sexta-feira, 21 de junho de 2019

Maratona da Europa - Um brilharete


Foi uma surpresa agradável. Logo que soube que iria haver uma terceira maratona em Portugal, perto de casa, e com meses de separação em relação às restantes (Lisboa e Porto), não olhei para trás.
Era Aveiro a cidade escolhida, local conhecido por ser relativamente plano, em contrapartida, algo ventoso. Fosse como fosse, queria lá estar às 08.30h no final do mês de Abril.
A tarde de Sábado, foi para ir calmamente levantar os dorsais, e tentar apreciar alguma coisa do evento, como a feira da Maratona. Feira essa que escapava aos mais desatentos. O que não me escapou foi a forte ventania que estava naquela tarde. Vento forte e frio, valia o sol para aquecer um pouco, enquanto imaginava o sufoco que ia ser o dia seguinte se assim se mantivesse.
Créditos: Organização
Créditos na foto
Manhã de Domingo, e nada me incomodava, não estava com aquele nervoso miudinho de uma maratona, nem pensava muito nisso, parecia que iria só ali ao lado correr uma distância curta e já vinha. No entanto a minha ideia, e tendo em conta a minha (má) preparação, apontava para as 03.30h, mais coisa menos coisa, e como eu estava enganado.
A chegada a Aveiro, surpreendeu-me logo por dois motivos, o primeiro pelo tempo. Não havia ponta de vento, e o céu era coberto pelo nevoeiro cerrado, sem ser possível ver um raio de sol. O segundo motivo, era o evento em si, era uma partida/meta vistosa.

O evento juntava outras distâncias, e é nisto que culpo um pouco a organização, em juntar todos para arrancar à mesma hora, era algo confuso, para além das estreitas estradas logo de inicio que dificultavam a progressão.
Aguardava pela hora, eu e o Fábio, enquanto conversávamos íamos deixar rolar a ver no que dava. Sabia que aquilo era aquela habitual conversa pré partida, que quando estivéssemos no terreno a coisa era diferente.
Não demorou muito a comprovar isso, tiro de partida, e saímos ainda algo contidos, mas sempre com ultrapassagens devido à confusão. Mal o Fábio vê algum espaço para poder progredir, e isto ainda com sensivelmente 1,5km, avança, ainda me coloquei atrás dele, mas pensei para com os meus botões, “deixa-te ir aqui, que vais bem, e já vais a abusar”. Seria uma luta minha, sozinho e sem objectivos, apenas deixa andar. No entanto sabia que para aquelas 03:30h, teria que andar num ritmo próximo de 5 min/km, o que ia a fazer, era uns 4:20 min/km, e quando se metia descidas pelo meio, abusava um pouco.
 
Créditos na foto
Circundava Aveiro, junto à ria, depois mercado do peixe, algumas ruelas, e então a Avenida que nos levava aos primeiros 10KM. Ia-se vendo algum apoio pela rua, não tanto como era desejado, mas é compreensível por ser novidade na cidade.
Enquanto deixava Aveiro para trás, ia magicando como seria dali para a frente, o relógio apontava para um brilharete, mas estava reticente em relação a isso, não tinha treino para tal.
Foram cerca de 6 quilómetros uma zona industrial, e a separação da maratona da meia maratona, as estradas ficavam um pouco mais vazias, e após alguns quilómetros com “companhia”, procurava alguém a quem me colar para não seguir sozinho.
Ainda arranjei alguém com quem segui durante uns metros, mas rapidamente fiquei sozinho, continuava sempre no mesmo rimo, e sem sinal sequer de fraquejar, ou mínimo de cansaço físico. Seguimos até Gafanha da Nazaré, onde já encontrava mais companhia, as ruas começavam a ser preenchidas, ou mesmo nas janelas de casas, havia sempre alguém que aplaudisse, provavelmente a parte mais divertida. Chegava aos 21KM, e enquanto olhava para o relógio, via que acabava de fazer o meu segundo melhor tempo na distância, e sem sinais de quebras.

Juntava-me a outro atleta durante alguns quilómetros, enquanto metíamos conversa para nos distrair com o passar dos quilómetros.
Com 25 quilómetros, entro na Barra, local bastante conhecido por ser bastante ventoso, algo que me preocupava, mas nada, apenas pequenas brisas que só ajudavam a arrefecer o corpo.
Enquanto contornava a Barra, acabava uma vez mais por ficar sozinho, desisti de procurar companhia, e seria altura de seguir à minha vontade, e testar-me.
O relógio acusava os 30 quilómetros já percorridos, enquanto pensava nos míticos muros, mas ao mesmo tempo continuava a sentir em perfeitas condições. Foi ali que comecei a delinear o desfecho da prova, ia tentar um brilharete.

Eram longas rectas que me levavam até Aveiro, valia a zona habitada e os locais, espaçados em alguns grupos para dar mais algum animo. O sol começava a espreitar, todas as sombras que visse, eram o meu local de passagem.
Agradecia em jeito também de despedida a todos que me saudavam, enquanto seguia para o segmento mais me massacrou.
O sol já se conseguiu descobrir de todo aquele manto cinza, não que seja muito forte, mas aquecia o suficiente para me derrotar um pouco, e naquele descampado, numa longa recta, não facilitava em nada. Foi um pouco doloroso chegar a Aveiro, sob o sol, mas ali chegado as sombras ajudavam, e já faltava pouco. Estava curioso para ver aquela meta agora com 42 quilómetros nas pernas, mas ainda faltava uns longos 4 quilómetros.

Créditos: Organização
Começava a fazer contas de cabeça, a ver quanto tempo demorava a terminar aquilo, mas só me massacrava mais o psicológico. “Para, para de pensar nisso, e corre” – Pensava eu, enquanto percorria a universidade, mais algumas rectas, mas que valiam pela sombra, e ali sozinho sem ninguém atrás nem à frente, forçava o ritmo até ali feito.
O calor estava a afectar, e precisava de água para beber e refrescar. Ali estava, faltavam 2 quilómetros para o final, e estou no centro de Aveiro.
Era o culminar de tanta solidão ao longo de vários quilómetros. As pessoas na rua, aplaudiam e constatavam o que já sabia, que faltava pouco, mas quando ouço que faltava somente aquela subida, e depois era sempre a descer, foi como me dessem umas pernas novas. Podia não ser bem assim, mas naquele momento acreditei em todas as palavras que me tinham dito, e desatei a correr, forcei um pouco mais e estava mesmo no alto, parecia que tinha conquistado uma montanha.

Faltava atravessar a ponte, e depois era só descer, tal como me tinham dito.
Alegra-me ver a descida, mas ao mesmo tempo os músculos apertam, ignoro, levanto a cabeça e sigo em frente. A uns 200 metros parece-me ver o Fábio, mas não podia ser. Ele ia bem à minha frente, e provavelmente já teria terminado. A menos que alguma coisa tivesse corrido mal.
Aos poucos vou ganhando terreno, e era mesmo ele. Algo deve ter acontecido, para ele estar ali, alguma quebra o fez atrasar. Acelero um pouco mais para ver se conseguia terminar com ele, e dar-lhe força naqueles metros finais. Fim da ponte, e os quadríceps apertam de tal forma, que parece que vai dar cãibra. Não agora, não ali, uma vez mais ignoro, e tento ganhar mais alguns metros. Começa a cheirar a meta, surgem mais apoiantes, mais gente a aplaudir, e um enorme corredor humano que nos leva até ao final.
Apanho o Fábio, coloco a mão nas costas e chamo-o “vamos lá, até ao fim”, era uma meta cheia, cheia de gente, e cheia de boa disposição.
Foi um brilharete em todos os sentidos. Uma organização que para uma primeira edição esteve bem acima do razoável, obviamente existem coisas a melhorar, mas a estrutura de base é esta, e pareceu bastante sólida.
O brilharete maior para mim, foi a nível pessoal, que consegui atingir um tempo que jamais pensaria lá chegar se não treinasse para tal. Retirar 30 minutos ao tempo final é muita coisa, fiquei quase perto das sub 3 horas, mas as 03:05h de prova, já me satisfez por completo.

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