quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Mamoa River Trail - Sabor agridoce


Quase de faca nos dentes, não literalmente, nem tão de perto o que se entende quando se cita uma expressão como esta. Basicamente queria deixar tudo de mim ali, dar o que conseguia, mesmo sabendo que apesar de ter capacidades para terminar, não tinha a velocidade que realmente queria. É a estreia de uma prova que percorre caminhos semelhantes ao Trail Medieval, mas que continha 1200 D+ em 25 KM. Tendo em conta que não é uma zona com serras de grande elevação, só conseguia imaginar um trajecto em forma de carrossel, com subidas e descidas repentinas, curtas e inclinadas.

A manhã era fresca, aliado ao facto de estarmos junto ao rio, o calor era completamente inexistente, e apenas uma breve corrida me fez ganhar algum calor para não arrancar frio, e abafar em pouco tempo.
Aproximava-se a hora, e uns 80 a 90 atletas colocavam-se atrás do pórtico aguardando o tiro de partida, para de seguida dar uma pequena volta pela praia fluvial de Mâmoa.
Não percebi bem o que queriam com aquela volta ali, provavelmente um pequeno aquecimento para o pessoal todo, uma forma de dispersar a malta, não sei…
Mas acredito que tenha sido esta última, por entrarmos logo num trilho um pouco mais apertado.
Trilho maiormente em terra e pedra cravada à superfície, fácil de correr e de rápida progressão, atravessa rio aqui e ali sob pedras e vou progredindo sem problemas.


Méééé - Créditos na foto

Os trilhos iam-se moldando, mas na sua grande maioria feitos por single tracks, o que adoro, diga-se de passagem, mas que dificultam por vezes a progressão por serem irregulares, ou alguém ir mais lento e não haver chance para passagens sem por em perigo alguém.
No entanto não era o meu caso, ia bem disperso, e chegado à primeira subida ia na frente de um pequeno grupo de 3 atletas, sendo perseguidos uns metros atrás por um outro de 4 ou 5 elementos.
Foram aproximadamente 200 D+ em pouco mais que 2 KM, existindo por vezes 30% de inclinação, que obrigava a uma maior amplitude de movimentos.
Uma vez no cimo, a descida não tardava, e estava a comprovar-se a minha teoria, subidas e descidas rápidas e curtas.

Descida até ao primeiro abastecimento, com pouco mais de 5 KM, achei demasiado cedo, e apenas agarrei num pedaço ou outro de comida e arranquei.
Voltei a tentar recuperar o lugar onde até ali vim, e voltava à subida, desta vez não tanto agressiva, ligeiramente mais rolante pelo largo estradão.
Até ali estava tudo a correr na perfeição, apertava bem na subida, e quando não conseguia colocava uma caminhada mais forte, e descidas eram feitas mais rápidas que o normal.
Felizmente e apesar do temporal dos últimos dias, o terreno não esteve escorregadio como pensava, mas ia com alguma cautela. A única coisa que me estava a falhar, eram as marcações, não que estivesse mal fitado, mas por não haver reforço de fitas em cruzamentos, ou desvios do caminho, tendo enganado por diversas vezes, ainda que em poucos metros, mas que obrigava a parar e procurar.


Vale Correr

Nesta altura já havíamos deixado para trás um dos elementos do grupo, ficando eu também pouco depois. Numa das decidas acabei por perder o contacto e já seguia sozinho, mas ainda que perseguido por mais 4 ou 5 elementos. Não parava, e mantive sempre corrida forte o quanto possível sem implicar um desgaste completo.
Obviamente acabaria por ser ultrapassado, a gasolina estava a entrar na reserva, e não estava a alimentar como deveria, e com aproximadamente 12 KM, fico à minha mercê vendo os restantes a distanciar-se.
Pareceu-me ter afectado aquele momento, parece que tinha quebrado, e só estava à espera de rebentar, não estava com grande motivação, mas ao mesmo tempo ainda continuava a lutar. Ainda faltava muito para terminar, e a prova disso era ainda ir apanhando alguns pelo caminho, mas sem sinal de vista do grupo em que seguia.
O segundo abastecimento era junto à capela de São Marcos, o que significava subir uma colina em terra, com rochedo cravado para dificultar a progressão.
Foi o abastecimento que demorei mais tempo de toda a prova, ainda que por uns breves 1 a 2 minutos.
Metia-se de imediato mais uma descida onde me enganei uma vez mais por não conseguir ver as fitas, e tive que avançar uma pequena vegetação para chegar ao caminho certo.
Estou mais moralizado, e volto a acelerar a passada, as subidas que vão surgindo já se fazem com mais facilidade novamente, as descidas também igualmente mais solto.


É para subir sim. Créditos na foto

Pensava que o pior já estava feito, mas ainda restava algumas subidas, e esta primeira que nos levava ao ponto mais alto da prova, começava com um suave zigue-zague. A coisa é minimizada, com um sobe e desce ligeiro ali pelo meio, como a falsa fé, até nos presentearem com mais uma subida, só que agora a direito, por entre árvores pedras, sem caminho. Não que fosse demasiado inclinada e/ou longa, mas dado massacre que levava de trás já sentia um inchaço junto aos joelhos.
Foram uns míseros 150 metros ganhos, em quase 1 quilómetro, e quando pretendia e queria descansar o quer que fosse, não dava, a descida estava logo ali, inclinada, mas pelo menos rolante, e de forma a que conseguia recuperar algum tempo perdido. Passava algum pessoal da prova de 15 KM, e isso acabaria inevitavelmente por tornar-se um objectivo. Não menosprezando ninguém, mas aquilo estava a tornar-se claramente uma motivação para mim, não ganhando nada com aquilo, mas era uma forma de me animar.


Créditos na foto

Era de facto nas descidas onde estava a conseguir encaixar-me, eram perfeitas para rolar, e conquistavam-me, um trilho bem aberto e com desvios constantes, às vezes somente em carreiros, outras já com o apoio das mãos em árvores, divertia-me, e aliviava a pressão que tinha nos músculos.
Restavam mais 3 típicas subidas e respectivas descidas, não tão longas como as outras era certo, mas inclinadas q.b. para rebentar os músculos por completo. Senti cada pontada dos músculos, e o efeito “bola” que estava a criar uns milímetros acima do joelho, sendo apenas aliviado quando deixava as pernas mais soltas quando descia ou conseguia correr normalmente.
Faltava pouco mais que 2 quilómetros para o final, e já não queria saber da constante pressão dos quadríceps, só queria correr, e o trilho das minas foram uma sobremesa tipo gourmet, deliciosa, mas pequena demais. Um trilho escondido no grande arvoredo, composto de folhas castanhas, e encostas verdes, uma delicia que deveria ser mais duradoura.
Restava apenas mais um single track paralelo ao rio para chegar à praia fluvial, e ali estava ela.

Tive que gerir a prova mais cedo do que previa, e isso levou-me à 22ª posição de uma prova com um inicio agridoce.
Foi uma primeira edição, mas penso que existe malta na organização com conhecimento necessário para perceber que é preciso mais para agarrar os atletas.
Foi provavelmente das provas em que usufrui menos do abastecimento, mas o suficiente para perceber que eram básicos demais, mesmo para uma distância de 25KM. As marcações, foram o que relatei acima, sendo boas, mas com falta de reforço em alguns pontos mais importantes. O percurso em si, está bem desenhado, mas acredito que consigam acrescentar ou alterar alguma coisa para o melhorar. Isto é apenas a minha opinião, baseada naquilo que experienciei.

2 comentários:

  1. Esta é uma prova que estou a ponderar experimentar este ano (embora 11 € logo na 1ª fase não é muito barato). Os trails no Inverno são sempre mais complicados pelo frio, pela lama e pessoalmente tenho algum receio de escorregar e magoar-me.
    Vamos ver se haverá o Trail Rosa do Adro e quando vai ser. Esse terá prioridade este ano sobre este :)

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    1. Acabou por ser na altura do Inverno por ter sido adiada a primeira data anunciada, que era para o mês de Junho.
      Este ano, a 2ª edição já foi anunciada para Junho. Caso não seja adiada, não terás frio, e pelo menos não tanta lama.

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