
atletas que decidimos passar um domingo a desfrutar de caminhos por entre
estradões ou single tracks em terras de Condeixa com alguns vestígios romanos.
Cedo acordamos e cedo arrancamos para o levantamento dos
dorsais das diferentes distâncias, sendo que nem todos iriam para os 25, alguns
iriam percorrer os 15 KM que pelo feedback foram satisfatórios.
Durante a viagem fui dando conta que algo estava errado e
não era bom sinal. O jantar do dia anterior ainda dava sinais de vida, e a
indisposição começa, dores de barriga, e mau estar. Tentei acalmar a situação,
mas a coisa não normalizou. A má disposição e cólicas estiveram presentes
comigo até à partida. Tirada foto da praxe, coloco-me já na partida bastante
preenchida. A ideia seria aproveitar o bom tempo e desfrutar dos trilhos, a má
disposição já não se manifestava e pensei que pudesse ser alguma situação de
nervos ou ansiedade, mas estava enganado.
Com um sinal de partida um pouco estranho do speaker que mais
parecia ser obrigado a falar, arrancamos estrada fora com alguma gente a dar
apoio, à procura do primeiro contacto com trilhos.
Contacto esse que chegou apenas ao 3º quilómetro num acesso
às famosas ruínas de Conímbriga, onde a passagem era curta para visualizar o
que seja. Fora de zonas mais movimentadas fomos direccionados para o acesso a
um monte que num sobe e desce relativamente rolante devido ao inicio recente e
ainda estar fresco, vai dando para aquecer um pouco e ir retirando algum
equipamento que tinha devido à pequena brisa matinal.
A má disposição tinha desaparecido, apenas ligeiras cólicas,
e já me encontrava quente o suficiente que já sentia na cara algumas gotas a
escorrer, fazendo lembrar imediatamente dos exageros do dia anterior.
Prosseguindo em estradões à Sicó, até chegar a um single track que nos leva à
primeira subida. Sempre em fila entre várias pedras fomos prosseguindo em ritmo
certo encosta acima até um estradão um pouco largo que enganava os mais
desatentos.
Era plano e com uma ligeira descida que contornava
ligeiramente este pequeno monte, e nos levava para a subida à séria. Num
pequeno trilho bastante empedrado e novamente em fila voltamos a subir, mas
desta vez para um ponto mais alto.
Adoro esta subida, pela tecnicidade em subir por entre
pedras ou por cima delas e pela vista. Vista do percurso que temos de fazer até
ao cume, e no seu ponto mais alto em todo o redor. A descida é igualmente
saborosa, também bastante técnica e praticamente vertical sem dar tréguas até
ao final.
Chegando à base, prosseguimos por um estradão com ligeiras
subidas e descidas até à aldeia Furadouro, onde se inicia a subida mais
acentuada e também esta, bem vertical, cerca de 200 metros a subir em 1500
metros de distância. A céu aberto e apesar do sol já um pouco forte, o ritmo é
constante, sobre pedras soltas, que com mínimo de descuido por vezes faz com
que o pé escorregue soltando algumas pedras para trás.
Com 10 quilómetros chegamos à Capela da Senhora do Circulo,
para mais uma descida, não tão técnica como a primeira, e ligeiramente menos
vertical. Fui abusando nas decidas, mas estava a sentir-me bem. Chegando à
aldeia de Casmilo onde se fazia um pequeno arraial estava o primeiro
abastecimento. Nem vale a pena falar deles, pois são impecáveis, um autêntico
banquete. Contudo e com receio da má disposição que vinha a dar novos sinais de
resistência a alguns quilómetros, tentei não arriscar muito naquilo que ia
comendo e bebendo. Teria que gerir da melhor forma e sem estragar tudo, sabia
que me podia condicionar, mas era a única maneira de chegar ao fim, pois se a
coisa corresse mal poderia ter que parar em qualquer lado e terminar a minha
prova ali.
Trilho das Buracas |
Sem grandes novidades até ali no percurso, eis que logo após
o abastecimento surge a primeira novidade num trilho novo que adorei. Num
caminho estreito em terra batida com curtas, mas verticais descidas e algumas
pedras à mistura, fomos avançando até a um dos trilhos que mais gosto, Trilho
das Buracas. Num bosque bem mais denso, onde as árvores faziam do género de um
túnel, serpenteamos aquela encosta até às Buracas de Casmilo, onde se consegue
ver enormes buracos nas rochosas encostas. A coisa até estava a correr bem, e o
desgaste era mínimo até ali, contudo ainda faltava bastante até ao final. Até à
Serra de Janeanes o calor apertou um pouco mais, e a indisposição voltou, com
novo abastecimento voltei a não arriscar e pouca coisa fui ingerindo e mais
tarde iria sofrer, aliás já estava consciente disso. A saída de Janeanes era em
caminhos romanos, que nos levava a um longo estradão até à aldeia de Poço, onde
se encontrava o último abastecimento antes do final.
Siga em direcção ao trilho da cascata |
A indisposição era forte nesta altura, e estava com algumas
quebras, o pior estava para vir e estava com receio. Limito-me ao básico do
abastecimento, e preocupo-me apenas com encher as garrafas de água para evitar
desidratar. Prossegue-se então para o trilho da cascata.
O mais bonito, mas o mais difícil. Tem algumas
características semelhante ao das buracas, só que desta vez com muito sobe e
desce repentino mesmo a forçar aqueles músculos das pernas que nem sabíamos que
existiam. Achei curioso este segmento que no ano passado fiz praticamente
sozinho, e desta vez era uma fila de atletas que me precediam e seguiam entre
aquele bosque denso, apenas com um caminho entre o arvoredo. O caudal do rio
mantinha-se igual à anterior edição, sem água, apenas com as grandes rochas do
fundo verdes que jogam muito bem com toda aquela natureza envolvente. Se
tínhamos tempo para apreciar estas paisagens, repentinamente teríamos que
desligar, e ter em atenção onde colocávamos os pés. E não era para menos,
subidas ingremes que apenas algumas árvores ou cordas que ali estavam ajudavam
na progressão para subir, pé ante pé lá seguimos. O mesmo se passou nas
descidas, que em certas alturas o saltar era mais fácil do que descer agarrado
alguma coisa.
Rio seco |
Trilho da Cascata |
Já no final deste lindo trilho, surge a imponente escalada.
Uma parede autêntica com algumas escadas à mistura onde a progressão era feita em
corrida lenta e já com muito custo. Com algum incentivo de um elemento da
organização que nos ia proporcionando momentos de gargalhada chegamos ao topo
voltando a percorrer o estradão onde inicialmente teríamos passado seguindo
novamente até às ruinas de Conímbriga.
A partir daqui foi tentar gerir para chegar minimamente em
condições ao final sem caibras.
Retirei cerca de 20 minutos ao ano anterior, o que se
reflete na evolução e treinos que fiz, contudo, o mau estar implicou bastante
no desenrolar condicionando em alguns momentos que podia ter feito melhor para
chegar ao final sem grandes quebras.
A organização esteve impecável como sempre, elementos dos
abastecimentos também bastante atenciosos, pelo menos comigo. Contudo como nem
tudo corre pelo melhor ouvi vários atletas a queixarem-se do contrário,
inclusive a atribuição de prémios no final das provas, acabou por existir
várias falhas com prémios mal entregues, também existindo culpa por parte de
vários participantes que optaram por cortar caminho.
Sinceramente não entendo estes, que se vangloriam por um
feito que não o fizeram, mas eles lá sabem.
A má disposição por fim terminou, e estava pronto para mais
uns 25 quilómetros, mas optei antes pelo prato.
João! Já te tinha visto a comentar no meu blog várias vezes, mas nunca me tinha lembrado de ir ver o teu perfil. Por incrivel que pareça, só hoje descobri o teu blog! Gostei muito deste teu relato e de outros anteriores que fui ver. Vou seguir!
ResponderEliminarObrigado Filipe!
EliminarÉs bem vindo ;)